O arroz e suas várias funções como alimento

O arroz é considerado o vilão das boas dietas. Muitas pessoas acreditam que o grão não possui nutrientes e só faz encher a barriga. Por isso, o produto é um dos primeiros a ser cortado do cardápio de quem quer emagrecer. Apesar de bastante difundida, essa ideia, no entanto, não condiz com a realidade.

As recomendações para uma vida saudável incluem a adoção de uma alimentação equilibrada. Produtos de origem animal, como carnes, ovos, leite e seus derivados, devem ser ingeridos com moderação, ao passo que frutas e legumes podem ser consumidos em maior quantidade. Os cereais estão também inclusos neste último grupo, do qual faz parte o arroz.

O grão é rico em proteínas, sais minerais e vitaminas do complexo B. A título de exemplificação, a ingestão de 100 gramas de arroz cozido (quatro colheres de sopa) por crianças na faixa etária de um a cinco anos de idade é capaz de suprir as necessidades diárias de 14% em proteínas, 6% em cálcio, 3% em ferro e 10% em zinco.

Além disso, o cereal é uma excelente fonte energética de baixa caloria. Enquanto uma xícara de arroz (120 gramas) possui 270 quilocalorias, um sanduíche x-salada tem em média 490 quilocalorias e uma embalagem de macarrão instantâneo, 445 quilocalorias.

Portanto, o que geralmente engorda é o consumo de alimentos pouco nutritivos e altamente calóricos muitas vezes utilizados para substituir o arroz ou as refeições tradicionais.

É certo ainda que o arroz branco polido, costumeiramente ingerido pelo brasileiro, perde grande parte de seus nutrientes durante o processamento industrial, preservando carboidratos e proteínas.

A despeito disso, felizmente, esta não é a única forma possível de saborear o cereal. Vale lembrar que a combinação típica do arroz com feijão eleva a qualidade nutricional do produto.

Há também o grão integral, que conserva todos os nutrientes do arroz e quando bem feito torna-se tão soltinho e gostoso quanto o produto convencional.

Existe ainda o arroz parboilizado, cujos grãos passam por um tratamento hidrotérmico que ajuda a manter o valor nutritivo, assim como no caso do arroz integral.

E quem pensa que o produto só vai à mesa na forma de grãos se engana. Atualmente, o farelo do arroz, um subproduto da industrialização, é utilizado na elaboração de cereais matinais, bolachas e pães.

Existe até uma empresa em Santa Catarina que usa a massa alimentícia do arroz para produzir um tipo de macarrão consumido por descendentes de países asiáticos no Brasil. A vantagem deste produto sobre aquele feito a partir do trigo é justamente não conter glúten, o que permite sua apreciação por celíacos.

Também no uso industrial, o amido de arroz acetilado é empregado para reduzir o teor de gordura de alguns biscoitos fritos. Isso porque a substância tem a propriedade de diminuir a absorção de óleo durante o preparo do alimento.

Outro exemplo adicional é o de uma empresa de Los Angeles (EUA) que mistura a farinha do arroz aos populares chips. Com isso, a companhia conseguiu melhorar a textura do produto comercializado, tornando-o mais crocante e macio e não quebradiço e duro.

A classe médica, por sua vez, tem chamado a atenção para uma outra característica do arroz. Alguns profissionais apontam uma função terapêutica, a saber, o auxílio no combate a diabetes. Isso é atribuído ao modo lento e gradual em que o cereal é absorvido pelo organismo, apresentando baixo índice glicêmico.

Inclusive, o farelo de arroz, desde que se procedam ajustes em sua conservação, poderia virar ingrediente da farinha multimistura, uma opção barata e eficaz para reverter a desnutrição de crianças atendidas pela Pastoral da Criança no Brasil.

Enfim, nada depõe contra o arroz para lhe conferir a má fama. A percepção errônea disseminada por várias pessoas não se sustenta sob argumentos e tem sua origem em algo infelizmente bastante comum: mero preconceito.


PRISCILA ZACZUK BASSINELLO
PESQUISADORA DA EMBRAPA ARROZ E FEIJÃO

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