O comércio internacional de arroz no Mercosul

 O comércio internacional de arroz no Mercosul

O grande mercado consumidor da produção orizícola do Mercosul permanece sendo o Brasil. As distorções causadas pela “guerra fiscal” entre as unidades da federação brasileira e as diferenças cambiais existentes entre os países do bloco reduzem a competitividade do arroz nacional frente aos competidores do Mercosul. Por isso, mesmo nos anos em que a produção brasileira apresentou excedente – caso da safra 2004/2005 – as importações prosseguiram, ampliando a oferta e contribuindo para o achatamento dos preços no mercado interno.

Apesar disso, a crise estabelecida pelo “desbalanceamento” entre oferta e demanda contribuiu para que o Mercosul abrisse novas frentes de mercado, transpondo as fronteiras do continente e consolidando sua posição no mercado internacional. Entre março e setembro de 2006, Argentina, Brasil e Uruguai exportaram para países fora do Mercosul 928 mil toneladas (base casca). Até dois anos atrás, exportava menos de 25% desse volume. O destino principal do produto oriundo do Mercosul têm sido Oriente Médio e África, com destaque para Irã, no caso uruguaio; Iraque, no caso argentino, e Senegal, em relação ao Brasil. Além dessas regiões, a América do Sul e o Caribe aparecem como potenciais compradores do arroz produzido no ápice do Cone Sul.

Esse volume, de praticamente um milhão de toneladas de arroz exportados para países extrabloco, demonstra o real potencial que a produção orizícola possui nos países integrantes do Mercosul. E para manter a posição de mercado será necessário o esforço das lideranças desses países para que se forme a condição de cooperação necessária para competir internacionalmente, pois além dos problemas estruturais enfrentados pelas economias em desenvolvimento, no caso agrícola, é preciso competir com os fartos subsídios destinados a exportação e as barreiras impostas pelas economias desenvolvidas.

 

Exportações argentinas

Em 2006 (janeiro a outubro), a Argentina exportou um volume total de 566.750 toneladas (base casca), tendo o Brasil como principal destino, 51,5%. Em termos monetários, essa comercialização significou um ingresso de 88,1 milhões de dólares para os exportadores argentinos. O segundo maior mercado foi o Chile, que comprou 124.963 toneladas, seguido pelo Iraque, que adquiriu 46.111 toneladas. O mês de agosto apresentou o maior volume exportado, totalizando 121,7 mil toneladas, e em contraposição, os meses de fevereiro e março apresentaram as menores quantidades, 34,7 mil e 32,7 mil toneladas respectivamente.

Em relação à classificação do arroz, 60,6% do produto exportado foi beneficiado, 30,5% esbramado, 8,7% quebrado e apenas 0,2% de arroz em casca (gráfico 1). Observa-se que no caso brasileiro as aquisições de arroz da Argentina dividem-se entre o arroz beneficiado (146,4 mil toneladas) e o esbramado (146,4 mil toneladas), sendo que somente 1,1 mil toneladas foram de arroz em casca (tabela 2).

Outra informação interessante é que o país exporta, além do Brasil, para mais 26 destinos, incluindo países da Europa, como Espanha, Alemanha e Reino Unido. A melhoria dos preços internos no mercado brasileiro deverá estimular um aumento no volume exportado para o Brasil, visto que de janeiro a julho a média mensal internalizada no Brasil era de 24,9 mil toneladas, passando, no último trimestre, para uma média mensal de 39,01 mil toneladas (base casca).

 

Exportações uruguaias

O Uruguai é o país com maior tradição no mercado internacional dos países do Mercosul, com freqüentes embarques para o Oriente Médio e para as Américas. No período de março a setembro de 2006, o Uruguai exportou cerca de 424,6 mil toneladas (tabela 3), equivalente a 624,2 mil (base casca). Em termos monetários, comercializou 117,4 mil dólares, sendo 31,3% com o Brasil e 29,3% com o Irã (gráfico 2). Uma das vantagens em ampliar os destinos das exportações refere-se aos maiores ganhos. Enquanto as exportações destinadas ao Brasil obtiveram receita unitária de 262,71 dólares por tonelada, as exportações para o Irã geraram 312,98 dólares por tonelada, ou seja, 19,1% superiores aos valores alcançados com as vendas ao Brasil. O Haiti e o Iraque aparecem como importantes destinos para o arroz uruguaio. Os dois países representam 17% do total comercializado no período. 

 

Exportações brasileiras

Em termos de exportações de arroz, o Brasil é o país que mais cresceu. No ano passado exportou 399 mil toneladas (base casca), valor não alcançado desde a década de 1970. Em 2006, os números indicam que ultrapassará as 400 mil toneladas. Entre janeiro e outubro de 2006, 375,7 mil toneladas (base casca) deixaram os portos brasileiros. Em comparação ao mesmo período do ano anterior, houve incremento de 29,9% (tabela 4). Em termos monetários, o valor total exportado foi de 51,9 milhões de dólares. Senegal permanece como principal destino do arroz brasileiro (43,4%), seguido por Suíça (20,4%), Gâmbia (14%) e Benin (6,9%). O mês de agosto registrou o maior volume exportado, com 65,7 mil toneladas. Se o resultado alcançado até o momento perdurasse, a projeção seria de 450 mil toneladas comercializadas. Todavia, o aumento de preços no mercado interno deverá reduzir o ritmo dos embarques, principalmente do arroz beneficiado e esbramado. Por outro lado, o país consolidou-se no mercado de arroz quebrado (gráfico 3), devendo comercializar até o final do ano volumes próximos aos apresentados até o momento (média mensal de 30,3 mil toneladas no ano, base casca), confirmando a expectativa de exportação das 400 mil toneladas.

 

Gráfico 3 – Exportações brasileiras de arroz (toneladas base casca): janeiro a outubro de 2006

Quanto às importações, o Brasil comprou até outubro de 2006 um total de 650,1 mil toneladas de arroz (base casca). Os demais países do Mercosul exportaram para o Brasil 99,7% do volume total internalizado no país. O Uruguai é o maior fornecedor, com 48,4%, seguido da Argentina, com 43,6%, e do Paraguai, com 7,7%. Se comparados os dados de saída de arroz da Argentina para o Brasil (tabela 1) e os de entrada (tabela 5), verificam-se diferenças, ocasionadas por prováveis atrasos na entrada e registro do produto no Brasil. O arroz beneficiado representa 59,1% das importações, seguido do arroz esbramado, com 37,2% (gráfico 4). Em relação aos valores, o Brasil importou um total de 122,1 milhões de dólares. Com isso, a balança comercial brasileira para o produto arroz apresenta um déficit nominal de 70,2 milhões de dólares. A projeção é de que as importações deverão fechar o ano em torno de 800 mil toneladas (base casca), favorecidas pela recuperação dos preços internos no Brasil.

 

Gráfico 4 – Importações brasileiras de arroz (tonelada base casca): janeiro a outubro de 2006

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