O arroz é estratégico para o Brasil

 O ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, BLAIRO BORGES MAGGI, 60 anos, assumiu em maio o cargo e na sua primeira viagem oficial visitou a Feira Nacional do Arroz (Fenarroz) em Cachoeira do Sul. Em julho voltou à região central gaúcha para visitar fumicultores no Vale do Rio Pardo. E no final de agosto voltará ao estado para três dias de conversa e contato com os produtores gaúchos na Expointer. Nas duas oportunidades em que esteve no Rio Grande do Sul, o ministro conversou com Planeta Arroz sobre o setor, o agronegócio brasileiro e alguns temas de interesse da cadeia produtiva.

Blairo é filho de André Antônio (in memoriam) e Lúcia Borges Maggi. Se considera “paraúcho” por uma história que não cansa de repetir: no início de 1956 seu pai e sua mãe, pequenos agricultores, deixaram o município de Torres, no litoral gaúcho, para se estabelecerem no Paraná. O ministro, único homem e terceiro filho dentre cinco irmãos, estava no ventre da mãe. Nasceu em 29 de maio em São Miguel do Iguaçu (PR), mas voltou dois meses depois nos braços do pai, de caminhão, para ser registrado em Torres. “Nasci no Paraná, mas também sou gaúcho, pois fui gerado e registrado no Rio Grande do Sul”, contou na Fenarroz. Também revelou ser torcedor do Internacional e apreciador de chimarrão. O nome, incomum, foi inspirado numa antiga dupla sertaneja: Blairo e Clairon.

O grupo Amaggi tornou-se um dos maiores do ramo agrícola na América Latina, atuando nas áreas de commodities, agropecuária, energia e navegação/logística. Blairo Maggi já foi o Rei da Soja – depois seu primo Eraí Maggi Schaeffer assumiu o título –, foi eleito um dos 60 homens mais importantes do mundo e por várias vezes foi considerado um dos líderes mais representativos do Brasil. Governador do Mato Grosso por dois mandatos, é senador da República. No total, o grupo Amaggi cultiva mais de 350 mil hectares de soja, milho, algodão, feijão e seringueira em mais de 20 fazendas próprias ou arrendadas, o que representa um terço da área de arroz semeada no Rio Grande do Sul ou duas vezes a área de Santa Catarina, o segundo maior estado em produção do cereal no Brasil. O faturamento do grupo em 2015 chegou a R$ 12,7 bilhões. Em julho o grupo Amaggi comprou 50% de dois terminais de grãos da Bunge, no Pará.

Planeta Arroz – Ministro, qual a sua relação com a produção de arroz?

Blairo Maggi – A minha relação hoje é de admiração. Já plantei arroz no Mato Grosso e tive prejuízos, então, respeito muito os rizicultores pelo conhecimento e perseverança. Produzir no Brasil, apesar dos desafios, é algo nato de seu povo. A agricultura é o que fazemos de melhor. E produzir arroz não é fácil, posso afirmar pela minha experiência frustrada.

Planeta Arroz – Durante a visita que fez a Cachoeira do Sul o senhor teve a oportunidade de receber inúmeras demandas dos agricultores e até mesmo visitar uma das lavouras atingidas por enchentes. Quais as conclusões que o senhor tira dessa visita e o que é possível prever de apoio ao setor?

Blairo Maggi – Realmente a minha visita à Fenarroz me trouxe muito conhecimento sobre aspectos que eu desconhecia da orizicultura. Tenho ao meu lado o secretário nacional de Política Agrícola, Neri Geller, nosso ex-ministro, que conhece bem a situação e já me antecipava um cenário de dificuldades por causa do clima e de um histórico de endividamento do setor. No contato com os produtores percebi que a perspectiva se confirmava. Visitamos exatamente uma região muito atingida pelos danos do El Niño, que atingiu também produtores de soja e outras culturas. Pouco conhecia sobre arroz irrigado, mas aprendi bastante dentro da lavoura com os arrozeiros. Estamos num período de transição no Brasil, vivenciando uma crise econômica e política. A recuperação do país e de sua economia passa pelo agronegócio. E pelo arroz também.

Planeta Arroz – E as medidas?

