O berço no sol nascente

Literatura chinesa fala de arroz há 5 mil anos .

Bem antes de qualquer evidência histórica, o arroz foi, provavelmente, o principal alimento e a primeira planta cultivada na Ásia. As mais antigas referências ao arroz são encontradas na literatura chinesa, há cerca de cinco mil anos. O uso do cereal é muito antigo na Índia, sendo citado em todas as escrituras hindus.

Variedades especiais, usadas como oferendas em cerimônias religiosas, já eram conhecidas em épocas remotas. Certas diferenças entre as formas de arroz cultivadas na Índia e sua classificação em grupos, de acordo com ciclo, exigência hídrica e valor nutritivo, foram mencionadas por volta do ano 1.000 a.C. Da Índia, essa cultura provavelmente estendeu-se à China e à Pérsia, difundindo-se, mais tarde, para o sul e o leste, passando pelo Arquipélago Malaio, e alcançando a Indonésia, em torno de 1.500 a.C.

A cultura é muito antiga nas Filipinas. No Japão foi introduzida pelos chineses cerca de 100 anos a.C. Até sua introdução pelos árabes no Delta do Nilo, o arroz não era conhecido nos países mediterrâneos. Os sarracenos levaram-no à Espanha, e os espanhóis, por sua vez, à Itália. Os turcos introduziram o arroz no sudeste da Europa, de onde alcançou os Bálcãs.

Na Europa, o arroz começou a ser cultivado nos séculos VII e VIII, com a entrada dos árabes na Península Ibérica. Foram, provavelmente, os portugueses que introduziram esse cereal na África Ocidental, e os espanhóis, os responsáveis pela sua disseminação nas Américas. Teses apontam o Brasil como pioneiro nas Américas. Alguns autores apontam o Brasil como o primeiro país a cultivar o arroz no continente americano.

 

Linha do Tempo

1500 – O arroz era conhecido, nos primórdios do país, como “milho d’água” (abati-uaupé) que os tupis, muito antes de conhecerem os portugueses, já colhiam nos alagados próximos ao litoral. Segundo dados da Embrapa Arroz e Feijão, de Goiás, consta que integrantes da expedição de Pedro Álvares Cabral, após uma peregrinação por cerca de cinco quilômetros em solo brasileiro, traziam consigo amostras de arroz, confirmando registros de Américo Vespúcio que trazem referência a esse cereal em grandes áreas alagadas do Amazonas. Em 1587, lavouras arrozeiras já ocupavam terras na Bahia.

1700 – Por volta de 1745, o arroz chega no Maranhão. Em 1766, a Coroa Portuguesa autorizou a instalação da primeira descascadora de arroz no Brasil, na cidade do Rio de Janeiro.

1800 – A prática da orizicultura no Brasil, de forma organizada e racional, aconteceu em meados do século XVIII, e daquela época até a metade do século XIX, o país foi um grande exportador de arroz.

2000 – Começa o cultivo no Rio Grande do Sul do arroz irrigado. Hoje o RS é o maior produtor e o estado que tem a melhor qualidade de produção e produtividade.

 

O arroz na terra brasilis

Arroz Irrigado – A cultura do arroz no Brasil é cultivada em dois ecossistemas, várzeas e terras altas. O ecossistema de várzeas representou cerca de 40% da área total sob a cultura, de 3,5 milhões de hectares, contribuindo com 60% da produção de 10 milhões de toneladas, na safra 98/99. Nesse ecossistema predomina o sistema de cultivo com irrigação controlada, que ocupa cerca de um milhão de hectares na região subtropical (RS e SC), onde a cultura é manejada sob alto nível tecnológico e apresenta rendimento médio ao redor de 5,5 toneladas por hectare.

Arroz não-irrigado – O ecossistema de terras altas desempenhou um papel de grande relevância na produção de arroz sob o sistema de cultivo de sequeiro, nas décadas de 60 e 80, em que a cultura chegou a ocupar 4,5 milhões de hectares. Devido à sua rusticidade e adaptação a solos ácidos, foi uma alternativa altamente satisfatória para o desbravamento dos cerrados. Mas desde a década de 80, em decorrência do alto risco da exploração e da redução da área de fronteira agrícola, a área sob a cultura no sistema de sequeiro decresce, atingindo menos de dois milhões de hectares. Atualmente o arroz de terras altas é raramente usado para abrir novas áreas, e a área cultivada na região Centro-oeste migrou para as regiões de adequada distribuição pluviométrica, em especial o centro-norte do Mato Grosso. A redução do risco climático renovou o interesse pela cultura e possibilitou a adoção das tecnologias recomendadas pela pesquisa. Nota-se sua gradual inserção em sistemas agrícolas de alto nível tecnológico, seja em rotação com soja e milho, em associação com pastagens ou mesmo sob pivô central, sob irrigação suplementar. Como o cultivo mínimo é uma prática generalizada nos cerrados, o arroz está sendo adaptado a esse novo ambiente. Na região NE, e de forma pulverizada nas regiões Centro-oeste, Sudeste e Nordeste, o arroz sob o ecossistema de terras altas também é cultivado para autoconsumo por pequenos produtores que usam baixo nível de tecnologia.

