O perde-perde do Mercosul

Ao contrário do conceito de ganha-ganha, em que todos os envolvidos numa negociação saem ganhando de alguma forma, o Mercosul tem sido um exemplo de perde-perde, acordo no qual todos – ou quase todos – saem perdendo. Dois exemplos são evidentes para o agronegócio brasileiro: trigo e arroz.

Para o arroz, este é um acordo nocivo, como mostra reportagem de capa baseada em estudo da Farsul. Fica claro que o Brasil entra com o mercado pela compra do produto final, mas os produtores brasileiros se tornam vítimas da concorrência desleal também por ação ou omissão do governo. Não podem adquirir os mesmos insumos que os arrozeiros dos outros países, mas devem engolir prejuízo enquanto são proibidos de acessar os meios para reduzir custos e competir em condições de igualdade em seu próprio país.

De outro lado, fica evidente que os arrozeiros, as indústrias e as entidades não têm senso de organização em cadeia. Com menores custos de produção, o Paraguai encontrou no arroz um meio de progredir. Não está errado em usar as vantagens competitivas e nem pode ser censurado. Parte do capital empregado nas suas novas indústrias é brasileiro.

Mas é inegável que o avanço do arroz paraguaio no mercado tupiniquim – 85% das exportações daquele país – se dá em cima das disparidades do Mercosul. E impõe perda de espaço aos gaúchos, argentinos e uruguaios. Substituição simples.

O mercado é cruel e se retroalimenta. O ciclo paraguaio já foi vivido pelo Uruguai e pela Argentina, que, com o tempo, aprenderam a lição de que jogar todos os excedentes no mercado do Brasil derrubava suas próprias cotações e passaram a buscar outros clientes. Sem portos, a solução paraguaia não será a mesma. O Brasil precisa rever seus conceitos sobre o Mercosul, liberar a compra de insumos no exterior e permitir que seus produtores alcancem as condições necessárias para competir. Sim, a culpa é do governo. Do nosso governo. E o setor faz bem em espernear.

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