Órgãos estaduais avaliam nível reduzido de barragens gaúchas
Situação de falta de água preocupa muito a lavoura de arroz, principalmente na Campanha gaúcha. Esta será a terceira safra com com mananciais baixos no Rio Grande do Sul.
Órgãos estaduais avaliam nível reduzido de barragens
O Programa de Captação e Manejo da Água da Chuva é um dos principais instrumentos do plano de ação preventiva deflagrado para evitar prejuízos futuros à agricultura e ao serviço de saneamento básico, decorrentes de irregularidade nas precipitações.
A última ocorrência de estiagem em território estadual deixou um saldo de 450 municípios em situação de emergência e 60 cidades – 22 servidas pela Corsan – com racionamento de água, causou perda de 66,7% (6,1 milhões de toneladas) da safra agrícola e exigiu investimentos de R$ 6 milhões na prospecção de mais de 300 poços artesianos.
O programa oficial incentiva a abertura de microbarragens, a infiltração de água no subsolo e a construção de reservatórios, “alternativas boas e baratas, que não comprometem os mananciais hídricos”, afirma o governador Germano Rigotto.
As chuvas que atingiram as regiões da Fronteira Oeste e da Campanha no último final de semana foram insuficientes. Com barragens e rios muito abaixo da média ideal, a situação começa a ficar preocupante para o plantio da próxima safra de arroz. Em Uruguaiana, de acordo com os dados da Estação Experimental da Fundação Estadual de Pesquisa Agropecuária (Fepagro), choveu 40 milímetros. Segundo Gustavo Hernandes, agrônomo do Instituto Rio-Grandense do Arroz (Irga), os reservatórios estão começando a acumular água.
A Região da Campanha apresenta o caso mais crítico. As barragens em Dom Pedrito ocupam apenas 5% da capacidade, e a precipitação de 30 milímetros no final de semana não foi suficiente. O agrônomo do Irga Eloy Cordero explica que para encher as barragens do município seriam necessários 1.300 milímetros. Neste ano choveu apenas 460 milímetros.
O volume não é o adequado para todo o plantio, que se inicia em outubro. Caso o quadro não se altere, Cordero acredita que na próxima safra haverá redução de 30% na área plantada de arroz só em Dom Pedrito, em decorrência da falta de água para irrigação. Na barragem de Chasqueiro, em Arroio Grande, 45% do volume útil está ocupado. Já em Cachoeira do Sul, a barragem do Capané opera com 40% de sua capacidade.
Especialistas em condições climáticas, como Paulo Etchichury, da Somar Meteorologia, avaliam a situação como idêntica àquela registrada no ano passado: com as poucas chuvas do verão, os reservatórios ingressam no outono e inverno com níveis reduzidos.
– A baixa precipitação resulta do La Niña, que atingiu o Estado em 2005 – explica Etchichury.
O fenômeno motiva índice pluviométrico abaixo da média há sete meses.
– Daqui para diante, as frentes frias serão mais freqüentes no Rio Grande do Sul, fazendo-se acompanhar de mais precipitações – ressalta Etchichury.
O meteorologista confirma que o La Niña está em ritmo de enfraquecimento, com expectativa de reposição gradual das chuvas, embora sem grandes quantidades, havendo a recuperação dos níveis de rios e barragens.
As bacias hidrográficas do Rio Grande do Sul servem como base para o planejamento e a execução do Programa de Captação e Manejo da Água da Chuva, que compõe o plano integrado de recursos hídricos e de uso do solo, visando ao aumento da oferta hídrica para o consumo humano, a dessedentação de animais, o cultivo agrícola, a recarga de aqüíferos, a prevenção e a recuperação ambiental de áreas degradadas.
A captação da água pelas cisternas ocorre por escoamento da precipitação por calhas e telhados. Quanto maior a área de captura, maior o volume de água armazenada.
A construção de cisternas e microbarragens é incentivada pela linha de crédito oferecida pelo Banrisul, com recursos do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), dirigida a pequenos agricultores. O valor a ser financiado corresponde ao desembolso com aquisição de material. O custo dos sistemas é 80% mais barato que a implantação das caixas d’água de fibrocimento convencionais.
Além disso, não há despesa com mão-de-obra, disponível pelo Comando Militar do Sul, através do Batalhão de Engenharia do Exército. O primeiro passo consiste em solicitar a montagem de um projeto específico à equipe da Emater em seus municípios de origem.
– A instituição funciona como porta de entrada, analisa a viabilidade da construção e monta planilha de custos com o orçamento das opções disponíveis – afirma o coordenador do Programa Estadual de Captação e Manejo da Água da Chuva, Sérgio Sady Musskopf.
O técnico da Secretaria da Agricultura e Abastecimento ressalta que o programa inclui, ainda, armazenamento de água mediante infiltração de água no solo e microbarragens.
– Trata-se de um buraco cavado no solo, com paredes de, no máximo, 45 graus, revestidas com lona preta de 200 micra e coberta por uma camada de terra – explica Sérgio Sady Musskopf, que faz referência especial à parceria com a Defesa Civil e a Secretaria da Educação.
O trabalho conjunto envolve conscientização dos pequenos consumidores de água, alertados para a necessidade de preservação dos mananciais e do manejo sustentável da água, desde logo fazendo parte dos currículos nos diversos níveis de ensino e do treinamento dos futuros agricultores.
– Quanto mais cedo o jovem tiver contato com a realidade, sendo chamado a participar, a compreender e a valorizar a importância da água, antes atingiremos o ponto de equilíbrio e de respeito para com a natureza, concebendo-a de forma integrada na bioética ambiental, afirma Musskopf, que, nesta quinta-feira (29), em Porto Alegre, preside nova reunião do Conselho Operacional do Programa Estadual de Captação e Manejo da Água da Chuva.
O colegiado de 14 membros vai avaliar os resultados obtidos desde dezembro, quando foi constituído, com a adoção das medidas de emergência.