O céu não é o limite

 O céu não é o limite

Matéria-prima: expectativa de preços melhores até o fim do ano

Mercado reage e valoriza
o arroz em 2012, mas onde
os preços vão parar?.

O céu não será o limite para os preços do arroz em casca, que na primeira quinzena de agosto ultrapassaram a faixa de R$ 42,00 no Mato Grosso, R$ 28,00 em Santa Catarina e de R$ 31,80 no Rio Grande do Sul. Embora haja escassez de oferta, prognósticos de uma safra menor em 2012/13 e nas exportações, esta trajetória pode ser afetada pelo aumento das importações ou mesmo a liberação de estoques do governo federal. Há 1,8 milhão de toneladas de estoques públicos nos armazéns gaúchos e a disponibilização parcial é reivindicada pela indústria para dar fluidez ao mercado. Os produtores desaprovam a medida e, por ora, estão sensibilizando o governo.

Em 2011, os preços estiveram quase todo o ano abaixo do mínimo do governo federal, congelado também para a próxima safra em R$ 25,80. Em 2012, desde março, as cotações mantiveram uma escalada firme, valorizando até o patamar de R$ 31,88 em 10 de agosto, pelo indicador Cepea. A tendência, segundo o analista Eduardo Aquiles Souza, da Safras & Mercado, é de que as cotações subam um pouco mais.

“Há fôlego para isso no cenário atual, mas não se pode esquecer que uma liberação de estoques do governo ou mesmo a pressão do Mercosul para desovar estoques no Brasil afetariam os pilares desta alta, que é a falta de oferta no mercado interno”, destaca. Por outro lado, Souza reconhece que a manutenção da estiagem, até o início do plantio, entre outros complicadores climáticos, poderá ampliar a escalada de valorização do arroz. É importante que o agricultor se mantenha atento às informações de mercado.

O presidente da Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz), Renato Rocha, crê que o governo não vai ofertar grão às indústrias por dois motivos. Primeiro, um levantamento do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga) indica aumento no beneficiamento de arroz pelo estado em 2012, apesar da safra menor.

Em segundo, a alta da matéria- prima, até agora, teve baixo impacto sobre a inflação e os preços ao consumidor. “Além disso, baratear o preço do arroz em casca é um tiro no pé, pois o governo mesmo terá que socorrer em seguida com mecanismos de opção se as cotações caírem muito”, avalia. Há também garantias de que o governo não liberará estoques.

Renato Rocha considera ainda que o aumento das importações do Mercosul ganhou um complicador muito eficiente em agosto, com a aprovação da medida provisória que resgatou a incidência do PIS/Cofins sobre o arroz importado.

A taxa é de 9,25% sobre o valor do produto, o que cria um equilíbrio maior entre o preço do grão nacional e do importado. “Acreditamos que, pela situação cambial e o mercado fidelizado, as exportações se manterão, podendo fechar acima de 1,5 milhão de toneladas, e as importações não vão crescer substancialmente, pelo maior equilíbrio com os preços internos com o PIS/Cofins, CDO e um processo de equalização iniciado pelo governo brasileiro”, afirma.

Ainda assim, os arrozeiros esperam o estabelecimento de cotas de importação para os três países do Mercosul.

QUESTÃO BÁSICA
Um dos fatores que é determinante para o menor fluxo de oferta de arroz por parte dos arrozeiros que ainda têm o produto estocado é o anúncio do governo federal de que será criado até outubro um plano nacional de repactuação das dívidas dos arrozeiros. Só no Rio Grande do Sul, a dívida acumulada pelo setor chega a R$ 3,1 bilhões, razão pela qual mais de 60% dos produtores não têm acesso ao crédito oficial. Com os vencimentos dos financiamentos de custeios e investimentos prorrogados para outubro e a previsão de um plano que permitirá ao arrozeiro pagar em 30 anos seus débitos, estima-se que uma boa parte dos produtores voltará a usar o crédito oficial e não precisará ofertar a integralidade de seu arroz em época concentrada.

Preços sustentados por escassez de oferta

Tiago Sarmento Barata, analista da Agrotendências Consultoria em Agronegócios, considera que os preços atuais são fruto da escassa oferta por parte do produtor. “Hoje, os preços se sustentam pelas condições do mercado interno, de safra menor e baixa oferta de matéria-prima para a indústria, além das vendas externas. Mas sempre há o risco das importações e de uma ação do governo. Não podemos esquecer que vivemos um ano eleitoral, quando historicamente o risco de inflação e os interesses políticos falam mais alto”, lembrou.

Para os produtores, a alta dos preços vai até o início da próxima safra, com alguns deles já cogitando preços de R$ 34,00 por saca em 60 a 90 dias. Para os analistas de mercado, este poderá ser um pico de preços, mas não há garantias de que o valor se mantenha.

No momento que o governo considerar que há algum risco de inflação por causa do arroz, liberará estoques. E, mesmo com a tributação de PIS/Cofins e CDO, os países do Mercosul não vão “micar” com parte da produção estocada e farão qualquer negócio para jogar o produto no seu maior mercado importador, ou seja, o Brasil.

O que definirá os preços no segundo semestre?

Alguns fatores altistas

. Safra menor em 2011/12
. Escassez de oferta de matéria-prima
. Exportações com bom fluxo
. Importações abaixo do esperado
. Prorrogação das dívidas e repactuação do passivo dos arrozeiros, de R$ 3,1 bilhões
. Baixa capacidade de irrigação pelo não restabelecimento dos mananciais em razão
da estiagem
. El Niño com chuvas na época do plantio e previsão de baixa produtividade e produção para a safra 2012/13
. Seca nos EUA, maior concorrente brasileiro no mercado internacional de arroz, que gera uma quebra na safra e freia a queda dos preços no continente
. Bom desempenho do Uruguai nas exportações para terceiros mercados
. Aumento da tributação do arroz importado
. Doações humanitárias de 400 mil toneladas de estoques públicos pelo governo federal
. Ampliação da área cultivada com soja e milho na várzea, substituindo o arroz

Alguns fatores baixistas

. Liberação de estoques públicos para a indústria pelo governo federal
. Aumento da oferta interna do grão
. Aumento das importações
. Redução das exportações
. Plano de repactuação das dívidas arrozeiras não satisfatório aos produtores
. Recuperação dos mananciais e boas condições de clima para a próxima safra
. Aumento da área plantada para 2012/13
. Aumento de preços ao consumidor
. Mau desempenho das culturas alternativas em várzea

Deixe um comentário

Postagens relacionadas

Receba nossa newsletter