O desafio da temporada árabe

 O desafio da temporada árabe

Dornelles: qualidade garante o mercado

Brasil trabalha para consolidar presença
no Oriente Médio
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A grande expectativa do mercado para 2014 é consolidar a sua presença no mercado do Iraque, que em novembro do ano passado anunciou o fim do embargo ao arroz brasileiro por meio de uma negociação intermediada pela Abiarroz junto à Câmara de Comércio Brasil – Iraque. O governo iraquiano promoveu uma licitação de compra de arroz e adquiriu 60 mil toneladas do grão, 30 mil do Brasil e 30 mil do Uruguai.

No entanto, o que preocupa a cadeia produtiva é o segundo embarque de arroz para o país árabe. Na primeira oportunidade, houve problemas porque o Iraque não aceitava as condições do fornecedor. Agora, o temor é que a empresa operadora local não consiga o volume e, especialmente, a qualidade necessária para embarcar. “Por ser um mercado que exige qualidade, a nossa maior preocupação é encher o navio com produto desta nova safra. Se algo negativo ocorrer neste carregamento, será muito difícil recuperar a imagem do Brasil como fornecedor perante o Iraque, que é um grande comprador mundial. Se tudo correr bem, certamente o Irã é outro país árabe que se tornará nosso cliente na sequência”, prevê Marco Aurélio.

A Cooperativa dos Agricultores de Plantio Direto (Cooplantio), da cidade gaúcha de Eldorado do Sul, que nos últimos dois anos já exportou arroz para Iraque, Arábia Saudita e Jordânia, pretende fazer novos embarques para estes países em 2014. No ano passado, não chegou a vender para a região, mas exportou para os africanos Angola, Nigéria e Benim (em volumes menores) e também para Venezuela, Nicarágua, Honduras e Peru, além de alguns europeus.
Nos anos de 2011 e 2013, a cooperativa gaúcha chegou a embarcar em torno de 150 mil toneladas de arroz, mas em 2013 as vendas internacionais caíram para 100 mil toneladas. Embora exporte arroz em casca, a maior parte do volume exportado pela Cooplantio é do produto beneficiado. Para o mundo árabe é enviado o arroz branco e para os africanos vai o parboilizado, enquanto os europeus costumam comprar arroz integral. A Cooplantio também inovou e foi uma das primeiras empresas a exportar arroz em contêineres, em volumes menores, mas com valor agregado por adequar o cereal às especificidades do cliente.

FIQUE DE OLHO
No projeto desenvolvido pela Apex-Brasil e a Associação Brasileira das Indústrias do Arroz, com apoio do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga) e outras instituições, originalmente o mercado visado pelo Brasil no Oriente Médio é a Arábia Saudita, especialmente porque o Iraque compra arroz ensacado, o que gera custo e diminui a competitividade brasileira. No entanto, como surgiu a oportunidade de embarcar para o território iraquiano, a prioridade foi invertida temporariamente. Como o sistema é similar, o Brasil já pensa que, consolidando o mercado do Iraque, será possível acelerar as negociações com o vizinho Irã.

Capacitar é preciso

O gerente de projetos do Brazilian Rice, André Anele, é enfático ao afirmar que o Brasil vem evoluindo como país exportador e está ganhando notoriedade nas Américas como um produtor de qualidade. “O ano começa favorável em função da boa safra, mas é preciso ter volume para exportar, pois, quando os preços estão bons, praticamente toda a produção brasileira é direcionada para o mercado interno”, ressalta.

No entanto, a questão cambial, na avaliação de Anele, deve ser analisada com cuidado: “O problema não é quando o dólar está alto ou baixo, mas sim a oscilação do câmbio. Isso fez, por exemplo, com que o Brasil entrasse e saísse do mercado sul africano enquanto a Tailândia está lá faz 40 anos, criaram uma marca. Não basta abrir novos mercados, tem que fidelizar. As empresas de grande porte conseguem fazer esse jogo, as menores encontram mais dificuldade para se manter estáveis neste mercado”, explica.

Outro fator importante para o aumento das vendas de arroz brasileiro ao exterior, conforme Anele, é agregar valor ao produto exportado. “Temos que investir em novos produtos derivados de arroz e pratos prontos, além de trabalhar melhor o conceito de embalagem. As nossas embalagens em saquinhos estão fora do padrão mundial”, observa.

