O vento mudou e os arrozeiros temem que a área pare de crescer no Uruguai

 O vento mudou e os arrozeiros temem que a área pare de crescer no Uruguai

Colheita de arroz no Uruguai (Paulo Antúnez, El País)

(Por El Observador, Uruguai) Com base em uma nova realidade que afeta as decisões do produtor, está sendo colocado em dúvida o aumento da área de cultivo de arroz para a próxima campanha no Uruguai, quando há algumas semanas a possibilidade era considerada. Mesmo que o cenário atual não mude, pode até haver leve queda na área arrozeira. Em maio, com a colheita acabada, esperava-se um novo impulso na área de arroz para avançar em quase 20.000 hectares, dos 163,8 mil hectares para cerca de 180 mil hectares.

Na ocasião, Alfredo Lago, presidente da Associação dos Cultivadores de Arroz (ACA), disse ao El Observador que a expectativa era de um novo avanço na área de plantio para o ciclo 2022/23, porém, era preciso aguardar o comportamento das principais fatores: a estimativa dos custos de produção, o preço do arroz e o nível das reservas de água – disse que era necessário um inverno “normal a chuvoso”.

Agora, em meados de julho, Lago disse que embora a equação econômica derivada da última campanha seja positiva (mesmo que não na mesma magnitude que a do exercício do ano anterior), “em primeiro lugar, há uma grande preocupação de que o preço do arroz no mercado internacional não está na mesma linha de outros itens agrícolas, como soja, trigo, milho, colza e carnes.

Ele acrescentou que os preços melhoraram desde 2020, mas sem a explosão que outros produtos tiveram no mercado global.

O maior custo logístico também afeta as contas, por conta da alta do frete marítimo, pois é verdade que quem compra no destino está pagando mais do que pagava antes, mas o exportador está recebendo menos do que obteve no ano passado frente ao desempenho anterior.

“Os preços, considerando o histórico, não estão ruins, mas não atingiram o patamar de outros produtos agrícolas”, disse.

Relacionado a isso, os custos de muitos insumos são influenciados pelo valor das commodities agrícolas, “então os fertilizantes subiram, os agroquímicos também, a energia subiu e não temos a capacidade desses outros grãos para enfrentar esses aumentos; temos receita semelhante pelo preço e uma produção muito maior pelo custo, cerca de US$ 300 a mais por hectare”.

Num setor acostumado a atingir alta produtividade (vem de um recorde em 2021 e a segunda melhor marca em 2022), “compensar isso do lado da produtividade não é fácil”, disse.

Hoje, comentou, o produtor em uma conta rápida, se tirar de 9.000 a 10.000 quilos por hectare, ele ganhará no máximo US$ 2.200, com um custo que ficará ao redor disso, então terá um resultado de safra que “na melhor das hipóteses dá empate”.

Lago tem a expectativa de que o preço do arroz “vai melhorar, haverá uma tendência de alta, mas estamos falando de um produto alimentício básico que os países querem que seja barato, é a forma que muitos têm de controlar não só a inflação, também a paz interna e se esforçam para que o arroz continue sendo o alimento mais barato que pode haver”.

Disse ainda que o produtor tem alguma alternativa à mão, como fazer soja nas zonas arrozeiras, algo que o produtor “está a pôr as mãos” e que está sobre a mesa, no caso do arroz, é um risco de crescer com uma perspectiva de rentabilidade zero ou mesmo negativa.

Por isso, afirmou, “manter a tendência de crescimento de área que tivemos nos dois anos anteriores vai ser muito difícil, é provável que pare e talvez até tenhamos alguns hectares a menos”.

Outra questão fundamental é a das reservas de água. “Estamos bem abaixo do que estávamos no ano passado, choveu agora e as reservas vão melhorar, mas tem que chover acima da média para gerar a água necessária”, disse.

Concluiu que embora haja uma força, do lado da alta produtividade que se obtém se não houver retrocessos, “hoje com isso não basta crescer”.

FUNDO

A safra 2021/22, a última concluída, considerou uma área de 164 mil hectares em que houve produtividade de 9.250 quilos por ha e volume de 1.517 milhões de toneladas.

A área orizícola nacional, após um recorde alcançado no final da década de 1990 com 205.000 ha, nos últimos anos teve um pico de 195.000 ha em 2010/2011 e depois, com alguns ressaltos pontuais, diminuiu naturalmente até 136 mil ha em 2019/2020. Depois houve, nas duas últimas campanhas, dois crescimentos, primeiro para 143 mil ha e depois para 164 mil.

Com base em uma projeção feita pelo instituto Uruguai XXI, este ano as exportações de arroz podem atingir o valor de US$ 497 milhões, constituindo um dos pilares do recorde global que se espera de colocações estrangeiras de mercadorias, estimadas em US$ 14.000 milhões.

Os recordes do arroz uruguaio

205 mil hectares em 1998/1999

9.400 quilos por ha em 2020/2021

1,631 milhão de toneladas em 2019/2011

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