O Analista de Butiá (5)

Autoria: Nelson Mucenic*.

– Alô? E aí Dalvire? Cumé que vão as coisa?
– Tudo maisomêno patrão!
– O técnico da BotaTudo teve aí né? E o quê que ele disse?
– Disse que percisa fazê uma mistura de meia dúzia de três ou quatro veneno prá controlá a sujeira.
– Então “tráca”, Dalvire!
– Falou também que tem que botá um “insesticida” pruma minhoquinha…
– Então “gruda”!
– E prá ficá milhó tem um adubo prá “foiarada”…
– Então “sóca”!
– E aquele outro que o vizinho bóta, o tal de “fudicida”, que Deus me livre, patrão ?
– Aquele só lá perto da flor, Dalvire! Dêxa comigo, esse ano vamo rebentá a boca do balão…
– Ou nóis, né?
– Que tu disse, Dalvire?
– Eu disse “é nóis”. É nóis na fita, no jornal e na revista, patrão!
– Nessa safra o Rio Grande vai colher menos e nós vamos forrar a cartucheira, Dalvire.
– E o patrão mandando bala. E só bala de prata. É nóis, patrão!
– “Cárca”, Dalvire!

– Mas chê, tava ouvindo a conversa. Tua lavoura deve tá muy buena! Disse o analista
– Tá muito linda. Mas uma parte eu replantei e um outro tanto plantei no tarde.
– Pozé! Lavoura do tarde sempre é boa de erva.
– Tô tranquilo, o preço vai a 40 esse ano.
– Mais um trago?
– Metêmo!
– Mais um torresmo?
-Empurrêmo!
– Uma carne?
– Espetêmo!

Pozé, hum hum, quero dizer, pois é …São algumas as variáveis que determinam preço de mercado. O volume de produção é uma importante variável que contribui para determinar preço. Mas não a única. Quem diz isto é a própria história. Nem sempre volume e preço concorreram em proporção inversa. Por vezes basta que se crie um descompasso momentâneo na oferta, prá cima ou prá baixo, e o preço desanda. Isso não é novidade. Em caso de persistência em médio prazo, de alta extrema, a interrupção da oferta pode provocar a destruição e/ou o deslocamento da demanda. No caso inverso, de baixa extrema, ocorre destruição da oferta e/ou uma mudança para cultura alternativa. E o mercado pode demorar em reequilibrar e se situar em patamar aceitável. Ou pode não acontecer. Basta que surjam novos agentes (de produção ou de comércio). Afinal estamos em um regime de livre mercado. Mesmo a intervenção do governo pode ser limitada em situações como essa. Da mesma forma é limitada, embora considerável, a atuação dos produtores como força de mercado. Inicia obviamente no processo de produção, no qual os custos irão determinar a rentabilidade da atividade. E os custos, e também a produtividade, são consequência direta do sistema de produção adotado. Cabe a técnicos e produtores definir e ajustar conforme limitações de cada propriedade. O grau de sucesso, no entanto, depende do empenho, da capacidade e da adequação das circunstâncias ao longo do processo de produção. NÃO ESPERE QUE O MERCADO CORRIJA SEUS ERROS E EXCESSOS. O MERCADO NÃO VAI PARA ONDE SE QUER.
Em tempo e a favor: Em época de escassez, o mercado engole qualquer coisa que se chame de arroz. Nos próximos três meses a América Central deve absorver o produto norte-americano sem maiores queixas acerca de qualidade, visto que a segregação de variedades pretendida pelos compradores ainda não ocorreu desta vez, embora a qualidade do grão tenha melhorado como um todo. A decorrência disto, consequência do bom preço de mercado, será um significativo aumento da área plantada na próxima safra nos Estados Unidos. Até lá muita água ainda vai rolar. Ou pode rolar. A probabilidade de ocorrência de El Niño tende a crescer para a próxima safra. E se assim for, dá-lhe rédea no preço…na Ásia. E o resto?

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