Na história do arroz, o vermelho não sai de moda

 Na história do arroz, o vermelho não sai de moda

Evolução da produtividade média da cultura do arroz irrigado no RS. Adaptado de IRGA, 2019.

Keli Souza da Silva
Doutora em agronomia, pesquisadora em herbologia, editora do site WeedOut e professora na UNIDEAU.

O ano era 2000, e embora o temido bug do milênio não tenha se confirmado, temores bem mais palpáveis, preocupavam os produtores de arroz. A pane geral em sistemas e serviços não veio com a virada de 99 para 00, mas o arroz vermelho, que mais tarde passou a ser denominado como arroz daninho, já era figurinha carimbada nas lavouras arrozeiras do sul do Brasil, como reporta a primeira edição da Planeta Arroz, então um caderno especial sobre “O grão universal”.

Até quatro grãos por quilo de semente, essa era a tolerância da época para sementes fiscalizadas. Com uma densidade de 200 kg ha-1, aproximadamente 800 novas sementes de arroz daninho eram incorporadas ao solo a cada nova semeadura. Isso, sem contabilizar as produzidas in loco. Diante de tantos avanços nos últimos anos, uma das medidas mais significativas para o manejo de plantas daninhas na cultura, quem diria, foi um método legislativo de controle: normativas que estabeleceram padrões mais rígidos para qualidade das sementes.

Vinte anos se passaram, e a biotecnologia, apontada pela estreante edição como o futuro da lavoura de arroz, é presente, materializada em diversas ferramentas. Mas, a solução para a epidemia de grãos vermelhos, não veio exatamente da inserção de genes de bactérias resistentes a herbicidas. Uma mutação no DNA do próprio arroz consolidou-se como uma das tecnologias mais rápida e amplamente adotada pela lavoura arrozeira. O arroz ClearField® trouxe fôlego para o manejo, viabilizando o tão esperado controle seletivo de arroz daninho, além é claro, de popularizar o termo “mutagênico”.

A importância da problemática e o sucesso da tecnologia são ratificados pelos números: após a inserção da IRGA 422 CL na safra 2002/03, a produtividade, a muito estacionada nos 5,5 saltou para além dos 7 mil kg ha-1. Fruto apenas do controle de arroz vermelho? Não somente. Práticas como a adubação nitrogenada antes da irrigação, antecipação da inundação, sistemas de cultivo mínimo e de sementes pré-germinadas também merecem destaque e contribuem para o manejo de plantas daninhas. No entanto, apesar dos esforços, a rotação de culturas ainda é um gargalo para o ambiente de terras baixas. Além disso, saltamos de três para dez relatos de resistência a herbicidas associados à cultura, colocando capim-arroz e ciperáceas no páreo com o arroz daninho.

Mas, diante desse cenário, o que esperar do futuro do manejo de plantas daninhas em arroz irrigado?
Um movimento já existente, de retorno de velhos conhecidos em novas formulações e posicionamentos, intensificará o mercado de herbicidas. Em longo prazo, a aposta vem dos biológicos, de produtos inspirados em mecanismos de defesa das próprias plantas. A ciência dos dados facilitará, cada vez mais, a aplicação dos conhecimentos de biologia e ecologia de plantas daninhas, enquanto a internet, sem precedentes, terá seu papel no acesso à informação, na tomada de decisão e na automação do manejo. Aliás, protótipos de robôs “marrecos”, para o controle de arroz daninho já são bem populares. Mas, tudo tem um custo, palavrinha essa, que os orizicultores conhecem muito bem!

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