Olho dentro e fora da porteira
A região central do Rio Grande do Sul detém três importantes exemplos no meio orizícola gaúcho: altas produtividades na zona colonial, o pioneirismo da mecanização da lavoura e também a criação da primeira associação de arrozeiros do estado, a União Central de Rizicultores (UCR). Por fatores como estes, os produtores da região se mantêm detentores de tecnologias que garantem alta produtividade e bastante politizados. Um dos exemplos de arrozeiros que estão com um olho na lavoura e outro na política setorial é o vice-presidente do Sindicato Rural de Cachoeira do Sul, vice da Cooperativa Agrícola (Coriscal), ex-conselheiro do Irga e ex-presidente da UCR, Enídio Vogel.
Nos 110 hectares de arroz que planta anualmente na sua propriedade, no distrito do Capané – tomando água da Barragem do Capané, pertencente ao Irga -, o produtor costuma tirar uma média de 6,5 mil quilos de arroz por hectare. "Procuro estar sempre bem informado sobre a tecnologia disponível", explica. Para a lavoura que formou na safra 2001/2002, o agricultor utilizou as variedades Irga 417 e 419, além do BR-Irga 410, que considera muito rústico e produtivo.
Pelo exemplo de administrar austeramente e com competência sua propriedade e ao mesmo tempo engajar-se nos movimentos setoriais, o produtor ganhou a condição de uma das vozes mais respeitadas em Cachoeira do Sul na hora de discutir arroz. Da produção à comercialização, discute infestação de arroz vermelho, a CPR, os contratos de opção com recompra e toma chimarrão com os funcionários falando sobre a reforma de um trator.
ROTAÇÃO – Na lavoura, o arrozeiro trabalha com dois cortes, plantando no sistema de cultivo mínimo ou direto, com trabalho de verão, quando deixa um corte pronto, entaipado e envaletado. "Pela questão econômica, estou adotando, nas áreas mais favoráveis, rotação com soja", revela.
O que pensa Vogel
Futuro incerto e esperança de melhora
• "A safra 2001/2002 começou arrepiando a espinha dos arrozeiros. Na entrada, o preço despencou R$ 4,00 em 15 dias, sem lógica nenhuma, tornando qualquer prognóstico de preços apenas um chute. O futuro é incerto".
• "Três fatores podem ter influenciado decisivamente a despencada dos preços: vendas antecipadas para a indústria a preços baixos, como forma de assegurar dinheiro e viabilizar a colheita, triangulação dos países do Mercosul, trazendo estoques excedentes dos Estados Unidos e Ásia para introduzir no mercado brasileiro, e, ainda, uma vazão nos estoques reguladores do Governo Federal. A expectativa, porém, é de que na metade final do segundo semestre os preços reajam".
• "Os estoques de passagem são os mais baixos dos últimos anos, os números iniciais da safra não estão se confirmando e isso vai mexer com o mercado. O problema é que poucos produtores terão fôlego para chegar lá. Cerca de 40% da safra gaúcha, que deverá totalizar 5,3 milhões de toneladas este ano, costuma ser comercializada nos primeiros meses após a colheita. Aí que entra o Governo Federal com os mecanismos de comercialização. Mais uma vez o produtor só ficou sabendo dos mecanismos disponíveis quando já estava colhendo".
• "Dará bom resultado o sistema de contrato de opções com recompra. Acredito que vá segurar os preços inicialmente, mas os produtores têm que reeditar o sistema do ano passado, quando seguraram a produção ao máximo para comercializar, garantindo uma remuneração mais justa"
• "A médio e longo prazos, a lavoura arrozeira nacional não sobreviverá se a tributação que pesa sobre ela permanecer inalterada. Ou muda, ou não haverá mais alternativa"