Nova batalha!

2015 é o ano que não terminou para muitos arrozeiros. E a luta continua contra o clima e os custos

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O ano de 2015 terminou ainda no primeiro semestre para muitos produtores de arroz do Rio Grande do Sul. E terminou mal. Isso porque, sem acesso ao crédito de comercialização no início do ano, foram obrigados a negociar a safra sob a pressão de oferta logo após a colheita, obtendo os piores preços praticados na temporada. Muitos não conseguiram pagar todas as dívidas, outros conseguiram rolar alguns débitos e ainda buscar enquadramento para o novo parcelamento do custeio, cujos vencimentos passaram de julho a outubro para de setembro a dezembro.

Ainda houve agricultores que, em função do comprometimento da renda, não tiveram acesso ao novo custeio, seja por falta de garantias exigidas ou por outras normas de acesso ao crédito oficial. Para alguns, a liberação emperrou também por falta de recursos na ponta. O que quebrou a expectativa de cotações mais altas no primeiro semestre de 2015 foi a não liberação de recursos para a comercialização da safra, sistema de amparo que boa parte dos arrozeiros gaúchos usa.

Com o recurso, os rizicultores conseguem carregar os estoques formados na safra até pelo menos julho. Sem isso, tiveram que buscar o mercado para garantir liquidez e quitar os débitos mais urgentes. A indústria comprou, mas a oferta foi maior do que a demanda e em alguns casos superou a capacidade de estocagem e de capital das empresas. Isso travou o mercado, gerou um movimento de grande oferta para uma demanda restrita.

Mas quem conseguiu segurar o arroz até setembro, pelo menos, seja pela comercialização de soja e boi no primeiro semestre – modelo que ganha impulso no estado – ou mesmo pelo fracionamento das vendas, vem superando os custos de produção mais elevados e alcançando boa rentabilidade.

Para o analista Cleiton Evandro dos Santos, da Agro-Dados Consultoria, a previsão é de que continue assim até a virada da safra, em fevereiro, a menos que ocorram alguns percalços, como os preços internos superarem a referência de importação, a retirada da tarifa externa comum de terceiros mercados (TEC) ou outro tipo de interferência governamental – uma vez que ele só dispõe de 127 mil toneladas de arroz em estoque regulador.

“A recuperação parcial dos valores da moeda brasileira perante o dólar estadunidense é um fator que pode determinar uma nova leitura ao mercado. Estaríamos mais vulneráveis ao ingresso de arroz do Mercosul, especialmente do Paraguai e da Argentina. A soma de todos esses fatores, que é improvável, traria contornos dramáticos ao mercado”, frisa.

Ainda segundo o analista, é patente que a crise política do país, afundado em escândalos de corrupção nos governos, legislativo e mesmo na Justiça, e a inoperância dos poderes frente às reformas – política, econômica e tributária – necessárias vêm intensificando a crise econômica nacional.

“Com isso, o real desvalorizou até 50% a mais do que diversas moedas de países em desenvolvimento, inclusive seus concorrentes. Isso vem dando algum suporte às exportações, inviabilizando grandes importações e assegurando a geração de um superávit na balança comercial. Mas, se por um lado é positivo, por outro, cobra o seu preço nos insumos como energia elétrica, combustíveis e também na mão de obra”, explica.

QUESTÃO BÁSICA
O enxugamento do mercado, seja pela redução das internalizações ou pelo resultado líquido nos embarques, mantém preços em real em alta ao produtor. Mas, em dólar, o produtor está recebendo até 26% menos que no ano passado. “A saca de arroz de 50 quilos (em casca) com 58% de inteiros atualmente gira em torno de US$ 10,80, para uma média aproximada de US$ 14,25 há um ano”, relaciona Cleiton Evandro dos Santos.

Por isso, o Mercosul, que precisa de preços acima de US$ 12 dólares para cobrir seus custos, não vem conseguindo exportar seus níveis históricos para o Brasil, mesmo no caso do Paraguai, que tem custo pouco superior a US$ 10,50.

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