Mercado urgente

Projeções do agronegócio do arroz brasileiro preveem sobra de 3,5 milhões de toneladas até 2020.

Na próxima década a produção de arroz do Brasil deverá crescer ao ponto de alcançar 17,1 milhões de toneladas, segundo o estudo Projeções do Agronegócio do Arroz Brasileiro, elaborado pelos socioeconomistas da Embrapa Arroz e Feijão de Santo Antônio do Goiás (GO). Segundo o socioeconomista Carlos Magri Ferreira, do Centro Nacional de Pesquisa em Arroz e Feijão (Cnpaf/Embrapa), o estudo buscou projetar um cenário de produção e consumo para a orizicultura na próxima década.
Magri explica que, para tanto, foi necessário projetar o crescimento demográfico, estimar o consumo per capita e calcular a oferta da produção de arroz no país. “Para efeito de cálculo, foi considerado que nos próximos 10 anos o consumo per capita de arroz em casca no Brasil será de 67 quilos ao ano, o que permitiu chegar a uma projeção de demanda de 12,1 milhões de toneladas em 2010, crescendo para 13,6 milhões de toneladas em 2020”, explica o pesquisador.
Já a estimativa da produção de arroz no Brasil no período de 2010 a 2020 foi feita considerando taxas de crescimento da área de 1,36% ao ano e da produtividade de 2,58%, também ao ano, no Rio Grande do Sul. Para os demais estados produtores do Brasil, exceto Santa Catarina, cuja produção foi considerada estável, em torno de 1 milhão de toneladas, foi considerada taxa negativa de crescimento da área de 3,34% e da produtividade de 2,58%, ambas ao ano. “Chegou-se a esses números por meio de análises das séries históricas de dados do Ipea e do IBGE”, revela Carlos Magri Ferreira.


EXCEDENTE
O socioeconomista da Embrapa Arroz e Feijão destaca que o resultado obtido foi de uma oferta de 13,1 milhões de toneladas de arroz em casca em 2010, aumentando para 17,1 milhões de toneladas em 2020. Com estas suposições, projetou-se um cenário com excedente de arroz no Brasil. Ou seja, nos próximos 10 anos obtém-se um balanço superavitário sempre crescente, variando de 450 mil toneladas (3,4% do total produzido) a 2,9 milhões de toneladas (17,1% do total produzido).

 


FIQUE DE OLHO

Carlos Magri Ferreira ressalta que a opção pela exportação exigirá esforços adicionais aos feitos pela rizicultura nacional. Por exemplo, citam-se pesquisas de mercado com maior potencial para absorver o arroz brasileiro e a identificação de nichos de mercado promitentes em termos de demanda, mas que o tipo de grão produzido não atende ainda à qualidade exigida. Neste último caso, deve haver um direcionamento por parte dos programas de melhoramento para atendê-los satisfatoriamente. “Além disso, uma outra questão essencial é a organização de produtores exportadores”, cita o analista e assessor da área de Comunicação e Negócios da Embrapa Arroz e Feijão em Santo Antônio de Goiás (GO).

 

 

Três caminhos para o arroz
Diante do cenário de excedentes crescentes na produção de arroz no Brasil, três são as alternativas que a rizicultura nacional possui, no entendimento do socioeconomista da Embrapa Arroz e Feijão Carlos Magri Ferreira: diminuir o ritmo de evolução da produção, estimular o consumo ou exportar o excedente. “A opção de restringir a produção não é interessante, pois irá gerar impactos negativos no aspecto econômico principalmente para as indústrias, que ficarão ociosas”, revela o especialista.

Já a alternativa Magri: precisa exportarde aumentar o consumo pode ser feita pensando-se no produto in natura ou pela industrialização de derivados. O primeiro caso, aumento do consumo per capita do arroz polido, é pouco provável de acontecer devido às características nutricionais do cereal e da maior oferta de opções de produtos alimentícios mais convenientes ao padrão de vida das populações. “Além disso, há de se ressaltar que o consumo in natura brasileiro é um dos mais altos no mundo, embora, historicamente, o país esteja passando por uma tendência de declínio”, considera Magri Ferreira.

Para o segundo caso, a industrialização de derivados, o especialista acredita tratar-se de uma alternativa promissora, mas de aplicabilidade lenta, pois exige pesquisas para descobrir formas e ajustes de utilização – que certamente irão exigir cultivares com qualidades físicas e químicas distintas das existentes. Isso irá requerer um esforço adicional dos programas de melhoramento, com resultados a médio e longo prazo.
“Contudo, o aumento do consumo via industrialização e utilização de derivados e subprodutos não deve ser desprezado, tanto para aumentar as opções como para agregar valor à cadeia produtiva”, diz.

EXPORTAÇÃO
Por fim, a opção por exportar os excedentes é a que se apresenta com possibilidade de dar melhor resposta a curto prazo, segundo Carlos Magri Ferreira. Neste aspecto, observa-se que a quantidade excedente de 450 mil toneladas em 2010 (o que não foi confirmado pela quebra de safra) não atemoriza, visto que o Brasil, no período de 2005 a 2008, exportou, respectivamente, 452,3 mil toneladas, 313,1 mil toneladas e 789,9 mil toneladas, segundo dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).

“Além disso, certos estudos consideram que a quantidade exportada no início da série projetada (3,4%) é semelhante ao que é transacionado no mercado internacional em relação à produção mundial de arroz, isto é, 5%”, diz Magri Ferreira. O aumento das exportações é compatível com o percentual de países exportadores, pois o Brasil exportaria em 2020 o equivalente a 17,1% do total produzido, visto que a Tailândia, Vietnã, Índia, EUA, Paquistão e China exportam, respectivamente, 31%, 16%, 15%, 13%, 8% e 5%. “Ademais, há autores que avaliam a oportunidade do momento à exportação, pois a crise mundial de 2008 mostrou que a estabilidade do mercado de arroz depende do restabelecimento e da construção de novas relações entre países importadores e exportadores”, frisa.

 

 

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