O olho do furacão
O impacto do clima
na Região Central
supera estragos das enchentes de 2009/10
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A região mais atingida pelas enchentes no estado, conforme o relatório que aponta os danos nas lavouras de arroz feito pelo Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga) ao longo dos meses de dezembro e janeiro, foi a Depressão Central. Dos 143.100 hectares plantados em 1.145 lavouras, 74.197 hectares foram atingidos, o que equivale a 51,9% da área.
A estimativa de perda nesta região, que abrange 34 municípios produtores de arroz, de acordo com o coordenador regional do Irga, Pedro Hamann, é de 10% da área, ou 14.888 hectares. “As lavouras mais afetadas estão em Paraíso do Sul, Restinga Seca, Cachoeira do Sul e Rio Pardo. Em Cachoeira do Sul e Agudo, por exemplo, as enchentes causaram mais danos que na safra 2009/10, onde há casos de lavouras com 50 a 200 hectares com perda total.
Somente aquelas localizadas fora da várzea do Rio Jacuí não foram atingidas”, enumera.
Ele calcula que as perdas em produtividade podem variar de 10% a 70%, dependendo das áreas atingidas. “Todo o segundo semestre de 2015 foi muito chuvoso. A Emater calcula 129% a mais de chuva em relação a períodos anteriores. Foram três enchentes: em julho, em outubro e em dezembro, sendo esta última a que causou mais danos. Muitos produtores que tiveram suas lavouras arrasadas são os mesmos da enchente de 2009/10 e que tiveram que renegociar suas dívidas em cinco anos. Terminaram de pagar no ano passado e já foram atingidos novamente”, ressalta Hamann.
A soja cultivada no sistema de rotação com o arroz também sofreu. “Se o arroz, que ficou submerso por seis ou sete dias, já registrou perdas totais, imagine a soja. Bastam apenas dois ou três dias embaixo da água para ser afetada, pois é uma cultura mais sensível ao excesso hídrico. Em Cachoeira do Sul, cerca de 60% da soja em terras baixas foi prejudicada, ou seja, uma área de 10 mil hectares”, diz o coordenador.
O consultor Jaceguay Barros explica que as chuvas prejudicaram parte da preparação antecipada em algumas áreas de soja na várzea. Isso fez com que os tratos iniciais com a lavoura de arroz fossem muito prejudicados. “A enchente pegou as lavouras em uma fase complicada. As chuvas atrasaram o plantio e quando conseguimos uma janela, em novembro e dezembro, isso não pôde ser feito dentro da capacidade normal. Sabemos que anos de El Niño são difíceis, mas neste a intensidade foi maior”, avalia.
Jaceguay observa que mesmo nos períodos sem chuvas as lavouras que estavam se estabelecendo foram prejudicadas pela falta de luminosidade. “Os dias nublados influenciaram negativamente o desenvolvimento das plantas. Cabe ressaltar que embora o problema maior tenha sido as enchentes, mesmo nas áreas onde não houve inundação as chuvas causaram danos na estrutura da lavoura. Para agravar a situação, o clima contribuiu para que as invasoras ficassem mais agressivas, o que acabou encarecendo ainda mais o controle”, argumenta.
QUESTÃO BÁSICA
Este cenário de perdas na Depressão Central, segundo Jaceguay Barros, apresenta contornos ainda mais agravantes quando se leva em conta o fato de que quase 70% das áreas de lavoura são arrendadas. “Temos produtores que perderam parte da lavoura e outros que perderam 100%, mas todos terão que arcar com o custo do arrendamento. Alguns, inclusive, já fizeram o pagamento antecipado”, avalia. O consultor também não descarta problemas na última etapa da lavoura. “O clima agora está favorável, mas, pelas informações da meteorologia, pode voltar a chover em fevereiro e março”, acrescenta.