O futuro volta a preocupar
Com custos altos, o setor espera preços favoráveis que evitem novas crises
Neste início de colheita de 2023, o aumento dos custos de produção, que desde 2020 subiram 60%, conforme as contas da Federarroz, segue sendo a queixa principal dos rizicultores. Na safra passada, o custo ficou em R$ 15,07 mil por hectare.
A partir da expectativa de um aumento da despesa, os R$ 95,00 pagos pela indústria e traders na virada do ano por saca de 50 kg – considerado, por muitos, como o melhor preço alcançado em 10 anos – não devem ser suficiente para cobrir os custos da próxima safra.
O presidente da Federarroz, Alexandre Velho, defende que qualquer coisa abaixo de R$ 100 por saca pode inviabilizar a atividade. “Os valores de R$ 93,00 até R$ 95,00 praticados pelo mercado no fim do ano serviram com relação ao custo do ano passado, mas, praticamente, não cobrem o custo da safra atual, e isso, obviamente, preocupa o produtor”, afirmou o dirigente.
Representantes da indústria, como Dilnei Portantiolo, da Arrozeira Pelotas, a quarta maior beneficiadora do Rio Grande do Sul, preocupam-se com a concorrência do arroz paraguaio, que começou a invadir os estados do centro-oeste e sudeste após os governos estaduais dessas regiões zerarem as alíquotas de ICMS sobre o cereal importado.
Isso estabelece uma condição em que o arroz gaúcho e catarinense paga uma tarifa de “exportação” para levar o arroz até esses estados, enquanto Argentina, Paraguai e Uruguai não pagam. A concorrência desleal desequilibra a disputa pelo mercado interno e pode gerar uma arriscada dependência das exportações, em especial do Paraguai, que destina 60% de sua safra para o Brasil.
“Há muitas variáveis em jogo, ainda não se pode fazer projeções mais específicas. Mas vai ter que sair menos arroz em casca e, para isso, a indústria vai ter que pagar mais. A indústria trabalhará sobre os preços do mercado internacional”, projetou.
Puxando a brasa para o seu assado, os produtores enxergam nas exportações futuras a saída para valorizar o produto nesta safra em que a área plantada já foi reduzida em aproximadamente 10% na região, fazendo cumprir a sagrada lei de mercado, da oferta e demanda.
Fique de olho
“O arroz está caminhando para uma comoditização. Estamos caminhando para nosso preço alcançar os da Bolsa de Chicago (aproximadamente R$ 110,00, na cotação do início de janeiro). Ser commodity é a garantia do arroz seguir sendo um bom negócio para quem o cultiva”, sentencia Fernando Reichsteiner.
Baixa rentabilidade exige maior valorização
Apesar de valorizado o arroz perde rentabilidade em função dos altos custos de produção, o que justifica a necessidade de uma readequação na relação entre desembolso e preço final de venda. “Afora a pandemia, a virada do ano foi o melhor momento de preços em 11 anos, mas é de longe o período do maior custo de produção”. A sentença é de Elton Machado, desde 2012 dedicado à orizicultura em Arroio Grande e preside a associação local de arrozeiros.
Em sua opinião, o valor médio de R$ 95,00 oferecido pela saca de 50kg é insuficiente para compensar as altas nos preços dos insumos para grande maioria dos orizicultores do estado, especialmente quando tratamos dos fertilizantes, que, conforme levantamento da Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), aumentou 288% desde janeiro de 2020.
“A rizicultura na zona sul, até então, seria a cultura de melhor adaptação, mas com o alto custo de produção e o preço comercializado muitas vezes insuficiente, isso vem desmotivando os rizicultores a continuarem produzindo. Qualquer centavo desvalorizado é prejuízo para a maioria”, analisa.
Uma das saídas para garantir rentabilidade e, consequentemente, manter o interesse dos produtores na produção de arroz passa, na opinião de Machado, pela readequação dos preços.
Para comprovar a tese de que uma readequação poderia ser absorvida pelo consumidor final sem maiores impactos, o dirigente lança mão do seguinte raciocínio: “Temos o consumo anual aproximado de 10,5 milhões de t/ano de arroz em base casca e somos cerca de 214 milhões de brasileiros, se pegarmos o consumo e dividirmos pela população, convertendo o arroz casca para industrializado, temos a média de consumo diário de 93 gramas base beneficiado. Considerando a média de R$ 3,00 o quilo no pacote na gondola, esta demanda significa que cada pessoa gasta R$ 0,28 por dia para comer arroz, ou R$ 0,14 por refeição”, ilustrou.
Ainda, enfatiza que,“desse modo, o brasileiro consome R$ 8,40 para almoçar e jantar arroz todos os dias do mês. Levando em conta o auxílio social de R$ 600,00 do governo, apenas 1,4% desse subsídio é direcionado para este pilar da nutrição nacional, sobrando 98,6% para demais gastos”.
Continuando nesta lógica, Machado coloca que “mesmo considerando uma readequação nos preços do pacote de um quilo no varejo, de R$ 3,00 para R$ 5,00, o impacto sobre os R$ 600,00 do benefício federal chegaria a 2,3%, ou míseros, R$ 13,80, com arroz para almoçar e jantar todos os 30 dias do mês”, defendeu.
Hora de redimensionar
Outro caminho apontado para evitar a desvalorização do produto por Elton Machado, líder arrozeiro em Arroio Grande (RS), passa pela equalização das áreas ocupadas com arroz no Rio Grande do Sul. Aumentar área significa elevar a produção e, para Machado, isso levará a um novo contexto de crise.
“É preciso observar as variáveis de mercado e buscar o equilíbrio entre oferta e demanda. Não podemos ofertar oito milhões de toneladas ao ano, se a indústria gaúcha absorve carca de 70% dessa quantidade”, disse.
Entende ele que dessa forma os rizicultores ficam dependentes da relação exportação x importação x dólar. “É prioritário equilibrar o mercado sem jamais desabastecê-lo. Para isso, é necessário perseguir constantemente pelo reequilíbrio de áreas, buscando alternativas culturais, mas, sempre, ofertando a quantidade necessária para suprir a demanda pré-existente”.