O Feitiço virou contra o feiticeiro

 O Feitiço virou contra o feiticeiro

Alta nos preços e excesso de chuvas no Sul fazem área crescer no MT

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O Mato Grosso, segundo maior produtor de arroz do Brasil, surpreendeu na última hora e, após reiteradas confirmações de redução de área, deverá manter o tamanho de sua lavoura para a safra 2002/2003, com 450 mil hectares, com uma expectativa de produção em torno de 1,15 milhão de toneladas. Esta é, aproximadamente, a demanda da indústria do Mato Grosso, mas apenas 70% fica no parque industrial daquele estado.

A boa notícia para o abastecimento do mercado interno foi divulgada pelo IBGE no início de novembro . O presidente da Associação dos Produtores de Arroz do Mato Grosso (APA-MT), Angelo Maronezzi, explicou que, apesar de terem sido ventilados índices de redução de até 34% da área plantada para 2002/2003, em comparação à safra passada, os números reais foram alterados por três fatores associados.

As cotações alcançadas pela soja no mercado internacional fez com que muitos produtores começassem a abrir novas áreas no cerrado para plantar soja nos próximos anos, e o arroz é considerado a melhor alternativa no primeiro ano de cultivo, preparando o solo para o plantio da oleaginosa.

O cereal tornou-se uma alternativa importante para os mato-grossenses também pela cotação alcançada. A partir de outubro, com a saca de 50 quilos superando R$ 32,00 no mercado físico gaúcho, os agricultores do Centro-oeste foram impelidos a retomar o plantio do grão. “Os preços são um atrativo a mais, pela escassez de produto neste momento”, acrescenta Maronezzi.

O fenômeno climático “El Niño”é o terceiro fator que influenciou a decisão. Cientes de que o Rio Grande do Sul, que representa 50% do arroz produzido no Brasil, enfrenta dificuldades para plantar as lavouras pelo excesso de chuva, os mato-grossenses perceberam que podem garantir boa rentabilidade com o produto na safra 2002/2003. Exatamente a expectativa que tinham os gaúchos com a redução prevista antes para o MT.

Os mato-grossenses acreditam numa recuperação dos preços também em cima da redução da produtividade e do tamanho das lavouras gaúchas pelos problemas climáticos. Assim, com os baixos estoques do Mercosul, o produto de terras altas receberia uma valorização superior à sua média.

O Brasil está apelando para as importações de arroz norte-americano, com notícias de compra no exterior de boa parte da indústria gaúcha e paulista. Os limitados estoques existentes são os do Centro-oeste, com produto de qualidade inferior ao leiloado até outubro no Sul.

O Uruguai e a Argentina têm cerca de 500 mil toneladas de arroz que devem ser colocadas no mercado brasileiro, gerando pressão de oferta até final do ano. Esta condição pode frear a alta dos preços.

Além do Mato Grosso, outros estados estão revertendo a tendência de redução de área. É o caso de Goiás, do Maranhão, Piauí e Pará, que podem sofrer ainda a influência de secas.

Cenários

Brasil

Com o início das vendas dos estoques reguladores da Companhia Nacional de Abastecimento, via leilão, o ano de 2003 será iniciado praticamente sem estoques. No Mato Grosso, os leilões realizados pela Conab para atender a demanda estão acabando com o produto ainda disponível. No restante do Brasil, o estoque público de arroz de qualidade está quase zerado. A estimativa de mercado é que restem ao final do ano cerca de 400 mil toneladas, o chamado estoque de passagem. Este total, somado às perspectivas de safra no Rio Grande do Sul, em 5,8 milhões de toneladas, Mato Grosso, com 1,15 mil toneladas, e Santa Catarina, com 800 mil, implicará em cerca de 8,15 milhões de toneladas em circulação no mercado em 2003, enquanto o consumo anual do mercado interno é de 11 milhões de toneladas. O déficit de 2,85 milhões de toneladas não conseguirá ser suprido pela produção de outros estados, gerando expectativa para a produção do Mercosul.

Mercosul

Uruguai e Argentina, tradicionais exportadores de arroz para o Brasil, também enfrentam problemas com a cultura do cereal. No primeiro semestre, o Brasil importou 688 mil toneladas de arroz. Os uruguaios vão reduzir a área plantada em 150 mil hectares.

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