O arroz no coração do Brasil

 O arroz no coração do Brasil

Os cientistas desenvolveram cultivares adaptadas ao cerrado e com qualidade de grãos, revolucionando a orizicultura do Brasil Central

Embrapa é atriz principal na história do arroz de terras altas do Centro-oeste.

A cultura do arroz de terras altas, pouco exigente em insumos e tolerante a solos ácidos, teve um destacado papel como cultura pioneira durante o processo de ocupação agrícola dos cerrados, iniciado na década de 60. O sistema de exploração caracterizava-se pelo baixo custo de produção, devido à baixa adoção das práticas recomendadas, incluindo semeaduras tardias. A significativa ocorrência de veranicos fazia com que a cultura apresentasse uma produtividade média muito baixa, ao redor de uma tonelada/hectare, sendo considerada como de alto risco e gerando centenas de casos de Proagro (seguro agrícola). 

Em 1974, foi criado em Goiânia o Centro Nacional de Pesquisa de Arroz e Feijão da Embrapa (CNPAF), cujo foco inicial foi a criação de cultivares de arroz de sequeiro, com características de rusticidade, tolerância à seca e à brusone. Nesse período era mais importante conferir estabilidade de rendimento às lavouras que promover saltos de produtividade. 

Em 1983, o Ministério da Agricultura instituiu as comissões de avaliação e recomendação de cultivares (CRAR), que estreitaram os laços de parceria entre as instituições públicas de pesquisa das principais regiões onde o arroz se fazia presente. A partir de um amplo trabalho em parceria, foram lançadas, em 1986, as cultivares Guarani e Rio Paranaíba. Ambas tiveram expressivo papel até meados da década de 90, cobrindo boa parte da área de arroz de sequeiro. 

Tais cultivares, assim como a maioria dos lançamentos subse-qüentes, possuíam tipo de planta tradicional (alta estatura, folhas longas e decumbentes, grãos longos e largos), característico do grupo japônica tropical. Ajustavam-se ao contexto vigente da orizicultura, ou seja, a abertura de áreas provenientes da expansão da fronteira agrícola.

 

Salto de qualidade

Além do crescimento do potencial produtivo, com conseqüente maior benefício dos insumos aplicados, as novas cultivares de terras altas lançadas pela Embrapa Arroz e Feijão e parcerias propiciaram também um substancial aumento da aceitação do produto pela indústria e consumidores. Este fato tem atraído indústrias do sul do país, principalmente para a região centro-Além do crescimento do potencial produtivo, com conseqüente maior benefício dos insumos aplicados, as novas cultivares de terras altas lançadas pela Embrapa Arroz e Feijão e parcerias propiciaram também um substancial aumento da aceitação do produto pela indústria e consumidores. Este fato tem atraído indústrias do sul do país, principalmente para a região centro-norte do Mato Grosso. 

Esse estado, atualmente o segundo produtor de arroz do país, apresenta condições extremamente favoráveis ao arroz de terras altas. Em lavouras bem conduzidas, podem ser alcançadas produtividades ao redor de quatro toneladas/hectare, enquanto em nível experimental têm sido obtidas mais de seis toneladas/hectare. 

Mas o novo cultivo de arroz de terras altas ainda tem muitos desafios, sendo que o principal deles é consolidar sua presença como integrante de sistemas de produção de grãos, onde a soja é, sem dúvida, a cultura principal. Nesse sentido, a pesquisa prioriza ações que visam adaptá-la ao sistema de plantio direto, tanto para o sistema de rotação com soja como para a reno-vação de áreas degradadas. Também fazem parte da agenda de pesquisa o sistema sob irrigação suplementar e o de abertura de novas áreas.

 

A evolução das cultivares

Apesar de um panorama inicial pouco promissor para a adoção de tecnologias, a pesquisa já oferecia, desde a década de 80, além de cultivares adaptadas, um leque de alternativas para minimização do risco climático nos municípios do Centro-oeste, incluindo classificação do grau de risco dos municípios produtores (zoneamento agroclimático), adequação da época de semeadura e do ciclo da cultivar, preparo de solo e manejo de fertilizantes visando aprofundamento radicular e aumento da reserva útil de água do solo, além de técnicas do manejo integrado de pragas, doenças e plantas daninhas. 

Com a progressiva redução das áreas de abertura, a área cultivada com arroz de sequeiro foi sendo gradativamente reduzida, ao mesmo tempo em que a fronteira agrícola se moveu no sentido sudeste-noroeste. A conseqüência desse movimento foi a redução do risco climático, o que tornou mais propícia a aplicação das tecnologias recomendadas pela pesquisa. 

Para este novo cenário, o programa de melhoramento da Embrapa, em parceria com o Ciat, Cirad e empresas estaduais de pesquisa, concentrou seus esforços no tipo de planta moderno (estatura e perfilhamento intermediários, folhas eretas) e priorizou fortemente o tipo de grão longo fino, para tornar o produto mais competitivo com o do arroz irrigado. 

As primeiras cultivares “agulhinha de sequeiro”, BRS Primavera e BRS Maravilha, lançadas em 1996, representam um marco histórico para a cultura, ao dotá-la de maior competitividade. 
 

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