Num país de escândalos, parece que crime é produzir arroz
Para o arrozeiro, andar no fio da navalha é tão comum quanto sobre a taipa da lavoura, pois trabalha numa atividade de risco. No Brasil, sem políticas capazes de assegurar renda, a economia se notabiliza por sugar o que pode, e em cascata, do agronegócio. Novidade é o agricultor encerrar a safra com a certeza de bons negócios, pagar as contas e ainda sobrar o suficiente para tocar a vida e a propriedade e investir em melhorias, conforto e na próxima lavoura.
Em 2017, a orizicultura parece ter chegado a um ponto que vai separar quem resistirá e quem deixará a atividade. Todos os anos há rizicultores deixando a atividade, o que se nota pelo gradual crescimento do porte das lavouras do Sul sem que isso faça crescer de forma proporcional a área total. A equação da lavoura é cada vez mais difícil de fechar com saldo positivo. Fórmulas e sugestões para minimizar prejuízos e melhorar a gestão financeira, administrativa e comercial existem muitas, mas solução mesmo, que garanta que o arroz depois de colhido vai valer mais do que o valor desembolsado para produzi-lo, não há.
A luta das entidades, que existe e é sistemática, embora sem alardes, encontra os políticos mais preocupados em salvar a pele do presidente da República de um processo por corrupção – alguns com seus próprios processos – do que buscar soluções que resolvam, enfim, a vida da lavoura e de quem produz alimentos neste país.
O agricultor faz a lição de casa desde que aprende a andar. É preciso o Brasil fazer a sua lição e dar as condições e a segurança necessárias a quem produz alimento. Num país de tantos escândalos e tanta impunidade, diante do cenário atual chega a parecer que crime mesmo é produzir arroz. E a isso, o mercado e os impostos punem sem dó nem piedade.