O Analista de Butiá (7)
Autoria: Eng.Agr. Nelson Mucenic.
É NO DAB, DAB, DAB…
– Rapaiz! E a chuva de ontem?
– A chuva não foi nada. E o temporali? E o vendavali?
– De manhã, botei a cara pra fora da bolante e metade da lavoura do Rio Grande tinha deitado.
– E eu? Fui olhá o arroiz debuiado. Mas Chê, ia daqui até a fronteira.
– Com mais essa, acho que todo mundo vai colhê mali!
– Será?
– Qué vê só, nóis aqui? Eu colhi mali, tu também, o Gilmare, o Lindomare, o Gentile…
– Não, o Gentile não. E o Ademire também.
– Bom, mas eu acho que o Rio Grande não produz mais que 8.218.533 toneladas, 435 kg e meio.
– Concordo, mas tira esses 435 kilo e meio, tá demais.
– Arredondêmo então. Deixêmo por 8 milhões
– É… aí eu acho que ficou maisomêno de acordo…
– E o arroiz vai subi na China. Vi ontem no dab, dab, dab… era num jornal “xingue lingue”
– Mas tu entende “xingue lingue”, Cráudio?
– Não percisa meu fio. Óia a foto. Os lavorêro tudo sentado em cima do arroiz.
– É… então vai.
A partir de um determinado número, de uma determinada ordem de grandeza, aquilo que vem depois da vírgula pouco interessa. No caso da Argentina, é bastante significativa a diferença entre uma estimativa de produção de 1,1 ou 1,4 MT. No caso brasileiro, ou mais especificamente no RS, em nada se altera a tendência de mercado se a produção for de 8,2 ou 8,4 MT. A não ser de forma oportuna e localizada, em uma determinada região. Ao se ampliar o foco, isso importa menos ainda. Invariavelmente, a soma das produções dos países do Mercosul é suficiente para o consumo local, além de produzir excedentes exportáveis.
Portanto, o que interessa é o cenário maior. São exatamente as outras variáveis que devem fazer maior pressão ou interferir nos preços. Mais especificamente, a demanda externa dos clientes usuais, a taxa de câmbio e o clima ocorrente ao longo da safra no hemisfério norte é que vão determinar tendências futuras. Nesse sentido, a rede social é uma importante aliada que ajuda a entender e prever o rumo do mercado, quando traz informações confiáveis. E assim facilita o caminho para que sua mente tenha êxito em forrar o seu bolso, a sua carteira. Mas isto exige prestar um pouco mais de atenção na qualidade da informação e na percepção dos fatos. E veja: a informação está disponível para todos, vendedores e compradores, que muitas vezes estão lado a lado, se observando mutuamente e traçando suas estratégias. Em muitos casos são amigos e parceiros.
Diz o ditado que quem tem dinheiro é que sabe.
Hoje em dia, a informação pode estar ao alcance de um ou dois “clics”. Porque o telefone celular traz o mundo prá dentro da “bolante” e coloca o produtor, a lavoura e a fazenda como força de mercado. Mas nem sempre barulho de prato é sinal de “bóia”. Pode ser o contrário. E aproveitando a metáfora, se aguçar os ouvidos dá para ouvir o barulho nas cozinhas mundo afora. Dentre outros, Peru, Venezuela, Nicarágua, Haiti, Nigéria, Gana, Benin e demais continuam fazendo barulho.