O Analista de Butiá (2)
Autoria: Nelson Mucenic*.
”Tu é touro ou é vaca?”
“Tu é cuiúdo ou é capado?
“Tu tá bulish ou tá bérish?”
– Cumpadre Licurgo, tem uma questã que tá me incomodando.
– E o que é?
– Tem um diz-que-diz por aí de exportação, importação e estoque e talicosa e cosaitali.
– Uma cousa é certa, doutor. Se exportá mais do que importá, vamos ser exportador líquido.
– Ah é? Aprendeu isso ontem, naquela matéria? O que eu acho é que tu tá importando muito líquido. Tu anda consumindo além da conta, Licurgo. Desse jeito o que vai baixar é o meu estoque de licor de butiá…
– Bueno, Licurgo. A safra tá no final. Os de gravata tão dizendo que o Rio Grande vai produzir 8 milhões. E em tudo que é bolicho, entre umas e outras, os teus parceiros, Licurgo, dizem que vai ser menor.
– Pos é…
– Licurgo, telefona pro Piruquinha e pergunta pra ele.
De volta, fala o Licurgo:
– Disse que ta bérish.
– O quê? E não tem vergonha na cara? Se fresqueia comigo e eu vou nos beiço dele.
– Não é isso que o senhor tá pensando, Doutor. O homi disse que não é prá tanta euforia.
– Então tá bom. Agora liga lá prá aquele guri da fronteira, conta essa história e pergunta o que ele acha dessa cosa.
Minutos depois, volta o Licurgo.
– E aí, disse prá ele?
– Disse!
– E o que ele falou?
– Ele disse: mas que barbaridade!
– Só isso?
– Foi
– Mas foi um “barbaridade” curto ou bem comprido?
– Mais comprido que putiada de gago.
– Entonces te aprepara!
– O que que vai acontecer, Doutor?
– Só Deus sabe.
Exportar é o que importa. Dólar, ouro, petróleo e outras commodities: tudo pode interferir. E qualidade também importa.
Dias atrás uma notícia expunha uma compilação de dados da CONAB. E uma conclusão quase que “ginasial”: se exportamos mais do que importamos, o que somos? Somos exportadores líquidos. O segundo parágrafo faz um alerta. Pro lado de baixo. É o que no jargão técnico internacional se chama de "bearish", do inglês "bear" ou urso. Isto porque o urso joga tudo pra baixo. Não se pode invalidar a afirmação de que os estoques somente irão se reduzir se exportarmos mais do que importarmos. Mas pode se dizer que parte de uma premissa que ainda está para ser provada: o prognóstico de produção da CONAB vai se confirmar? Não seria menor? Mesmo na hipótese de nos tornarmos importadores líquidos neste ano, é possível que o estoque de passagem seja menor ao fim do período em andamento. No entanto, não se sabe, por enquanto. Mas a fim de ser mais convincente nessa possibilidade de baixa, vai adiante: Há a expectativa de que a qualquer momento os estoques de alguns países sejam lançados no mercado. É possível. Pode ser, pode não ser. A verdade é que esta questão é complexa e imprevisível. Mas, vamos adicionar aqui um fato novo, recente: uma grande maioria de amostras de arroz de origem asiática importada pelos USA provou-se imprópria ou não recomendável para consumo humano por conter excessivo teor de chumbo. A China, com graves problemas dessa natureza, é extremamente exigente nesse aspecto. Não importa farelo de arroz daqueles países, talvez por essa razão. E está em vias de iniciar importações dos USA, o qual é concorrente dos países do Mercosul. Não vamos, no entanto, enveredar por esse caminho. O raciocínio pode ser mais simples: 1) O estoque brasileiro sofreu redução de 35% neste ano; 2) O Brasil pode reduzir em 500 mil toneladas seu volume de exportação no presente ano; 3) Esta fatia de mercado será ocupada por Uruguai, Argentina, Paraguay(?) e/ou USA; 4) Quanto menos o Brasil exportar, maior o espaço para aqueles países e menor a pressão na fronteira brasileira; 5) Da maneira como estão postas as projeções, os estoques do Mercosul devem se reduzir em 23% em fev/2014. Isto se os números do estoque de passagem argentino e brasileiro do ano que passou se provarem verídicos e 6) Em 2011, o Governo subsidiou pesadamente a exportação do arroz brasileiro, que definitivamente se inseriu no mercado internacional com preço competitivo e com qualidade. Abriram-se as portas. No entanto, no ano passado houve uma redução de 30% nas exportações e a tendência é que se reduzam outros 30-35% neste ano. Não se pode perder a oportunidade de manter uma parcela dessa fatia de mercado. Se não temos preço competitivo no momento, temos qualidade. E qualidade faz preço. Talvez por isso, em março passado, um navio com 32 mil toneladas partiu do Brasil em direção à Nicarágua a um preço similar àquele praticado nos USA e com frete mais caro. Pode haver um componente político? Talvez. E esse talvez significa apenas uma outra visão do que pode acontecer. Não exatamente pro lado de cima. Ou "bullish", de "bull" em inglês, que significa touro. E que joga tudo pra arriba. A propósito, o arroz em Capivari do Sul subiu e está cotado entre $35 e $37. É bom ou nem tanto?
* Engenheiro Agrônomo