O paradoxo africano

Brasileiros descobriram
que é mais difícil manter
um mercado do que abrir.

Em 2013, a decisão da Nigéria de parar de importar arroz para estimular a produção local abalou o mercado exportador brasileiro. O país africano estabeleceu uma norma tributária que exige das indústrias brasileiras o pagamento de US$ 350 para cada tonelada embarcada para o país. Isso acabou inviabilizando as exportações, pois o valor final do grão se tornou muito superior à média do mercado internacional.

O governo nigeriano tem como meta prioritária desenvolver a produção de arroz no país, que consome anualmente cerca de 6 milhões de toneladas do grão, para gerar empregos e garantir a segurança alimentar da população. Os nigerianos querem alcançar em 2015 a produção de 7 milhões de toneladas (base casca) para abastecer seu mercado, mas atualmente colhem pouco mais da metade deste volume por defasagem na tecnologia aplicada.

Em 2013, houve três missões empresariais e de representantes públicos à Nigéria, inclusive do governo do Rio Grande do Sul, que incluíram os debates sobre o comércio de arroz. O ponto polêmico das discussões é um possível acordo de transferência de tecnologias com o Brasil, através do Irga. De acordo com o coordenador da Câmara Setorial do Arroz do Rio Grande do Sul e assessor da presidência do Irga, César Marques, o instituto pode ajudar o país africano a desenvolver sua produção de arroz desde que, em contrapartida, sejam criadas condições para que o arroz brasileiro volte a entrar no país. O projeto da Nigéria é de ceder terras, água e meios para que produtores de outros países migrem para a África e estabeleçam suas produções em escala, levando junto as tecnologias que já dominam. No entanto, algumas experiências de produtores gaúchos naquele continente foram frustradas pela instabilidade política em alguns países.

Para o gerente de projetos do Brazilian Rice, André Anele, a questão de retomada do comércio com a Nigéria é delicada: “Os países africanos querem gerar empregos e a agricultura é a primeira área a ser trabalhada. O Brasil precisa encontrar mecanismos para continuar vendendo para a Nigéria enquanto eles aprendem sob o risco de perder este importante mercado para outro país que esteja disposto a transferir sua tecnologia”, pondera. Já o presidente da Abiap, Marco Aurélio Amaral Júnior, acredita que esta estratégia possa ser “um tiro no pé”: “Foram anos de pesquisa para que o Brasil se tornasse uma referência mundial na produção de arroz. Não podemos entregar tudo isso de ‘mão beijada’. A transferência de tecnologia é uma questão de defesa nacional”, argumenta. De maneira geral, a cadeia produtiva nacional acredita que precisa haver contrapartida dos países africanos, especialmente com garantia de mercado.

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