O Analista de Butiá (6) em “Sonho de Guri”

Autoria: Eng.Agr.Nelson Mucenic.

O Analista de Butiá (6) em “Sonho de Guri”

– E aí, tchê Guri?
– Que guri? Não me fala em guri. Colhi mal barbaridade esse tal de guri. Tô igualzito a guri cagado.
– Pára, tchê. Tem gente que colheu bem esse tal de…
– Não me fala esse nome, que lá em casa ele abriu as “perna”.
– É? Ou será que é tu que tá enxergando pouco? Já tá mijando nos “pé”? Mija de perna aberta, Serapião.
– Que nada…ainda ando de cola erguida, doutor.
– Tá bom, “vamo mudᔠde assunto. Experimenta esse licor de butiá.
– Hmmmm…mas tchê, que cosa bem boa. Qualé a receita, doutor?
– Não tem mistério…butiá maduro “abichado” e uma cachaça bem boa…
– Abichado? “táquepariu”, doutor!
– Sabe da última? Do guri…quer dizer, do filho do Feio?
– O bichinho da goiaba? Não, não sei…
– Tá indo de mala e cuia prá plantar arroz numa tal de Migéria.
– É?
– Lá é terra de cego…quem tem um olho é rei. E lá vai ele passando ali…
– Conheço ele…esse guri é bom.
– Esse guri?
– É…Ei guri, peraí, quero falá contigo…Me fala da tal Migéria…

Curiosamente, depois que o Paraguay experimentou um crescimento impressionante nesses últimos anos – con legítima tecnologia brasileña, por supuesto – os preços médios no mercado doméstico brasileiro foram, de certa forma, satisfatórios. Obviamente que, por si só, este fato deveria pressionar em sentido contrário. Mais curioso ainda é o fato de que a cadeia arrozeira paraguaya tem sua base fundamentada no conhecimento técnico da pesquisa brasileira, além de encontrar amplo suporte na diversificada indústria nacional de equipamentos. De modo semelhante, reportando-se há algumas décadas, também o Uruguay e a Argentina beneficiaram-se do conhecimento gerado no e/ou através do Brasil. Embora a entrada de produto tenha provocado forte instabilidade no mercado brasileiro em certos momentos – e isso significou a inviabilização de certos empreendimentos e de alguns produtores – há de se ressaltar que a via do comércio internacional sempre é de duas mãos. Além disso, não bastasse a importância da utilização de variedades de arroz em ambos os lados da fronteira – vide El Paso, Olimar, Puitá e Guri – é preciso ressaltar que foi a pressão da produção excedente destes dois países que forçou o RGdoS a buscar o mercado externo no além-mar. E agora, será a vez da Nigéria? O pioneirismo está na tradição do gaúcho. Não é preciso descrever de que forma a cultura agrícola se estendeu por esse país afora. Desenvolver o cultivo de arroz naquele país não será de todo inconveniente para a economia arrozeira do Estado, mesmo no médio prazo. Ao contrário, poderá fixar amarras, estreitar laços e ampliar negócios. Isto porque, embora a necessidade e o desejo de autossuficiência daquele país – o que é apenas um sonho no futuro distante de 10 anos – o quadro maior do comércio internacional aponta para um significativo incremento do volume de arroz que deve cruzar os mares e fronteiras. Da mesma forma, outros tradicionais importadores da Ásia projetam equalizar produção e consumo interno. O que é apenas embuste político ou apenas um blefe. O fato é, no entanto, que o já detectado aumento de consumo pode catapultar o comércio internacional para satisfazer as necessidades de meio bilhão de pessoas no breve prazo de 4 a 5 anos. Aquilo que China e Índia determinam em seus planos internos, uma leve guinada no timão do barco ou uma rápida penada no papel, pode alterar o rumo do mercado internacional e abrir comportas até então contidas. “Te aprepara, guri!”.

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