De acordo com Anele, a variável que o Brasil terá que trabalhar muito forte neste ano, além das questões de logística e infraestrutura portuária, é criar conhecimento dentro das empresas para lidar com comércio exterior. “No projeto Brazilian Rice, a gente identifica oportunidades de negócios para as empresas, mas muitas carecem de profissionais habilitados para trabalhar o comércio exterior e atender essa demanda do mercado externo. A principal barreira é a língua, tem que ter gente nas empresas que fale inglês e espanhol. Este é mais um ano para trabalharmos essa questão. Produto de qualidade nós temos, mas é preciso virar a chave, isto é, deixar de sermos compradores e aprendermos a vender o nosso arroz. A Argentina e o Uruguai já fazem isso há muito tempo e tornaram-se especialistas”, afirma.

Estoques x Doações
Em 2013, a Conab enviou 26.035 toneladas de arroz beneficiado (o equivalente a cerca de 38,2 mil toneladas de arroz base casca) a 16 países em situação de vulnerabilidade social e econômica e que sofreram com calamidades públicas. As doações proporcionaram suplementação alimentar e nutricional para 174 mil famílias durante um ano, o que corresponde a uma população estimada em 870 mil pessoas. No total, foram embarcadas 26.035 toneladas de arroz beneficiado para 16 países.

Os países assistidos foram Argélia (2.170 t), Bangladesh (895 t), Bolívia (300 t), Burundi (2.000 t), Congo (524 t), El Salvador (1.005 t), Equador (578 t), Etiópia (1.513 t), Guatemala (5.056 t), Honduras (7.596 t), Madagascar (1.000 t), Nicarágua (1.694 t), São Tomé e Príncipe (180 t), Somália (1.575 t), Uganda (118 t) e Zimbábue (64 t). As doações da Conab são coordenadas pelo Ministério das Relações Exteriores, em cooperação com os ministérios da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS).

As doações, embora abaixo do volume projetado no início do ano, ajudam a reduzir os estoques governamentais de arroz. A previsão é que, já no início da colheita da safra 2013/2014, em 1º de março de 2014, os estoques tenham caído para uma faixa entre 400 mil e 500 mil toneladas.

Para o presidente da Abiap, Marco Aurélio Amaral Júnior, uma estratégia interessante a ser adotada nas doações humanitárias de arroz efetuadas pelo Brasil seria a inclusão do arroz parboilizado nestes embarques. “Hoje estes países recebem doações, mas no futuro eles podem vir a ser compradores. Seria uma forma de apresentar o parboilizado para estes mercados até para criar um interesse. Veja a África, por exemplo, que hoje é o mercado que tem a maior demanda pelo produto”, argumenta.

Na China, a demanda vai exceder a produção

Por décadas, a produção cada vez maior da China permitiu que ela vendesse bem mais arroz do que comprava. Agora, o maior consumidor do grão no mundo também virou um grande importador. “Embora seja o maior produtor mundial de arroz,os chineses vêm precisando buscar arroz nos países vizinhos para suprir a sua demanda interna. De acordo com o USDA, neste ano, a importação deve ser de 3,4 milhões de toneladas (base beneficiado), significando um crescimento de 9,7% em relação ao volume importado no ano anterior, para minimizar o efeito de um déficit de 4,5 milhões de toneladas entre a produção e o consumo”, revela o analista Tiago Sarmento Barata, da Agrotendências Consultoria em Agronegócios.

Ele explica que, apesar da posição do estoque de arroz na China ser bastante elevada, as compras no mercado externo ocorrem como alternativa de matéria-prima mais barata. “A entrada da China no mercado internacional de arroz como um player importador traz boas expectativas para os exportadores, inclusive para os países do Mercosul, que dificilmente serão originadores deste produto neste primeiro momento”, estima Barata.

A possibilidade, conforme o analista, é de que Vietnã, Índia e Tailândia (principais potenciais fornecedores) passem a focar no mercado chinês, abrindo chances de expansão no mercado internacional para o arroz brasileiro, uruguaio e argentino, especialmente no Oriente Médio e continente africano. Enquanto isso, a Nigéria segue como o segundo maior importador mundial em 2013/14, com compras externas previstas em 3,0 milhões de toneladas em base casca, contra 2,9 milhões de toneladas em 2012/13. E este mercado pode voltar a abrir-se ao Brasil.

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