Os invernos estão mais quentes no Rio Grande do Sul?
Sabe-se que o El Niño, caracterizado pelo aquecimento anormal das águas do Oceano Pacífico, desencadeia vários distúrbios ao redor do planeta e um deles é o aumento das chuvas no sul do Brasil, sobretudo quando o evento possui intensidade moderada a forte. Mas não é só isso, tem um ponto que é importante para toda a face terrestre: o aumento na temperatura média do planeta Terra (claro que existem variações desse aquecimento, dependendo da região, onde partes aquecem mais que outras).
Aqui no Rio Grande do Sul não é diferente! Geralmente, em anos de El Niño, sentimos que as temperaturas ficam mais altas. Fazendo um retrospecto dos últimos anos das estações outono, inverno e primavera, tem-se que a maioria delas registrou temperaturas do ar superiores à média climatológica.
Vamos primeiro à média climatológica mensal, de março a novembro, conforme a tabela. A faixa de valores em cada mês indica a variação média ao longo de 30 anos (1980-2010) das temperaturas máximas e mínimas. É com base nestes valores que se calculam as anomalias de temperatura máxima e mínima.
Como havia comentado, os anos sob influência de El Niño geralmente são mais quentes, por isso o nosso retrospecto vai iniciar em 2015. Para quem não lembra, a safra 2015/16 foi regida por um dos mais intensos fenômenos da história, o qual gerou várias enchentes e causou prejuízos tanto nas lavouras de arroz quanto nas de soja.
Em 2015, os meses do outono e inverno ficaram com temperatura acima da média devido ao El Niño muito intenso. Já durante a primavera as temperaturas ficaram mais baixas devido ao aumento das chuvas. Em 2016, o padrão do Oceano Pacífico mudou bruscamente para uma La Niña e por isso as temperaturas médias de boa parte daquele ano ficaram bem mais amenas.
Já em 2017, de fevereiro a julho, o Oceano Pacífico ficou com temperaturas com viés positivo.
Na época até se especulou o retorno do El Niño, no entanto, ocorreu exatamente o oposto, quem retornou foi a La Niña, tardiamente, é verdade! Porém, o reflexo daquele aquecimento parece ter se refletido na temperatura média do ar, pois o inverno e a primavera registraram anomalias positivas. Em 2018 o padrão foi um pouco atípico, pois, como se estava sob uma La Niña, esperava-se que a temperatura do ar durante o outono ficasse dentro ou abaixo da média, mas aconteceu o contrário. No restante do período sim, um padrão mais típico de La Niña.
Por fim, em 2019, a pergunta que mais se escutava em junho era “Cadê o inverno?”. Pois bem, assim como em 2015, estivemos sob um outono e inverno com influência de El Niño, desta vez mais fraco, mas nem por isso menos importante… Já se notava no outono que o frio estava demorando a chegar, como mostra o mapa na figura, com as anomalias positivas de temperatura.
O outono teve muita chuva em abril e maio, assim, não dava tempo de as temperaturas baixarem. Já em junho foi o oposto, um sistema de bloqueio atmosférico barrou a entrada das frentes frias e, aí, também as chuvas e o frio. O Rio Grande do Sul chegou a registrar temperaturas superiores aos 30 graus centígrados em pleno junho! Se você verificar a tabela, verá o quanto a temperatura máxima ficou acima do normal neste mês…
Mas nem só de altas temperaturas vivem os períodos marcados por El Niño. No início de julho mesmo, foi registrada a entrada de uma massa de ar polar muito intensa que literalmente derrubou as temperaturas. E mesmo assim a média de temperatura do mês deverá fechar entre o normal ou um pouco abaixo do normal.
De modo geral, o inverno de 2019 deverá terminar com temperaturas levemente superiores à normal climatológica, pois agosto deverá ficar com temperaturas ligeiramente acima do normal entre 0,5 e 1,0 grau centígrado visto que ainda se tem a influência do El Niño.
Para o restante do período, não se tem certeza do que acontecerá, pois o El Niño está em fase final e entraremos em uma condição neutra da atmosfera. Agora, se esta condição de neutralidade tiver um viés positivo, ou seja, águas do Oceano Pacífico um pouco acima da média, pode-se ter uma primavera um pouco mais quente do que o normal.
JOSSANA CEOLIN CERA
CONSULTORA EM AGROMETEOROLOGIA DO IRGA