Os desafios do milho na várzea

O cultivo do milho na rotação de culturas em áreas de arroz irrigado apresenta um grau de complexidade superior ao da soja por ser mais sensível aos estresses hídricos e às variações climáticas. No entanto, ensaios conduzidos pelo Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga) mostram que é possível produzir 10 toneladas de milho por hectare em várzea, usando o pacote tecnológico disponível.

O assunto não é novo. Os primeiros experimentos com a cultura em áreas de arroz irrigado tiveram início na década de 1970, com o Irga e a Embrapa, mas sem grande sucesso. “Com a retomada das pesquisas com o milho pelo Irga, nesta safra, inicialmente diagnosticamos o porquê do projeto não ter tido o sucesso esperado. E foram três os motivos: água de mais ou de menos, controle de plantas daninhas, principalmente arroz vermelho – porque trazíamos uma alternativa para várzea que no final terminava sujando mais as áreas -, e também o controle de pragas, como, por exemplo, lagarta do cartucho”, descreve o pesquisador Rodrigo Schoenfeld, do Irga.

Além disso, segundo ele, havia questões fora da porteira, entre elas a oscilação de preços, que não diziam respeito à pesquisa diretamente, mas que terminavam inviabilizando a iniciativa. “Como enfrentamos essas questões no novo projeto, água de menos, com o milho irrigado, por sulco ou aspersão, em relação ao excesso de água – milho cultivado em microcamalhões, alternativa consolidada com a soja e adotada em outros países, como os Estados Unidos -, e para enfrentar os problemas de plantas daninhas e pragas, optamos pela tecnologia mais eficiente e viável: milho Bt e RR”, informa.

Conforme Schoenfeld, os ensaios nessa safra avaliaram quatro híbridos comerciais semeados em duas épocas: preferencial, no final de setembro, e tardia, em novembro, com e sem irrigação. “No caso do irrigado, variamos entre a irrigação por aspersão e por sulco, o que, no meu ponto de vista, é o grande negócio da várzea. O produtor de arroz já dispõe da estrutura de bombeamento, irrigação e drenagem, que, em muitos casos, está ociosa. Então, cabe a nós da pesquisa viabilizar essa alternativa”, aponta.

Resultados iniciais entusiasmam
Os ensaios foram conduzidos em Cachoeirinha, Cachoeira do Sul e Santa Vitória do Palmar, nas estações experimentais do Irga e nas unidades de observação em Agudo, Camaquã, Restinga Seca e Santa Vitória do Palmar. Os resultados, de acordo com o pesquisador Rodrigo Schoenfeld, do Irga, estão sendo muito promissores (ver quadro). “Concluímos que é plenamente possível produzir 10 toneladas de milho por hectare em áreas de arroz irrigado. O microcamalhão se mostrou eficiente no controle do excesso hídrico. A tecnologia RR, com o uso de glifosato mais atrazine/cimazine, se mostrou eficiente no controle de plantas daninhas. Também observamos que a irrigação complementar é o fator fundamental para altas produtividades”, enumera Schoenfeld.

Outro fator determinante para a obtenção de altas produtividades, na análise do pesquisador do Irga, é a calagem e adubação, principalmente de cobertura. Ele acrescenta que os ensaios também mostraram que a tecnologia Bt é uma ferramenta eficiente no controle de lagarta do cartucho e que, com irrigação complementar, é possível aumentar a densidade de 6,0 para 8,0 plantas por metro quadrado. “Há evidências de que é viável tecnicamente o cultivo de milho em camalhões e com irrigação complementar”, diz.

Schoenfeld reconhece que são muitos os desafios para a expansão da cultura do milho em área de várzea. “Temos mais dúvidas do que certezas. Porém, é importante que o produtor enxergue ‘esse milho como nosso’ e não como ‘o milho do Irga ou o milho do Rodrigo’. Desta maneira, com mais instituições de pesquisa e produtores se juntando ao projeto, mais rápido essa tecnologia poderá ser viabilizada. E isso trará grandes benefícios não apenas para os produtores, mas para a agricultura do RS”, prevê.

Terras baixas: grande resposta das variedades e híbridos de milho

Objetivos do Irga com o milho em áreas de arroz irrigado:

1- Produzir 10 toneladas de milho em áreas de arroz irrigado usando todo o pacote
tecnológio disponível;

2- Controle de arroz vermelho;

3- Rotação de culturas na essência da palavra: arroz-soja-milho e pastagens,
viabilizando a pecuária para evitar os problemas decorrentes da monocultura (o
arroz cultivado de forma contínua e a monocultura da soja no planalto);

4- Integração lavoura-pecuária, por ser o milho a única cultura capaz de atender
a demanda de alimento em quantidade para viabilizar a pecuária principalmente
no verão, quando 1/3 da área é cultivada com arroz e 1/3 com soja (alimento
abundante e de qualidade em pequena área).

Irrigação e drenagem determinam boa parte dos resultados