O mercado do arroz

 O mercado do arroz

Autoria: Marco Aurélio Tavares é consultor, assessor especial do Irga, diretor do site Arrozpec.com e diretor da Federarroz .

Os cenários do mercado de arroz, com preços altamente remuneradores em 2003, projetavam para a próxima safra um aumento de área, quer no Rio Grande do Sul, no Brasil e também no Mercosul. Até o final de abril, os números finais da safra não tinham sido ainda divulgados, mas existia uma certeza, seria a maior safra de arroz no Rio Grande do Sul e no Brasil.

A produção no Rio Grande do Sul, projetada em torno de seis milhões de toneladas, e a produção brasileira superando 12 milhões de toneladas, traziam no seu bojo insegurança e incertezas na formação de preços para o cereal durante o período de safra. Mas o esforço desenvolvido pela cadeia produtiva do Rio Grande do Sul, coordenado pelas entidades do setor produtivo, Farsul, Federarroz e Irga, que mobilizaram e orientaram os produtores para escalonar a oferta, a obtenção de recursos para estocagem e as tratativas para implementação do Leilão de Opções, o qual, mesmo não tendo ocorrido, criou um sinalizador de preços para o mercado, acabou sendo decisivo para o arroz gaúcho operar em torno de R$ 33,00 a saca.

Paralelamente a isso, a profissionalização dos produtores com acurada gestão de oferta na safra, mudando frontalmente o perfil de comercialização, ofertando o mínimo necessário para manter o mercado abastecido, aliada à capitalização obtida nos últimos três anos de safra com preços remuneradores, permitindo investimentos em infraestrutura, principalmente em armazenagem, diversificação de culturas e aumentando o nível tecnológico das lavouras, permitiu um cenário crescente de preços sustentados em plena safra.

Também a greve dos fiscais do Mapa e posteriormente da Receita Federal e o cenário amplamente favorável do mercado internacional contribuem para quebrar um paradigma, colheita cheia = preços baixos, não se tendo conhecimento se isso já aconteceu com alguma cultura de consumo exclusivamente interno. Os preços até o final da safra, em abril, situavam-se entre R$ 33,00 e R$ 36,00 no Rio Grande do Sul, com preços médios em torno de R$ 34,00. A realidade de mercado permite projetar um GAP de preços bastante inferior aos anos anteriores, que atingiu 70% na safra passada, com o mercado sinalizando um preço mais compatível com a demanda e oferta mais equilibrada.

Novos cenários

Passada a euforia dos bons preços em plena safra, o desafio será mantê-los remuneradores durante o restante do ano, sabendo que a colheita foi farta e que está desenhado um novo quadro de suprimentos, obrigando o setor a desenvolver novas estratégias para manter o cenário de mercado plenamente favorável.

PROJEÇÃO DE SUPRIMENTOS
Estoque inicial 500 mil toneladas
Produção estimada 12 a 12,2 milhões de toneladas
Consumo total 12,7 milhões de toneladas
Consumo interno 11,750 milhões de toneladas
Sementes 440 mil toneladas
Perda 240 mil toneladas (2%)
Programa Fome Zero 350 mil toneladas
Importações 800 a 1 milhão de toneladas
Estoque de passagem 1 milhão de toneladas

O mercado internacional com indicadores extremamente favoráveis para os preços, com a produção inferior ao consumo, gerando déficits e a queda expressiva dos estoques de passagem nos últimos anos, permitirá que a cadeia produtiva vislumbre novos mercados e parâmetros de preços mínimos para o setor.

Dentro desse contexto favorável, surge a China como grande fomentador do mercado internacional. Com déficit previsto em 20 milhões de toneladas para 2004, com produção de 115 milhões e consumo de 135 milhões de toneladas, cuja diferença deverá ser suprida pelos estoques de passagem internos que atingem 55% dos estoques finais mundiais, que correspondem a 85 milhões de toneladas, ou através das exportações, que de uma forma ou de outra pressionará o restrito mercado internacional do arroz.

A eficiente gestão da oferta por parte dos produtores, a administração dos excedentes pela cadeia produtiva e a busca por novos mercados, seja pelo aumento da base de consumo interno ou a prospecção de novos mercados, através das exportações, serão decisivas para a manutenção do status atual do setor. 

Deixe um comentário

Postagens relacionadas

Receba nossa newsletter