Mercado prevê preços mais altos para o grão
Quando a safra 2009/10 chegar ao mercado, no final de fevereiro, haverá um estoque remanescente de apenas 983 mil toneladas, segundo estimativa da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), suficiente para um mês de consumo, e que estará concentrado em poder do governo.
Analistas acreditam que em 2010 os preços médios do arroz serão superiores aos de 2009 no mercado interno. Estoque doméstico apertado, provável quebra de rendimento no Rio Grande do Sul e problemas de safra na Ásia justificam a tendência. Quando a safra 2009/10 chegar ao mercado, no final de fevereiro, haverá um estoque remanescente de apenas 983 mil toneladas, segundo estimativa da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), suficiente para um mês de consumo, e que estará concentrado em poder do governo.
Ao final da safra atual, a Conab espera um estoque de não mais de 664 mil toneladas. Em 2009, a cotação média da saca de 50 quilos ficou em R$ 28,05, conforme o índice Cepea/Esalq/BM&FBovespa no Rio Grande do Sul, principal balizador do preço. O valor contrasta com os R$ 31,04 de média em 2008, ano em que o mercado internacional puxou as cotações para um pico de US$ 1,1 mil por tonelada.
Também diferente do que ocorreu em 2009, em 2008 o governo precisou vender estoques em plena safra para segurar a alta de preços. A entrada da safra gaúcha, que normalmente já está disponível em meados de fevereiro, deve ser prolongada até o final do mês, porque o plantio foi realizado com atraso no Rio Grande do Sul. Quando o volume disponível aumentar, naturalmente as cotações terão recuo, mas o começo da safra deve ocorrer com cotações mais altas, estima o diretor do departamento de arroz da corretora Novel, Júlio Tonidandel. Em dezembro, as cotações subiram no Brasil e no mercado internacional.
Embora começassem a surgir preocupações com a eventual repetição do cenário de 2008 em 2010, os analistas descartam, por enquanto, uma elevação no mesmo patamar. Entre 11 de novembro e 9 de dezembro, o arroz da Tailândia subiu 25%, para US$ 640/tonelada (FOB). A reação foi estimulada por uma política de compra das Filipinas, na tentativa de fechar contratos de importação em pouco tempo com Vietnã e Tailândia, explica o pesquisador do Cirad (centro de pesquisas francês) Patricio Méndez del Villar.
A atitude chegou a pressionar a inflação no Vietnã, comenta o pesquisador, em entrevista por e-mail, exigindo que o governo acalmasse o mercado com o anúncio de que tem estoques suficientes. Isso provocou reflexos também nos preços nas Américas e no oeste da África, embora estas regiões não tenham problemas de oferta, assinala Del Villar.
Alguns fatores não coincidem com os de 2008 para elevar os preços ao mesmo patamar. Naquele ano, os maiores exportadores asiáticos limitaram as vendas externas, lembra Del Villar. Em 2010, somente a Índia deve impor restrições à exportação de arroz. Os demais (Tailândia, Vietnã, Paquistão e China) devem aumentar embarques. O comércio mundial de arroz é pequeno – aproximadamente 30 milhões de toneladas -, relativamente ao volume produzido, e altamente concentrado, o que aumenta o poder individual de seus participantes.
O Brasil consolidou uma posição recente como exportador, aproveitando a proximidade com a África para estabelecer um fluxo regular com o continente, um dos principais importadores. O câmbio será novamente um fator problemático aos exportadores se a cotação do dólar cair ainda mais. Com uma cotação interna de R$ 30/saca e dólar em R$ 1,70 a R$ 1,75, a exportação é viável, calcula o diretor da Unidade de Negócio Arroz da Cooplantio (Cooperativa dos Produtores de Plantio Direto), Camilo Oliveira, que antes do Natal fechou o embarque de 500 toneladas para a Espanha. De março a outubro, o Brasil exportou 720 mil toneladas, 20% a mais que no mesmo período de 2008.
Outra condição que difere 2010 de 2008 é o momento econômico, compara Oliveira. O mundo estará se recuperando de uma crise, em vez de mergulhar nela apenas no último trimestre do ano, como foi em 2008. Del Villar também não acredita em preços semelhantes aos de 2008, a não ser que outros países adotem políticas de importação como a das Filipinas. Os problemas repetidos de clima na Ásia em 2009 devem causar perdas principalmente para a Índia e Filipinas. Mesmo assim, pode ser que a Índia não precise importar arroz.
No Brasil, o indicador mais recente da safra nacional, divulgado ontem pela Conab, prevê colheita de 12,030 milhões de toneladas, 4,5% abaixo do produzido em 2008/09. O consumo está estimado em 12,850 milhões de toneladas. Com importações de 1 milhão de t e o estoque inicial de 983 mil t, o suprimento total deve ser de 14 milhões de t no ciclo 2009/10. O órgão espera exportações de 500 mil t na próxima safra. “Deve haver um aperto na oferta este ano”, aponta a coordenadora técnica do indicador de arroz no Cepea, Sílvia Miranda. Com isso, a conjuntura sinaliza um preço mais sustentado ao produtor, complementa a pesquisadora.