O vilão da crise
O arroz é a cultura que sofreu maior impacto com o aumento dos custos de produção
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Com menos recursos para financiar o plantio da próxima safra e preços que não remuneram, o produtor ainda tem diante de si o aumento dos custos de produção, que, de acordo com o consultor Carlos Cogo, estão entre 20% e 25% mais altos em relação ao período anterior.
“Os principais responsáveis pelos aumentos nos custos são a energia elétrica, que foi reajustada em 28,7% para os estados do Sul, Sudeste e Centro-Oeste no final de fevereiro, o preço do diesel, que encareceu cerca de 0,15% por litro, e o dólar, que registrou alta acumulada de 14,44%”, calcula.
O diretor comercial do Irga, Tiago Barata, observa que a cultura do arroz é a que sofreu maior impacto com o aumento dos custos de produção. “Em qualquer outra cultura tu tiras de 3 a 4 toneladas por hectare, no arroz tu tiras quase 8 toneladas. Isso tem um custo logístico maior.
Trata-se de uma lavoura que é toda irrigada, com necessidade de bombeamento, o que implica em um consumo de energia elétrica maior. É também uma cultura mais abrasiva, que demanda mais gastos na manutenção de máquinas. É isto que está chocando o Mapa e a Conab. A gente não quer simplesmente colocar um custo maior e sim um que seja o mais realista possível”, ressalta.
Esta conjuntura, na opinião de Carlos Cogo, cria um ambiente de extrema dificuldade para o produtor de arroz que é proprietário e praticamente acaba inviabilizando a vida daquele que é arrendatário. “É uma situação que leva ao endividamento, ainda mais em um ano em que os preços estão baixos”, lamenta.
Para Tiago Barata, esta situação, além de contribuir para acumular passivos ao setor, que já tem muitos passivos acumulados, vem aumentando como uma bola de neve. “Todos estão vendendo aquém do que venderam no ano passado e com um custo ainda maior. É evidente que há alguns produtores em boa situação, mas a maioria passa por dificuldades. O certo é que todos estão vendendo em condições piores do que venderam no ano passado”, analisa.
De acordo com o presidente do Sindicato Rural de Tapes, Juarez Petry de Souza, o que ainda tem garantido alguma liquidez ao produtor é o cultivo da soja no sistema de rotação de culturas com o arroz, pelo menos para aqueles que adotaram este sistema e cultivo: “Uma grande parte dos produtores já pensa em reduzir a área plantada para a próxima safra e mudar para a soja”, estima.
RETROCESSO
O presidente da Federarroz, Henrique Dornelles, lembra que recentemente, em 2013, o setor passou por um processo de renegociação das dívidas. “É como se tivéssemos retrocedido dois anos no tempo. Entretanto, temos a convicção da necessidade de buscar um ponto de equilíbrio, pois estar constantemente pautando todo o setor em função do endividamento dificulta o planejamento futuro e todo o trabalho que está sendo feito para desmistificar velhos predicados”, pontua.
Conforme o dirigente, mais do que nunca, o planejamento será fundamental para manter a saúde financeira da propriedade: “O produtor deve preservar a liquidez, planejar e cortar custos, pois se esta safra foi cara, a próxima deverá ser ainda mais”, prevê Dornelles.