O Analista de Butiá

Autoria: Nelson Mucenic.

Conta a lenda, e essa história se passou no começo de janeiro de 2013, que o analista de butiá arribou no bolicho do Carlito:
– Buenas seu doutor, o que é que manda?

– Quero arroz.

– E de quanto o senhor percisa?

– Quero todo que tu tiver.

– Mas ah seu doutor, vai ter festa?

– Vai, carrega tudo.

– E quando é a festa, doutor?

– O ano inteiro.

– Mas que cosa boa, seu doutor, disse o coronel, seu desafeto, e que tomava um trago na ponta do balcão.

E continuou:
-Desse jeito o arroz vai pegar preço!

– Pos é justamente o contrário, coronel . Tô comprando porque o arroz vai subir.

E completou:
– E eu, se fosse o senhor, ia agora recorrer sua fazenda e mandar os aguadô estufá a lavoura de água. Ou será que o senhor não reparô que o maricá tá florescendo. Vem mais frio na cola por aí e a mardita da peste por detrás…

– Mas o que é que tu entende? Tu entende é de butiá!

Ao sair, o analista só viu a poeira levantada pela camionete do coronel e escutou o Carlito no telefone:

– Preciso de 50 fardo e quero desconto…. Não, não, a lavoura vai bem, não tô prevendo desgraça… É que vai ter festa por aqui.

A história serve apenas para ilustrar de que forma uma informação pode ser entendida ou tratada. Tirem suas próprias conclusões. É apenas um exercício. Informações difusas, quando mal interpretadas, servem apenas para confundir.
Como na lavoura, na hora da colheita: ajustem as peneiras e reduzam ao máximo a impureza.

Informação de (e para) o Mercado.

Existem algumas máximas a esse respeito. A primeira diz que a informação grátis vale tanto quanto se paga por ela. Por isso é preciso ter cuidado. Outra máxima, decorrente da primeira, alerta sobre a necessidade de se fazer uma dupla checagem antes de dar pleno crédito a uma informação. Assim, mesmo a informação que se reveste de caráter oficial precisa ser analisada e compreendida, bem como o seu alcance ou o que porventura pretende alcançar. Mesmo os órgãos oficiais são alimentados por informações de terceiros.

Aliás, quanto a aqueles, quer-se crer que não tenham a intenção de interferir no mercado. O que ocorre é que não são infalíveis. E precisam ser conservadores nas suas estimativas, fazer correções com cautela e critério, por uma questão de preservação de sua idoneidade. É preciso entender, no entanto, que estes órgãos não pretendem antecipar o mercado. Não é sua tarefa. Portanto, são apenas mais uma referência. Só para exemplificar: em meados de Janeiro os dados oficiais informavam incremento de produção da ordem de 8% na Argentina. Parece que vai acontecer o contrário. Grande parte do plantio transcorreu fora da época preferencial. Produção mais alta com plantio tardio? Seria a confirmação da exceção da regra.

Outra: um determinado órgão (de natureza humanitária) que afirmava que o estoque de passagem brasileiro na safra 12/13 seria de apenas 1 milhão de toneladas afirma também que a produção foi de 13,4 em 2012(?) e seria de 11,5 em 2013(?). Um equívoco, apenas erro de digitação ou de período de referência. Estava se referindo às safras 10/11 e 11/12. Outro órgão de agricultura de um governo estrangeiro apontava um estoque de passagem no Brasil de 600 mil toneladas e neste mês corrigiu para 840 mil. Quanto ao estoque de passagem, ainda remanesce a dúvida.

E vejam: maior estoque, maior oferta, menor preço, mais exportação e em seguida maior preço. O contrário: menor estoque, menor oferta, maior preço, mais importação e depois menor preço. O mercado parece que não deu bola para isso. Na Planície Costeira Externa, cuja produção deve ser levemente superior à safra 11/12, o preço se mantém próximo de R$ 35 em plena colheita. E este é o sinal que se deve considerar. Aliás, um bom sinal.

E a terceira, que para mim é a mais definitiva, afirma que o mercado não vai para onde se quer. A direção que o mercado toma é determinada pelas forças de mercado. E as forças de mercado são impulsionadas pelos agentes de mercado. Até aqui nada de novo.

O que se quer ressaltar é que o mercado existe porque há produção.

O mercado começa na fazenda. Sem produção não há mercado. Portanto, os primeiros agentes de mercado são os produtores. E o mercado só acontece quando há comercialização. Alguns podem alegar que a demanda é que aciona o mercado. Mas com demanda e sem produto outra vez não há mercado. O contrário também é válido. Mas não é o caso no presente ano. Assim, em períodos de baixa comercialização, o preço é apenas nominal, é tão somente uma intenção e não uma realidade.

Mas o produtor precisa estar preparado para isso. É preciso ter uma estratégia de comercialização. E esta começa no planejamento do empreendimento, antes mesmo do plantio. Quem não enxerga o horizonte, quem não pensa no médio e longo prazo e que vive apenas um dia atrás do outro, pode tropeçar no dia seguinte.
Uma informação importante para o médio e longo prazo, evidenciado por uma notícia veiculada dias atrás aqui mesmo neste site, sobre a poluição dos recursos agrícolas (solo e água): 38% dos rios chineses estão poluídos.

Os chineses já andaram pelo Uruguay na safra retrasada e levaram uma “amostra” de 5.000 toneladas. No ano passado levaram outra amostra de 10.000 toneladas. Quando a China abrir a boca (já está abrindo), vai ser preciso um bom volume apenas para tapar o buraco dos dentes daquela população. De que forma, ou até que ponto isso interfere no mercado do Ocidente?

Sobre o mercado, como no futebol, todo mundo entende. E quanta zebra já ocorreu. Todo produtor faz prognósticos e antecipa o preço de mercado no futuro. Quem fala, não sabe. E quem sabe não fala. É uma tarefa difícil e perigosa até mesmo para quem se dedica exclusiva e exaustivamente ao assunto. Pode-se antecipar tendências. E ainda assim… Quem planta informações pretensamente está querendo levar o mercado “no grito”. E se o faz de forma inocente, pode estar prestando um desserviço ao produtor.

E aqui um alerta aos produtores: como quando de uma pulverização no campo, mantenham os filtros sempre limpos.

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