Muito além da rotação de culturas

 Muito além da  rotação de culturas

Cultura da soja já alcança 350 hectares nas terras baixas

A rotação de culturas associada à pecuária bovina na mesma área
é o primeiro passo
para a integração
.

A equação parece simples: no verão planta-se arroz, soja ou milho. No inverno, os bovinos alimentam-se de forrageiras e pastagens. Entretanto, o conceito de integração lavoura-pecuária (ILP) apresenta-se de forma mais complexa, como avalia o professor da Ufrgs Paulo César de Faccio Carvalho. “Se fosse somente isso, muita gente poderia dizer que faz integração. Mas integração é muito mais que isso. Muito mais que rotações de cultivos de grãos com pastagens. Integração significa construir o sistema de produção na busca de sinergismos entre os cultivos. Significa operar em longo prazo conhecendo as implicações de cada combinação possível, e são muitas! Neste contexto, pouquíssimos produtores fazem integração, embora muitos promovam rotação de culturas incluindo pastagens”, observa.

SOJA

O cultivo da soja em rotação com o arroz passou a constituir uma alternativa tanto de renda, frente à grande oscilação dos preços do arroz, como de controle das plantas daninhas, pelo fato de utilizar outros princípios ativos. Programas de melhoramento e de manejo da soja em terras baixas vêm sendo desenvolvidos pelo Irga e muitas áreas de arroz passaram a ser cultivadas com soja. O espaço ocupado pela oleaginosa em áreas tradicionais de cultivo de arroz aumentou quase 200% nos últimos cinco anos e já ultrapassa a marca de 700 mil hectares na safra 2014/15.

As perspectivas são de aumentos sucessivos de área pela disponibilização de cultivares mais tolerantes ao excesso hídrico e pelo uso de microcamalhões (para drenagem, no estabelecimento, e para irrigação por sulco, em situações de déficit hídrico), sendo estimulados pelos preços favoráveis da soja no mercado internacional.

No contexto atual, o cultivo da soja em áreas de arroz no sistema de rotação deverá se constituir no principal agente de mudança e a porta de entrada para a adoção de sistemas integrados de produção, já que o agricultor mostra maior aceitação inicial a um segundo cultivo de grãos, arte em que já possui certa “expertise”, em relação à inserção de uma atividade aparentemente mais complexa de gerenciar, como a “lavoura de carne ou leite”. O estabelecimento de forrageiras de inverno na várzea é geralmente facilitado em áreas pós-soja, na comparação com áreas pós-arroz. Este fator pode constituir outro facilitador para a adoção da integração.

Mesmo com as altas produtividades do arroz irrigado, esta cultura não produz resíduos suficientes para haver balanço positivo de C no solo, premissa básica para a melhoria de sua fertilidade. Para garantir a sustentabilidade do sistema produtivo de arroz deve-se buscar a integração de uma produção agrícola diversificada (arroz, soja e milho) com uma pecuária que inclua períodos curtos (um ciclo) e longos (dois ou mais ciclos) de pastejo com uso de gramíneas e leguminosas. Somente desta forma pode-se conseguir estabilidade e rentabilidade do negócio, com menor risco e balanço positivo de C no solo, usufruindo de seus benefícios nos processos que regulam o equilíbrio no continuum solo-planta-atmosfera (sustentabilidade do sistema).

MILHO

Milho: próxima onda da diversificação

Pesquisas conduzidas pela Embrapa e pelo Irga ao longo dos últimos têm mostrado que a cultura do milho (Zea mays) se destaca no contexto da integração lavoura-pecuária (ILP) devido às inúmeras aplicações que esse cereal tem dentro da propriedade agrícola, quer seja na alimentação animal – na forma de grãos ou de forragem verde ou conservada (rolão, silagem), na alimentação humana ou na geração de receita mediante a comercialização da produção excedente.

Outro ponto importante são as vantagens comparativas do milho em relação a outros cereais ou fibras no que diz respeito ao seu consórcio com capim. Uma das vantagens é a competitividade no consórcio, visto que o porte alto das plantas de milho exerce, depois de estabelecidas, grande pressão de supressão sobre as demais espécies que crescem no mesmo local.

A cultura do milho também possibilita trabalhar com diferentes espaçamentos. Atualmente, a tendência é reduzir o espaçamento entre as fileiras do milho. Isso vai melhorar a utilização de luz, água e nutrientes e aumentar a capacidade de competição das plantas de milho. No consórcio com forrageiras, a redução de espaçamento tem, ainda, a vantagem de formar um pasto mais bem estabelecido (fechado) quando as sementes da forrageira são depositadas somente na linha de plantio do milho. A decisão pelo espaçamento do consórcio a ser estabelecido deve levar em conta a disponibilidade das máquinas, tanto para o plantio quanto para a colheita.

PECUÁRIA

Bovinocultura: velha parceira do arroz gaúcho

A pecuária, se adequadamente conduzida, produz inúmeros benefícios ao solo e às plantas. “Deste modo, as pastagens, principalmente as perenes, resultam em uma grande incorporação de carbono no solo, isto é, aumenta rapidamente a matéria orgânica do mesmo, além de proporcionar a quebra do ciclo de diferentes doenças, pragas e invasoras que afetam a produtividade e os custos das lavouras como as de arroz e soja”, diz o pesquisador da Embrapa Pecuária Sul, em Bagé, Danilo Menezes Sant’Anna.

Segundo ele, os sistemas com ILP permitem adubar o sistema e não somente as culturas isoladas. “Podemos colocar, por exemplo, todo o adubo que o arroz ou a soja necessita ao longo da fase de pastagem anterior a cada uma destas culturas, fazendo com que estes nutrientes, por um processo chamado de ‘ciclagem de nutrientes’, permaneçam no sistema e proporcionem uma maior produção de forragem, carne e/ou leite e palha para a lavoura subsequente”, pondera Sant’Anna.

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