O Analista de Mercadinho – Pelo meus cárco!

Autoria: Nelson Mucenic – Engenheiro Agrônomo.

Tudo começou depois que o Zé tirou uns dias lá na Capital. Quando voltou, não errava mais nada. Todo dia saía de sua casa, que fica lá no Mato do Cachorro, descia o morro e quando chegava no povoado já ia logo anunciando as novidades e a previsão:

– Tchê, gurizada, o tempo vai sê bão, podêmo se prepará prá prantá! Grudale ficha!

A gauderiada não questionava, virava as guampas pro lado das lavouras e dele-que-te-dele. Tapavam a vila de pó.

Mais adiante, quando o Zé do Mato passava por algum lavoureiro na vila, lá vinha uma pergunta:

– Seu Zé, será que eu perciso apricá um fudicida? O tempo tá bão, o preço tá ruim e cosaitali…

– Mete! Mete porque o preço do arroiz vai batê lá no telhado do garpão. Não tem estoque, o dólar disparou, o fenômo El Guri vai secar o resto do mundo… só vai dá nóis!

De vez em quando o Zé precisava pensar, calcular:

– Essa é difícir, vô ficá te devendo… dêxeu vê, pelo meus cárco… perciso matutá e logo te digo.

E assim foi, semana após semana, até que depois da colheita, que tinha sido “masomêno”, e num santo dia anunciado, a peonada esperando e nada do ZéCúdeCachorro, quero dizer, ZédoMatodoCachorro aparecer prá dar uma esclarecida porque o preço tinha ido “aos pés”, prá usar um termo bem educadinho, e quem sabe também prá dar uma esperança pro povo, que já se via mesmo num mato sem cachorro, com a colheita pouca e com as contas empurrando pelas costas.

O Macega, que já tinha empenhado até a mãe na lavoura, não se aguentou e se foi atrás do Zé. Chegando perto da casa ouviu o Zé esbravejando:

– E agora?… Cumé queu fico?… Pqp… Cumé queu não vi isso? O que queu vô dizê

Logo em seguida voou alguma coisa pela janela. Macega foi até lá e pegou um aparelho escrito “iPhone” atrás e na frente tinha uma tela, tipo televisão, que mostrava uma reportagem atrasada, com a manchete do ano passado e que dizia: “Arroz vai se manter em alta todo ano!”.

Foi aí que o Macega entendeu que o Zé sabido se deu mal. Macega deu uma risadinha e falou baixinho prá si mesmo:

– Então é isso… É cráro… ele via aqui e dispois se fazia de sabido. É, agora eu é que sei.

Na vila, assim que se aproximou da gentarada, Macega foi logo dizendo sem ninguém perguntar:

– Chiripazada, agora é tudo comigo, o Zé não sabe nada… eu é que sei… o negócio é o seguinte: vamo guardá o arroiz, o dólar vai subi, depois baixá e depois vai subi de novo… mas quando for a hora de vendê, eu aviso.

Macega só não sabia que a bateria do aparelho estava no fim. Durou só até o outro dia a sabedoria desse outro esperto.
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Uma vez o filósofo Mike Tyson disse que todo mundo tem um plano, até que um direto acerte a sua cara. É preciso ficar atento, no mínimo ter jogo de cintura para uma esquiva e, se possível, aplicar um contragolpe no momento certo. Disse isso porque sua estratégia na luta sempre foi de homem destemido que partia pra cima dos adversários com a cara à mostra e desferindo uma sequência de golpes arrasadores e que quase sempre terminava em nocaute. Isso até enfrentar uma zebra chamada Buster Douglas. Depois disso nunca mais foi o mesmo, e sua carreira passou a ser marcada por derrotas e escândalos.

O fato descrito é bastante educativo e pode servir como exemplo para diversas outras atividades. Situações análogas são conhecidas na atividade agrícola.

Quem teve o privilégio de estar presente no 7º Encontro promovido pela Planfer em Pelotas, teve a oportunidade de rever alguns pontos importantes na condução de seu negócio:

– A gestão dos detalhes pode ser o determinante entre o sucesso e o fracasso;

– Quem vende com lucro, mesmo que pequeno, jamais está perdendo dinheiro;

– Preço é aquilo que o mercado está disposto a pagar, não o que se quer;

– E por fim, como ressaltou Mailson da Nobrega, a respeito da sistemática de câmbio flutuante adotada pelo Governo e de sua previsão, a única coisa que se pode dizer é que nela o câmbio flutua.

E assim, da mesma forma, oscila o mercado livre, quem aproveita a onda dá na praia e quem aproveita o vento navega. Quem não, ou se afoga ou fica à deriva.

Qual o seu plano?

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