O maior investimento é intelectual

Produtor gaúcho é pioneiro no uso de tecnologias limpas.

O produtor Ariovaldo Ceratti, de Uruguaiana (RS), é um dos pioneiros da redução do uso de produtos químicos na lavoura gaúcha. Começou com o plantio direto e se interessou pela forma que a natureza se protege e regenera após a ação do homem. Desta maneira, buscou formas de melhorar a relação entre produção agrícola e o meio ambiente. 

Sua lavoura foi uma das primeiras a receber o selo ambiental, criado pelo Irga para premiar propriedades que se adequaram à legislação ambiental e aos preceitos de tecnologias mais limpas. 

Em 1984, criou a empresa Arroz Ceratti Ecobiológico, líder na introdução de conceitos como qualidade total, tecnologias limpas, gestão dos talentos humanos e sustentabilidade na produção de arroz. “Nossa produção se caracteriza pelo uso de sementes ecobiológicas para garantir plantas sadias e vigorosas sem o uso de inseticidas e fungicidas. A água da irrigação é coletada nas chuvas e armazenada em barragens para uso nos períodos de seca, não competindo com o uso urbano”, cita. 

Ceratti diz que, para o controle de plantas indesejáveis, a empresa desenvolveu um pulverizador que utiliza doses menores de defensivos químicos com eficiência na aplicação, não agredindo o meio ambiente e garantindo a segurança do aplicador e dos consumidores. “Na colheita há a preocupação de não destruir o ecossistema. A secagem e armazenagem são feitas com tecnologias que preservam a integridade física e biológica, garantindo a sanidade dos grãos sem o uso de inseticidas”. 

Outro cuidado diz respeito à industrialização, efetuada com total isenção de agentes contaminantes, “da recepção à expedição”. A rastreabilidade garante a qualidade em todo o processo. 

ENTREVISTA

Planeta Arroz – O setor está adotando tecnologias mais limpas na condução das lavouras. Que práticas são estas?
Ariovaldo Ceratti – Na verdade, o conceito de tecnologias limpas vem da indústria. Foi através do doutor Carlos Adílio Maia do Nascimento, que presidiu o Centro Nacional de Tecnologias Limpas (CNTL), da Fiergs, que tomamos conhecimento deste estilo de gestão direcionado à ISO 14000 e que consiste em diminuir os impactos provocados pela adoção de novas tecnologias.

Planeta Arroz – Como adotá-las?
Ariovaldo Ceratti – O primeiro passo é ter conhecimento desta ferramenta de gestão através de cursos, palestras ou visitar empresas que praticam.

Planeta Arroz – Quais os critérios para uma tecnologia ser limpa e sua aplicabilidade?
Ariovaldo Ceratti – Colheita no seco ou em solo úmido: em solo seco o impacto é mínimo, já no barro é só observar como ficam as lavouras. Tudo que envolve o processo produtivo pode ser racionalizado.

Planeta Arroz – Em sua opinião, é possível produzir arroz com o mínimo impacto ambiental?
Ariovaldo Ceratti – O arroz, pelo uso da água, praticamente não necessitaria insumos químicos, porém, com a pressão das empresas em vender "tecnologia", gastamos muito e agredimos o meio ambiente.

Planeta Arroz – O seu sistema pode ser usado em larga escala, isso implica em investimentos?
Ariovaldo Ceratti – Desde que o produtor mude a maneira de pensar. O maior investimento é o intelectual, buscar capacitar-se e começar nas pequenas coisas do dia-a-dia.

Planeta Arroz – Que tecnologias a empresa desenvolve para produzir com menor impacto ambiental?
Ariovaldo Ceratti – Um exemplo é a bicheira-da-raiz. Paramos de colocar água no perfilhamento e, quando o solo seca, entramos com o trator e adubamos com ureia cloretada e reiniciamos a irrigação. Aposto que, se isso for publicado, os produtores retirarão a água para colocar a ureia de trator, mas continuarão colocando inseticida para a bicheira.

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