MST lucra com venda de arroz para americanos
O primeiro carregamento, de 40 toneladas, foi despachado para Chicago, Illinois, onde funciona uma central de distribuição dos chamados orgânicos.
O socialismo do Movimento dos Sem-Terra (MST) acaba de ganhar um empurrão do capitalismo americano. Pequenos grupos de assentados da reforma agrária no Rio Grande do Sul, que trabalham a terra de forma coletiva, estão começando a exportar arroz ecológico para os Estados Unidos.
O primeiro carregamento, de 40 toneladas, foi despachado para Chicago, Illinois, onde funciona uma central de distribuição dos chamados orgânicos. De lá, o arroz é redistribuído para supermercados, que registram um crescimento acelerado na venda de alimentos produzidos com respeito ambiental.
O arroz dos assentados gaúchos sai dos banhados ao redor de Porto Alegre sem nenhum agrotóxico.
– O controle das pragas é feito com o manejo da água nos quadros de arroz e a adubação é totalmente orgânica – explica Carlos Alberto de Souza, de 38 anos, diretor da Cooperativa de Produtos Agropecuários de Nova Santa Rita.
A produtividade é menor que nas plantações com herbicidas e adubos químicos: enquanto os sem-terra obtêm a média de 85 sacas por hectare, os vizinhos chegam a 120 sacas. Mas, segundo Souza, vale a pena:
– Não despejamos produtos químicos nos rios, preservamos a saúde dos agricultores, que não ficam expostos aos venenos, e os custos são menores.
Numa área experimental, os sem-terra também cultivam o arroz com a ajuda de carpas. Soltos nos quadros com água , os peixes comem as ervas daninhas e revolvem a terra.
– Elas fazem o trabalho de máquinas – explica Souza.
A cooperativa funciona no Assentamento Capela. Em 1993, quando ele foi criado, 70 das 100 famílias levadas para lá optaram por cultivar a terra de modo individual. Outras 30, estimuladas pelo MST, optaram pela propriedade coletiva da terra e criaram a cooperativa.
Experiências semelhantes ocorreram em outros cinco assentamentos na região metropolitana de Porto Alegre. São quase 130 famílias que uniram forças para obter escala na produção de arroz. Na safra atual, elas totalizaram 55 toneladas.
Até agora os assentados vendiam para o governo, que utiliza o arroz na merenda escolar, restaurantes e no Mercado Municipal de Porto Alegre. A venda para os EUA foi articulada por uma exportadora especializada em orgânicos.
O carregamento saiu do assentamento de Tapes, que foi visitado pelo presidente venezuelano, Hugo Chávez, em 2005. Na ocasião, ele atacou os EUA, dizendo que já nasceram com “ânsia imperialista”. Os sem-terra fizeram uma encenação, na qual o Tio Sam sufocava pequenos agricultores.