O que vem pela frente? A terceira La Niña consecutiva ou neutralidade?!
A La Niña da safra 2021/22 iniciou em outubro de 2021, com anomalia de -0,8 °C na temperatura da água na região do Niño 3.4, atingiu seu pico em dezembro, com anomalia de -1,1 °C, o que fez esse evento ser classificado como de intensidade moderada. E, agora em março, esteve com anomalia da temperatura das águas nessa região de -0,9 °C (Figura 1).
Este é o segundo evento La Niña consecutivo, e que trouxe consequências ruins, devido ao déficit hídrico, tanto nas lavouras de sequeiro como a soja e o milho, assim como em algumas lavouras irrigadas por inundação de arroz, devido à falta de água para irrigação, principalmente na metade oeste do Rio Grande do Sul (RS).
Conforme as últimas atualizações dos centros internacionais de meteorologia, o término da La Niña está sendo previsto para mais adiante em relação ao que se esperava inicialmente. Com isso, espera-se que os reflexos da La Niña ainda sejam sentidos durante o outono e, também, durante o inverno, já que a Noaa (National Oceanic and Atmospheric Administration), na publicação de 14 de abril de 2022, prevê em 59% a probabilidade de a La Niña manter-se no trimestre jun-jul-ago (Figura 2). Esse “atraso” no término da La Niña deve-se a alguns fatores, como: anomalia da temperatura da superfície do mar ainda manter-se negativa; temperatura das águas subsuperficiais, que estavam enfraquecendo, voltaram a ficar mais negativas, dando sustentação às anomalias negativas em superfície; e o sistema acoplado oceano-atmosfera vem mantendo-se e favorecendo a La Niña.
É importante ressaltar que, nesta época do ano, que abrange boa parte do outono, os modelos matemáticos têm maior dificuldade em fazer previsões bem-sucedidas. É o que os meteorologistas chamam de “barreira de previsibilidade”.
Por isso, é necessário cautela neste momento, embora os modelos deem uma ideia do que vem pela frente. Segundo uma análise da Noaa, desde 1950, em apenas duas vezes houve a ocorrência de três La Niñas consecutivas. Ou seja, para a próxima safra, a ocorrência do El Niño está praticamente descartada, ficando-se com duas possibilidades: ou a La Niña continua, pela terceira safra consecutiva, ou se entra em um período de neutralidade.
Vale ressaltar, mais uma vez, que a atual La Niña poderá ter impactos na redução das precipitações até o fim do inverno. Em virtude disso, é importantíssimo ficar atento ao nível dos reservatórios, que ainda são baixos em muitas regiões do estado, para que o produtor tenha água para a irrigação das lavouras na safra 2022/23.
Com relação às temperaturas, o modelo do Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia) prevê que a temperatura média do ar de maio, junho e julho de 2022 fique entre a normal e acima da normal climatológica. No entanto, as variações nas temperaturas ocorrerão, com dias mais quentes que a média, mas, também, não se descarta a possibilidade de ocorrência de dias com frio mais intenso. Os modelos climáticos têm dificuldade de prever essas oscilações da temperatura, ficando a cargo das previsões diárias do tempo, de acompanhamento semanal. Com relação às precipitações, a maioria dos modelos prevê que fique entre a normal e abaixo da normal. E, como nas temperaturas, eventos de chuva forte a extrema podem ocorrer entre os períodos mais longos de tempo seco ou de pouca chuva.
Jossana Ceolin Cera
Agrometeorologista e consultora do Irga