Os desafios da soja na várzea

 Os desafios da  soja na várzea

Clima atrapalhou o cultivo, mas áreas do Projeto Soja 6000 alcançaram bom rendimento

A primeira safra
do Projeto Soja 6000
foi desafiada pelo El Niño
.

 A safra da soja em terras baixas gaúchas em 2015/16 se caracterizou pela incidência de El Niño, o maior dos últimos 50 anos, afirma o chefe da divisão de pesquisa do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga), Rodrigo Schoenfeld. Com isso, os problemas da cultura da soja conduzida em rotação com o arroz irrigado aumentaram, o que comprometeu muito a qualidade e a produtividade do grão principalmente nas regiões mais atingidas pelas chuvas, como a Zona Sul e a Campanha, ocorridas no final do mês de março e abril de 2016, quando a lavoura da oleaginosa estava em plena colheita.

“O produtor precisa estar atento aos riscos com a cultura e evitar plantar em áreas marginais, de baixa fertilidade e que podem ser alcançadas por enchentes”, diz Schoenfeld. Segundo ele, as áreas de várzeas marginais precisam ser reavaliadas pelo produtor quanto aos alagamentos e condições de drenagem. Para a soja, o estresse hídrico por excesso pode ser maior do que por falta de água, dependendo da circunstância.

Apesar de 2015/16 se mostrar um ano difícil, foi a primeira safra do Projeto Soja 6000, lançado pelo Irga e parceiros, o que ajudou a segurar a produtividade nas áreas de projeto conduzidas em lavouras de algumas regiões, como a Fronteira Oeste, Campanha, Depressão Central e Litoral Norte do Rio Grande do Sul. Até o fim do mês de abril tinham sido colhidas 14 áreas do projeto e a média dessas áreas era de 78 sacos por hectare e as de maior produtividade em torno de 90 sacos por hectare. “Novos patamares, quebra de paradigmas. Estamos diante de uma nova realidade para a soja cultivada em rotação com o arroz irrigado”, conclui Schoenfeld.

O Soja 6000, na sua essência, é um programa de transferência de tecnologia que segue exatamente o mesmo modelo do Projeto 10 do Irga, de difusão produtor a produtor, no qual os técnicos do instituto e as empresas parceiras conduzem junto com os agricultores áreas demonstrativas que variam entre cinco e 10 hectares nesta safra. Nelas são aplicadas as principais práticas de manejo desenvolvidas pela pesquisa e que são utilizadas em roteiros técnicos nos quais o agricultor e seu consultor são os agentes de mudança.

“Entre os fundamentos do Soja 6000 podemos destacar a época de semeadura, pois acreditamos que este será um divisor de águas, como foi no arroz irrigado”, ressalta Schoenfeld. Os trabalhos realizados pela pesquisa mostram que os maiores rendimentos são obtidos para semeaduras entre a segunda quinzena de outubro e primeira quinzena de novembro. As outras práticas são escolha de cultivares, calagem e adubação, drenagem, plantabilidade, monitoramento, controle de pragas e doenças e irrigação.

Na pesquisa, várias ações são desenvolvidas. No Irga, o projeto para soja já tem 11 anos. Um dos principais trabalhos desenvolvidos nos últimos dois anos é o zoneamento agroclimático da cultura para a região 101. É conduzida uma rede experimental em oito locais do estado com diferentes grupos de maturação da oleaginosa, que vão de 4.8 a 8.2, em três épocas de semeadura (outubro, novembro e dezembro) buscando identificar em cada região arrozeira os melhores ciclo e época para a semeadura.

Esses resultados servirão de base à proposta de extensão do zoneamento da cultura para municípios como Mostardas, que cultiva 4 mil hectares de soja em rotação com arroz com produtores colhendo mais de 80 sacos por hectare e fora da zona indicada, e Santa Vitória do Palmar, onde a superfície plantada ultrapassa os 20 mil hectares.

Entre os desafios do projeto está a obtenção de cultivares mais adaptadas ao excesso hídrico no solo depois da TEC Irga 6070 RR, lançada pelo instituto em parceria com a CCGL TEC. No último ano, o programa de soja da CCGL foi adquirido pela Bayer. A nova parceria possibilitou o desenvolvimento de nova cultivar – uma BS Irga com potencial de produção 10% a 12% maior, a mesma resistência da TEC Irga 6070 RR ao excesso hídrico e com a tecnologia Intacta -, que será apresentada aos produtores durante o 2º Encontro Soja 6000, que ocorre nos dias 20 e 21 de junho, em Santa Maria. Segundo Schoenfeld, para o próximo ano já estão confirmadas 50 áreas para o projeto em todo o estado.

 

Rodrigo Schoenfeld e consultor Rodrigo Amaral na área do produtor Elcio Moro. Projeto Soja 6000, Dom Pedrito, 93,7 sacos por hectare

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