O arroz virou commodity

 O arroz virou commodity

Parboilizado: mercado em expansão

Cereal nacional era praticamente descaracterizado como commodity, mas isso tudo mudou em 2008
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Embora ainda esteja em pleno decorrer, 2008 já pode ser considerado o ano em que o arroz brasileiro se trans-formou definitivamente em commodity. Até a crise mundial dos alimentos, o mercado internacional flutuava de uma forma que pouco atingia o mercado interno. Hoje os preços internos estão sendo puxados basicamente pelos preços do mercado internacional, ou seja, a alta nas cotações dos países exportadores provocou uma elevação dos preços no mercado doméstico. 

Na análise do vice-presidente da Federarroz, Marco Aurélio Tavares, a safra brasileira de arroz se caracterizou por uma situação totalmente inusitada e paradoxal, sobretudo a partir do recorde de produtividade obtido no Rio Grande do Sul, que acabou determinando uma safra também recorde no estado. Segundo dados do Irga, a produção atingiu 7,5 milhões de toneladas e a produtividade bateu sete mil quilos por hectare. Foi a segunda maior da história do RS e a melhor em preços pagos ao produtor. 

Este desempenho, de acordo com Tavares, acabou colocando o RS no mesmo patamar dos grandes produtores mundiais, isto é, entre os cinco maiores países em eficiência de produtividade. “Talvez o Rio Grande do Sul fique somente atrás da Aus-trália, dos EUA e do Egito”, observa. “Paralelamente, a partir do mês de abril, tivemos uma situação de preços internacionais totalmente altista, já sinalizados anteriormente pela Bolsa de Chicago e que culminaram com os preços internacionais acima do patamar de um mil dólares a tonelada, atingindo preços históricos próximos a 1,1 mil dólares/tonelada do arroz tailandês e do long grain americano”. 

Esta conjuntura, na avaliação de Tavares, fez com que houvesse uma recuperação “extraordinária” nos preços internos a partir do final de março e começo de abril, atingindo patamares históricos em dólar, quase similares aos obtidos na safra 2003/2004. “Ocorrido isso, o mercado internacional voltou a praticar preços dentro de uma outra normalidade, principalmente depois que países como Tailândia, Camboja e Vietnã cancelaram as suas restrições às exportações”, explica o vice-presidente da Federarroz. 

Com isso o mercado se tornou mais fluído, passando a registrar um incremento no volume de negócios e na própria demanda mundial. “As informações que nos chegam é que a Tailândia deverá negociar este ano 10 milhões de toneladas contra 9,5 milhões do ano passado. O mercado internacional passou a apresentar um acomodamento de preço na faixa de 800 dólares e conseqüentemente, com essa queda nominal de 20%, o mercado interno também criou um acomodamento”, avalia Tavares.

 

FIQUE DE OLHO

As alterações no cenário de oferta global passaram a impulsionar o comércio internacional de arroz. O mercado interno – e o gaúcho por excelência – apresentou igual volatilidade ao mercado externo. De acordo com Marco Aurélio Tavares, os países do Mercosul, principalmente Uruguai e Argentina, passaram a direcionar grandes volumes de arroz para terceiros mercados em razão dos preços serem muito mais atrativos que o mercado brasileiro. 

Com isso as importações foram as menores dos últimos cinco anos, totalizando algo em torno de 150 mil toneladas apenas nos últimos quatro meses. Trata-se de um número extremamente reduzido, considerando que este volume é praticamente a metade das importações do mesmo período na safra passada, quando o Brasil importou um milhão de toneladas.

 

Uma questão de valorização

Para o analista de mercado do Irga, Camilo Oliveira, a redução das importações reflete a valorização do arroz no mercado internacional, o que faz com que o Uruguai e a Argentina enviem seu produto para outros países. Outro fator é a restrição das expor-tações na Argentina, em decorrência de medidas do Governo local, acrescentou Oliveira. 

Paralelamente, no período de março a junho, que é o primeiro quadrimestre do ano agrícola, as exportações atingiram 180 mil toneladas. A expectativa inicial era de que o Brasil exportasse 400 mil toneladas de arroz em 2008, mas já se projeta algo em torno de 600 mil a um milhão de toneladas. 

Na avaliação de Tavares, é possível que o país exporte volume igual ao que importará do Mercosul. “No meu entendimento, a balança deverá ficar praticamente emparelhada, no zero a zero, ou seja, 700 mil toneladas de importação e 700 mil toneladas de exportação . Não acredito que vá ocorrer um déficit de importação ou um superávit de exportação. Infelizmente eu desconfio deste dado. Eu acho que o mercado interno vai absorver ainda alguns excedentes do Uruguai e da Argentina”. 

Para o ano que vem o cenário que se avizinha é similar, mas não com a mesma volatilidade, estima o vice-presidente da Federarroz. “Há uma expectativa de pequeno incremento de 1% na produção mundial. Em contrapartida as exportações que estavam previstas em 30 milhões de toneladas em 2008 – e que acabaram reduzindo para 27 milhões e conse-qüentemente determinaram esse movimento de alta no ano que vem – deverão cair para 28 milhões. Tran-qüilamente, o mercado internacional, no meu entendimento, vai operar em uma faixa de 650 a 700 dólares, o que é praticamente quase o dobro do praticado no ano passado”.

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