 

Agenda do Século

O arroz em Cachoeira do Sul

O município de Cachoeira do Sul por muito tempo foi o maior produtor de arroz do Brasil. Veja os principais passos desenvolvidos pelas pessoas que fizeram deste município gaúcho a Capital Nacional do Arroz

1892 – Gaspar Barreto, às margens do Arroio Santa Bárbara, iniciou uma pequena lavoura de arroz, auxiliado por Lotário Vasconcelos, nos trabalhos de irrigação.

1894 – Marcelino Gonçalves da Fonseca, represando o Arroio Capanezinho, plantou uma lavoura de arroz, medindo cerca de 10 quadras (17 hectares).

1897 – Capanezinho, os irmãos Sabino, Anibal e Manoel Pereira da Silva cultivaram uma lavoura de arroz, com mais ou menos 15 quadras.

1898 – Cristóvam Xavier e Horácio Policarpo plantaram arroz irrigado com água represada da Sanga Divisa, no distrito de Jeribá.

1904 – Iniciavam a plantar arroz Eurípedes Mostardeiro e Sabino Pereira da Silva.

1905 – A primeira lavoura com irrigação mecanizada, em terras de Fidelis Prates, tendo sido colhidos ao redor de 10 mil sacos de arroz. Outra lavoura precursora na irrigação mecânica foi a da firma Franke & Cia (1906), de Jorge Hugo Franke.

1907 – Surgem dois engenhos para o beneficiamento e comércio do arroz: o Grande Engenho Central e o Engenho Danzmann.1

1908 – Às margens do Arroio Piquiri, foi cultivada outra lavoura, de propriedade de João Leitão. Logo depois, o bacharel Batista Carlos, o médico Balthazar de Bem e Alfredo Souto cultivaram grandes áreas de arroz irrigado pelo processo mecânico. Cachoeira do Sul foi a pioneira na implantação do sistema de irrigação com levantes de água por processo mecânico. As variedades mais cultivadas foram Carolina e Agulha Santo Ângelo.

1910 – Foram feitas experiências com outras variedades, como a Ringhino e a Originário.

1911 – Introduzidas sementes italianas, como a variedade Piemonte. Em 1918, a variedade Japonês, declinando a cultura do agulha, começada em 1915.

1912 – Cachoeira produziu 350.000 sacos de arroz.

1916 – Cachoeira possuía 129 lavouras de arroz instaladas com levantes mecânicos, utilizando 180 locomóveis. As lavouras concentraram-se basicamente nas margens do Rio Jacuí e nas margens dos arroios Capané, Irapuá e Piquiri, além das margens do Rio Botucaraí. Cachoeira do Sul passou de importadora a exportadora de arroz.

1920 – Na década de 20, surgem vários engenhos de beneficiamento de arroz no município: Moinho Cachoeirense (1919), E. Stracke & Cia (1920), Engenho Brasil (Reinaldo Roesch, 1921), Engenho Willy Tesch e Irmãos Trevisan (1924). Posteriormente, engenhos São João (1938), Bacchin-Lewis (1943) e Alfredo Treichel (1963). Em 1920, o arroz constituía a principal cultura do município, representando 50% do valor da produção geral de todos os cereais. Em 1922 foram exportados 192.280 sacos de arroz. Em 1928, 230.416 sacos exportados.

1931 – Começam a ser plantadas as variedades Blue Rose e Edith Long. O Japonês foi substituído aos poucos por EEA 401, EEA 404, EEA 405, EEA 406, Farroupilha, EEA 301, EEA 302, EEA 303, EEA 304, Zenith.

1940 – Ocorre o 1º Congresso Orizícola em Cachoeira do Sul. A safra de 1941 teve produtividade média de 2.900 quilos por hectare, numa área plantada em torno de 22 mil hectares. A União Central de Rizicultores, fundada em 1939, lançou a iniciativa da Festa do Arroz.

1976 – 28,44% das lavouras eram irrigadas com água recalcada, 49,6% com irrigação natural e 22% pelo sistema misto (mecânico e natural), simultaneamente.

1996 – A safra de arroz chega a atingir 138 mil toneladas, podendo ser considerada surpreendente em razão de todos os problemas enfrentados pelos lavoureiros, tais como a seca, demora nos financiamentos, falta de adubo, chuvas em excesso e frio.

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