O número mágico
Em 10 safras, cinco de prejuízos. Endividamento
e baixos estoques
na mão dos produtores preocupam
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A recuperação dos preços em 2012 e a perspectiva de que se mantenham firmes na próxima safra traz certo alívio ao setor produtivo, mas precisam ser analisadas sob um contexto mais amplo. Das últimas 10 safras colhidas no RS, pelo menos cinco fecharam no vermelho, com prejuízos para os produtores. Segundo a Federação das Associações de Arrozeiros do RS (Federarroz), o endividamento acumulado pelos orizicultores nos últimos anos soma R$ 3,1 bilhões. E o valor ainda pode ser atualizado.
O presidente da entidade, Renato Rocha, explica que mais de 60% dos produtores de arroz estão sem acesso ao crédito rural oficial e são obrigados a recorrer ao setor privado – pagando juros de mercado – para custear o plantio da safra. “Além de pagar juros mais altos, com o comprometimento da renda, os produtores estão investindo menos em tecnologia, o que compromete a produtividade das lavouras”, argumenta o dirigente.
Segundo a Federarroz, os produtores não têm condições de pagar as dívidas mesmo com os bons preços atuais porque 80% dos produtores venderam a safra no primeiro semestre, quando os preços estavam entre R$ 23,00 a R$ 24,00 por saca de 50 quilos de arroz em casca, bem abaixo dos R$ 38,00 do início de novembro. “O ano está transcorrendo com preços bons para o produtor, só que muita gente não conseguiu usufruir esse resultado. É preciso entender que viemos de um ano comercial muito ruim, quando os valores de mercado pagos ao produtor estavam muito abaixo do preço mínimo, que é de R$ 25,80 por saca”, diz o produtor Juarez Petry.
Petry recorda que em fevereiro de 2012, durante a 22ª Abertura Oficial da Colheita do Arroz, em Restinga Seca (RS), a expectativa mais otimista dos produtores era de que os preços chegassem a R$ 30,00. “Achávamos que R$ 30,00 era um número mágico, o que aconteceu em agosto, quando o grosso da safra já havia sido comercializado abaixo desse valor. Hoje, com o arroz a R$ 38,00, poucos ainda têm produto disponível para venda. Creio, no entanto, que o mercado vai se manter assim até perto da colheita, porque teremos menos arroz ainda”, considera.
HORA “H”
Na visão do produtor, esta é a hora de organizar a cadeia produtiva, porque o cenário é mais favorável. “Estamos desocupando os armazéns com os leilões, ou seja, está saindo arroz das mãos do governo. O mercado está atingindo o seu limite, mas não creio que o preço vá baixar muito além de R$ 34,00 e 36,00, pois faltam três meses para a colheita e, nesse meio tempo, vai enxugar a oferta. Também creio que a safra vai ser menor, algo em torno de 5%, porque não tem tanta água assim como dizem. A expectativa é essa, pelo menos por enquanto”, estima Juarez Petry.
O roteiro das cotações
Nos primeiros 10 dias de outubro, no Rio Grande do Sul, a saca de 50 quilos esteve cotada a R$ 39,37, ficando 7,7% acima do preço de um mês atrás, quando estava a R$ 36,57. Se comparado com o mesmo período do ano anterior, a elevação é de 63,9%, pois, na época, estava a R$ 24,02 por saca.
Em Jaraguá do Sul, no norte de Santa Catarina, a média do grão ficou em R$ 34,00, 9,7% maior que há 30 dias, quando estava a R$ 31,00. Sobre o valor de outubro de 2011, R$ 21,00, o valor de 2012 é 61,9% superior.
Em outras regiões, foram registrados preços ainda mais altos. “Aqui no sul de Santa Catarina estamos vivendo um momento muito positivo em termos de produção e preço. Nesta safra, estamos com os preços em torno de R$ 37,00 e R$ 38,00 para o arroz que está na indústria. Para aqueles que têm arroz armazenado na propriedade, estamos com preços de R$ 42,00 e R$ 43,00, o que é muito interessante. Isso é muito bom, porque recupera os baixos preços que tivemos nas safras anteriores”, diz o presidente do Sindicato Rural de Turvo, David Tomazzi Tomaz.
Para o dirigente, também é boa a expectativa em relação à atual safra, cujo plantio já se encontra em fase de conclusão. “Esperamos que os preços se mantenham pelo menos para os próximos dois anos. Na safra passada, por conta de toda a reivindicação que fizemos ao lado dos produtores gaúchos junto ao governo federal, tivemos mecanismos de apoio como o Empréstimos do Governo Federal (EGFs) e Prêmio de Escoamento de Produto (PEP) e, com isso, conseguimos exportar mais de 2 milhões de toneladas, o que foi um volume histórico. Nunca tínhamos passado de 1 milhão de toneladas. Isso fez com que enxugasse o mercado e proporcionou o bom preço do produto, o que é muito importante para o produtor que passou por momentos difíceis em 2011”, ressalta.