Para onde vão los hermanos

 Para onde vão los hermanos

Mercado interno do Brasil está atento ao movimento nos países do Mercosul

Argentina aumenta sua área para lavouras de arroz. Uruguai mantém..

Os arrozeiros argentinos devem aumentar em até 10% a área plantada para a safra 2002/2003, segundo dados apresentados por entidades do país à Associação Brasileira da Cadeia Produtiva do Arroz (Abrarroz). Apesar da crise que enfrenta o país, os produtores acreditam que o mercado será remunerador em 2003 e apostam em ganhos com a produção. Sendo assim, a área plantada deve saltar de 125 mil hectares para mais de 137 mil hectares. A produção saltaria de 750 mil toneladas na safra 2001/2002 para 815 mil toneladas na colheita do próximo ano.

O Uruguai deve manter a área de 120 mil hectares plantada na safra 2001/2002. A falta de crédito oficial para as lavouras arrozeiras é o principal motivo. Há risco de redução de até 5% na área e na produção, além da falta de custeio poder interferir na produtividade pela minimização da tecnologia aplicada nas lavouras. Sendo assim, a produção uruguaia não deverá superar as 700 mil toneladas, mesmo volume colhido em 2002.

O Uruguai e a Argentina, que têm grande participação no mercado brasileiro de arroz, precisam compartilhar com os arrozeiros do Brasil a responsabilidade em manter o produto ofertado à medida que houver rentabilidade ou necessidade de abastecimento interno. Além disso, devem emprestar know-how nas exportações internacionais, facilitando o ingresso do Brasil neste mercado. “Eles não podem concorrer com produto mais barato – sem impostos – superofertando arroz no mercado interno”, afirma o presidente da Associação Brasileira da Cadeia Produtiva do Arroz, Artur Albuquerque.

Ele destaca que os vizinhos sempre reclamaram das barreiras sanitárias, fechamento de fronteiras, ações judiciais e outras medidas unilaterais adotadas pelos arrozeiros brasileiros. Argumentam que há prejuízo ao livre comércio do Mercosul. “Hoje, estamos reconhecendo que o livre comércio é legítimo e viável, porém, na condição de maior mercado de arroz do mundo ocidental, com demanda de 11,7 milhões de toneladas, os convidamos a dividir a responsabilidade mercadológica, respeitando o teto do mercado”, explica o presidente.

Se o Brasil produzir 11 milhões de toneladas, está aberto o espaço para o ingresso de 700 mil toneladas de produto argentino e uruguaio no Brasil. “Neste caso, entretanto, não pode entrar um grão a mais. Se mandam, derrubam o mercado”, frisa Albuquerque. O dirigente da Abrarroz ainda lembra que não há medidas compensatórias e o arroz argentino e o uruguaio entram no Brasil com preço altamente competitivo por não pagar CDO, Cofins e ICMS, que oneram o arroz gaúcho, por exemplo, em 10% a mais.

A diferença de preços no arroz deve ser discutida. O produto importado do Mercosul deve entrar no Brasil com o preço do mercado interno. Uma das alternativas para a diferença de 10% seria criar um fundo de compensação, definir uma entidade do Mercosul para administrar este mercado internacional, que poderia financiar pesquisas ou até ofertar subsídios para o ingresso do bloco no mercado mundial, segundo o presidente da Abrarroz. “Se a cadeia produtiva destes países não quiser a responsabilidade, teremos maior força para trancar fronteiras, pois ficará comprovado que o interesse deles é piratear o mercado”, atesta Albuquerque.

 

Mãozinha para exportar
 
Hoje, uruguaios e argentinos mandam 80% do arroz vendido para o Brasil 

Como naturalmente os países do Mercosul produzem mais arroz do que a demanda do mercado interno brasileiro e o Brasil não exporta volumes significativos de arroz há mais de duas décadas, a cadeia produtiva do arroz nacional quer uma contrapartida. Uruguai e Argentina participam do mercado interno brasileiro com o volume de arroz que faltar para atender a demanda, mas, em troca, passam a exportar em bloco o seu produto, contando com lotes brasileiros. O Uruguai é um grande exportador de arroz para a África, para os países árabes e até para a América do Sul, Caribe e Europa. “Eles têm mercado e know-how, e nós temos potencialidade”, afirma o presidente da Abrarroz, Artur Albuquerque.

O dirigente dos arrozeiros gaúchos destaca que quando o Mercosul começou a internacionalizar arroz no Brasil, a exportação era de 70% para terceiros países e apenas 30% para o mercado brasileiro. “Hoje, uruguaios e argentinos mandam 80% do arroz vendido para o Brasil e apenas 20% para fora”, destaca Albu-querque. Em 2002, o índice é de 50%, mas há possibilidade de ingressarem mais 500 mil toneladas. “É bom para todos. O Uruguai inverte seu fluxo e torna-se menos dependente do mercado brasileiro, nós começamos a ter maior participação no mercado mundial, 400 mil toneladas deixam de pressionar os preços internos, os uruguaios recebem dólares para pagar a dívida externa com o Brasil”, afirma.

 

Hora de desconfiar da sorte

O Brasil anda bastante desconfiado com algumas reivindicações dos uruguaios e argentinos com relação ao mercado de arroz no Mercosul. Juntos, os dois países têm 500 mil toneladas de produto da última safra, mas não estão ofertando o produto parce-ladamente, como seria do interesse do Brasil. Pelo contrário, o Uruguai denunciou importação de 30 mil toneladas provenientes dos Estados Unidos em setembro, não confirmada, e pediu a restrição das compras de países que não integram o Mercosul.

Inicialmente, os brasileiros apoiaram a iniciativa e pediram a elevação da Tarifa Externa Comum (TEC) para 35%. Agora, olham com desconfiança. Temem que os uruguaios e argentinos estejam especulando, esperando que os preços estejam supervalorizados para internalizar seus estoques, sem risco de competitividade com outros continentes.

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