O clima esquentou

 O clima esquentou

Machado: a água da lavoura retorna

Estiagem acirra debate
entre políticos e lavoura
na região metropolitana

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A estiagem no Rio Grande do Sul, provocada pelo fenômeno climático La Niña, fez também esquentar o “tempo” entre políticos da região metropolitana e arrozeiros em plena safra. Enquanto isso o Conselho Permanente de Agrometeorologia Aplicada do Rio Grande do Sul (Copaaergs) prevê que a seca se estenderá até pelo menos o final de março, com perdas muito significativas nas culturas do seco em razão da falta de chuvas e também da má distribuição das precipitações que ocorrem.

Nas regiões da campanha e fronteira-oeste o acumulado de precipitações ficou abaixo de 40% do previsto para o último trimestre de 2011. Na primeira quinzena de janeiro as chuvas ficaram abaixo de 30 milímetros na campanha, depressão central e fronteira-oeste, que respondem por mais de 60% da produção gaúcha. O arroz, cultura irrigada e que utiliza reservação de água em açudes e barragens, além do aproveitamento de mananciais como rios e arroios, teve prejuízos localizados.

A maior preocupação está direcionada à região do entorno de Santa Maria, na depressão central, e na campanha, em pontos isolados, com baixo volume de precipitações e algumas barragens secas em razão da necessidade de “banhar” o terreno para a germinação, o que consumiu a água de irrigação.

O diretor-técnico do Irga, Valmir Gaedke Menezes, prevê que no final de fevereiro será possível prever mais claramente a real dimensão dos danos na lavoura arrozeira, mas que serão significativamente menores que nas culturas do seco, como soja e milho. “O arroz tem boa capacidade de recuperação e chovendo no momento certo, as perdas podem ser minimizadas”, revela.

POLÊMICA
Em meio às dificuldades do setor foi criada uma polêmica nas cidades da região metropolitana de Porto Alegre. O prefeito de São Leopoldo, Ari Vanazzi (PT), indicou os arrozeiros como principais responsáveis pela falta de água para o abastecimento da cidade, a partir da queda de vazão do Rio dos Sinos, e iniciou uma mobilização política para que mesmo com licença ambiental e outorga para uso da água, além de acordo ratificado no Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio dos Sinos, os produtores deixassem de utilizar a água do rio na irrigação de suas lavouras.

A posição foi rechaçada pelo setor com base em argumentos sólidos, mas a ameaça política permanece. A lavoura arrozeira chegou a ser acusada levianamente por alguns segmentos de estar causando a morte de peixes verificada no rio, por onde escorre boa parte do esgoto industrial e doméstico das cidades da região metropolitana, numa flagrante tentativa de distorcer a realidade. Os arrozeiros provam que, além de autorização para uso da água até os níveis acordados no Comitê Sinos, investiram pesadamente e reduziram pela metade o uso da água do rio para irrigação nos últimos cinco anos, além de apresentarem estudos que mostram que a água volta ao rio em melhores condições de qualidade do que saiu. “Toda a água da lavoura retorna, de alguma forma, à sociedade”, avisa o vice-presidente da Federarroz no litoral norte, Luiz Carlos Machado, em nome dos produtores do Vale do Rio dos Sinos.

Os arrozeiros dizem que há diversos pontos indicados para a construção de barragens no rio, capazes de minimizar os efeitos da estiagem sobre o abastecimento em geral na região metropolitana, mas não há interesse político manifestado. Além disso, cobram fiscalização sobre os resíduos industriais jogados no rio e a ampliação de redes de esgoto domiciliar e estações de tratamento, verdadeiras causas da morte de peixes e da má qualidade da água do Rio dos Sinos, seja com que vazão este estiver.

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