Muito além dos limites gastronômicos
Com potencial energético
acima de 200 MW, Sul
investe em usinas
e usos da casca
.
O Brasil consagrou a propaganda de um esfregão de aço como um produto de 1001 utilidades. Então, não seria demais dizer que o arroz, base da alimentação do país, que dispõe de derivados, subprodutos e resíduos que servem de matéria-prima para produzir energia elétrica, pneus, polímeros, perfumaria, produtos de beleza, medicamentos, chip de computador, usos industriais diversos, impermeabilizantes e na construção civil, tem muito mais de 1001 utilidades, certo? E há quem aposte que no futuro o grão, que assustou as donas de casa com uma alta de até 15% nas gôndolas dos supermercados no primeiro semestre, será o subproduto da casca.
Com alto poder calorífico e regularidade térmica, 1 tonelada desta matéria-prima equivale à energia gerada por dois barris de petróleo. “Além de gerar significativa independência energética para o setor arrozeiro e uma solução para um resíduo que é abundante e está dentro da indústria, a casca dá lucro por ser uma fonte limpa de energia e habilitar as empresas a receberem créditos de carbono internacionais”, explica o engenheiro químico Gilberto Wageck Amato, assessor técnico do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga).
A sílica, residual das cinzas geradas pela casca carbonizada, foi amplamente pesquisada. Isso porque a casca gera muita cinza. Assim, passou a ser utilizada na produção de concretos de alto desempenho para obras industriais e marítimas, entre outras. Em 2015 a Pirelli instalou um processo para uso da sílica da casca de arroz na produção de pneus em Santa Catarina. Com isso, 23% de cada pneu tem como base matéria-prima renovável. “O aproveitamento da cinza é total. Não faltam opções”, explica o professor Luiz Prudêncio Júnior, da Universidade Federal de Santa Catarina, um entusiasta do processo. Claro que há fatores comerciais para serem avaliados, como a constância e os volumes de oferta e demanda, mas tecnologias para o uso já são inúmeras.
MAIS E MAIS
O maior empreendimento realizado em usinas de produção de energia elétrica a partir da casca de arroz, até o momento, é a Usina Termelétrica de São Borja, na Fronteira-Oeste do Rio Grande do Sul, com potência de 12.500 quilowatts. A unidade utiliza 100 mil toneladas de casca de arroz por ano e fornece toda a energia para a rede geral. Os recursos foram viabilizados pelo fundo alemão MPC Energia, que já vendeu a estrutura, mas trabalha na instalação de duas outras centrais no Rio Grande do Sul. A usina instalada em 2012 já é a segunda maior fonte de arrecadação de ICMS do município. A unidade tem capacidade de abastecer uma cidade com 150 mil habitantes.
Com o aperfeiçoamento das tecnologias utilizadas, a empresa anunciou em meados de 2015 a instalação de uma nova usina em Itaqui (RS), que também utilizará 100 mil toneladas por ano, mas produzirá 18 mil quilowatts, capaz de abastecer uma cidade de 180 mil habitantes. O investimento será de R$ 200 milhões e vai gerar 100 empregos diretos quando estiver funcionando a pleno. Essa unidade deve começar a ser construída no final do ano. Outro projeto deve ser instalado em Pelotas, na Zona Sul gaúcha, com a mesma potência e a mesma demanda de casca, até 2022.
Em fase de obras, deve ser inaugurada em 2017 a usina de São Sepé, com investimentos de R$ 45 milhões. A capacidade será de oito megawatts de potência, capaz de abastecer uma cidade com 25 mil habitantes, com o consumo de 75 mil toneladas de casca. O empreendimento será abastecido por 13 arrozeiras, cerealistas e cooperativas de 10 municípios da região central gaúcha cujos contratos já foram fechados.
COTAÇÕES DA CASCA
(Tonelada/crua ou moída)
Cidade/Estado R$
Santa Cruz do Rio Pardo (SP) 220,00
Porto Ferreira (SP) 250,00
Grande Recife (PE) 150,00
Uberaba (MG) 260,00
Sul Catarinense (SC) 190,00
Oeste Catarinense (SC) 175,00
Alegrete (RS) 180,00
Camaquã (RS) 140,00
Mostardas 120,00
São Gabriel (RS) 165,00
Uruguaiana(RS) 170,00
Fonte: www.planetaarroz.com.br – Julho 2016