O valor da inovação tecnológica

 O valor da inovação tecnológica

Onélio Pilecco (detalhe): muito mais do que energia do arroz

Inovação tecnológica não pára na energia.

A geração de energia não é a única forma de aproveita-mento e agregação de valor dos derivados do arroz em uma usina. Segundo o consultor da Geradora de Energia Elétrica Alegrete Ltda (GEEA), Daltro Garcia Pinatti, e o diretor-presidente da Pilecco Ltda e da GEEA, Onélio Pilecco, há três níveis de inovação tecnológica. 

“A primeira é a simples produção de energia elétrica a partir da casca através de caldeira/turbina a vapor convencional, e várias termelétricas estão sendo implantadas no Rio Grande do Sul com essa tecnologia, cujos rendimentos variam entre 12% (três toneladas de casca por megawatt-hora de energia) e 22% (1,2 tonelada de casca por megawatt-hora)”, explica Pinatti. “Rendimentos médios de 32%, comuns para outros combustíveis, não são alcançados devido ao alto teor de sílica na casca e na palha”, acrescenta. 

No segundo nível, a energia elétrica é gerada pelo ciclo combinado através da produção de Syngas (gás sintético – 37% CO + 41% H2) e sua utilização em motores ou turbina a gás combinado com recuperação de calor na caldeira/turbina a vapor, com rendimentos acima de 40% (0,65 tonelada de casca por megawatt-hora). Além do ciclo combinado, esse segundo nível tecnológico gera também matérias-primas como sílica de qualidade (99,7% de pureza e 250m2/g), furfural, produto químico utilizado em resinas e petroquímicos, bem como recicla os fertilizantes para lavoura, fundamental em qualquer tecnologia que retira parte da palha do campo. 

No terceiro nível, o vapor, energia elétrica e matérias-primas são convertidos em produtos de médio/alto valor agregado, tais como cimento de alto desempenho (CAD), cerâmicas, vidros especiais, adições em borrachas, sílica gel, sílica coloidal, silicatos, metassilicatos, silício metalúrgico e solar, carvão, óleo combustível, metanol, diesel verde, uréia, amônia, entre outros. 

A GEEA é a única inovação tecnológica que está sendo implantada no RS com as tecnologias do primeiro e grande parte do segundo nível. E preparada para avançar nas tecnologias do terceiro nível. A preparação inclui a utilização de qualquer tipo de biomassa (resíduos de reflorestamentos, capins, sorgo, forrageiro, etc), bem como resíduos petroquímicos (pneus, plásticos, etc) e carvão mineral. 

Fique por dentro
As inovações tecnológicas do segundo e terceiro nível usam outras biomassas, permitindo que o arrozeiro otimize a propriedade, reduza a incerteza e aumente sua congruência de oferta/demanda. A divisão dos custos de produção entre o grão, casca e palha pode viabilizar a exportação do arroz a preços competitivos, seja para países ricos (tipo 1) ou países africanos (demais). O Brasil exporta 3% da produção e a inovação tecnológica permitirá aumentar esse percentual.

 

Viabilidade está nos outros níveis

O valor econômico da energia elétrica (R$ 130,00/ha), único produto gerado no primeiro nível da inovação tecnológica, é baixo comparado com o valor do arroz em casca (R$ 2.108,00/ha), motivo pelo qual não houve interesse anterior por essa tecnologia. Os projetos atuais têm investimentos alemães e holandeses pelo interesse no crédito de carbono (Protocolo de Kyoto). “Gerar e vender energia elétrica a partir da biomassa no Brasil não é um bom negócio. A energia hidrelétrica tem custo de geração de R$ 90,00/megawatt-hora”, explica Daltro Pinatti, consultor da GEEA. 

Segundo ele, o valor econômico com a inovação tecnológica do segundo nível chega a R$ 520,00/ha com uso da casca (25% do valor do arroz) e R$ 1.970,00/ha com a palha. A utilização das duas biomassas chega a R$ 2.490,00/ha, maior que do cereal em casca e 73% do valor do arroz beneficiado. Onélio Pilecco, presidente da GEEA, explica que a inovação no terceiro nível alcançará de duas a três vezes o valor do arroz em casca, dependendo do grau de efetivação. “Em qualquer ramo industrial, o valor econômico não vem da massa, mas do conteúdo tecnológico do produto”, diz Pinatti. 

No futuro, serão necessárias máquinas capazes de colher o arroz e a palha, que serão separados em um pátio de limpeza, pois a agregação de valor à casca e à palha serão da mesma ordem que a do grão.

 

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