Blairo Maggi – Sim, as medidas que anunciamos lá na Fenarroz foram as possíveis. O parcelamento por até cinco anos – e estamos trabalhando para que as instituições financeiras utilizem o prazo máximo para os produtores – no caso do custeio para quem teve perdas e também em casos de investimentos. A situação de clima foi excepcional e a solução exigiria uma resposta excepcional do governo. No entanto, o momento é de grande dificuldade e desafio para todos, inclusive para o governo. Face à situação econômica do país e da própria União, retirar algum recurso ou alongar débitos junto ao Ministério da Fazenda é uma operação gigantesca. Num futuro próximo esperamos ajudar de forma mais ampla as questões estruturais da orizicultura. No momento, fizemos o que podíamos. O que foi prometido foi cumprido.

Planeta Arroz – Os arrozeiros têm se queixado muito do alto custo de produção. O que o governo e, mais especificamente, o ministério podem fazer neste sentido?

Blairo Maggi – A bem da verdade, pouco. Ainda mais neste momento, pela conjuntura política e econômica, fica complicado falar em reduzir impostos. Mas a carga tributária é excessiva. O agricultor sabe e reclama com razão, mas mais uma vez está pagando por esse ônus para ajudar o país. Mas a redução dos custos de produção também passa por decisões do lado de dentro da porteira, da eficiência. Precisamos dar um passo de cada vez, e o agricultor precisa reduzir ao máximo seus custos para transformar essa fórmula em lucro. É o objetivo.

Planeta Arroz – Como o senhor pretende conduzir o diálogo com o setor?

Blairo Maggi – Temos contato direto com o setor. Os políticos gaúchos ligados ao rural, deputados e senadores, são chatos: marcam de perto o ministro e sua equipe e têm um canal de diálogo permanentemente aberto. Além disso, a Câmara Setorial da Cadeia Produtiva do Arroz tem um papel marcante e fundamental nesse diálogo. Além disso, recebemos as entidades sempre que possível e o secretário Neri Geller é pessoa muito próxima dos arrozeiros. Diálogo não faltará nesta gestão.

Planeta Arroz – Nos últimos meses os preços do arroz dispararam ao consumidor em função da quebra da safra gaúcha e da redução de cultivo em outras regiões. O governo não pode intervir por não ter estoques – diante de um histórico de intervenções com venda do arroz da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Como o senhor espera agir a partir de agora com relação à política de estoques e preços ao consumidor?

Blairo Maggi – A relação de mercado é algo que precisa ser respeitado. Claro que o governo tem seu papel e deve assegurar o abastecimento e preços acessíveis ao consumidor em situações extremas. Em algumas áreas, como o caso do milho e do feijão, talvez tenha faltado investimento na formação de estoques adequados ao atendimento da demanda. Mas no caso do arroz, o mercado vem se regulando. Os estoques de 85 mil toneladas disponíveis na Conab são suficientes para atender demanda dos projetos sociais e alguma emergência ou catástrofe, mas há espaço para importações do Mercosul que abasteçam o mercado brasileiro e equilibrem a relação entre oferta e demanda. No caso do arroz, não vejo maiores problemas. A situação seria diferente se houvesse uma nova safra com quebra substancial, mas o próprio setor – e principalmente os gaúchos – tem nos tranquilizado quanto ao potencial de abastecimento do mercado brasileiro. Os números da Conab e do IBGE também indicam que há equilíbrio entre oferta e demanda, mesmo exportando um pouco, graças a essa relação próxima com o Mercosul. Parte dos produtores do Paraguai, do Uruguai e da Argentina é brasileira, gaúcha, não é?

Planeta Arroz – Ministro, que mensagem o senhor deixa para os arrozeiros?

Blairo Maggi – De otimismo, sem dúvida! O Brasil hoje, mais do que nunca, precisa do agronegócio para voltar a crescer e o agronegócio vai, mais uma vez, dar seu suor e seu conhecimento para isso. Esperamos que o mercado se regule de maneira a manter a rentabilidade aos produtores, e vamos buscar formas de ajudar aqueles rizicultores que tiverem problemas pontuais, como foi o caso do El Niño esse ano. Com o auxílio da cadeia produtiva vamos estudar as demandas e avaliar em que pontos poderemos fortalecer a orizicultura brasileira. O arroz é um produto estratégico para o Brasil.

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