Paraguai reage

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Zub: sem travas

 Denis Lichi, ministro paraguaio da Agricultura e Pecuária, esteve no Brasil em abril para uma reunião com a ministra Tereza Cristina em busca de cooperação comercial e científica na produção rural, mas ouviu que há necessidade urgente de rever algumas estratégias com relação ao arroz. Consumindo 160 mil toneladas por ano, o Paraguai deve alcançar quase 1,1 milhão de toneladas produzidas na atual temporada. Guillermo Zub, presidente da Câmara Paraguaia de Industriais do Arroz (Caparroz), esteve reunido com Lichi e pediu a intervenção do político e do governo paraguaio junto ao governo brasileiro para evitar que fossem levantadas travas à importação do cereal guarani. “O Brasil é o nosso principal mercado, cerca de 700 mil toneladas foram enviadas para lá no ano passado”, observou o dirigente para o jornal ABC Color, de Assunção.

Para Zub, não faz sentido que o Brasil imponha barreiras ao grão paraguaio, uma vez que o livre comércio é garantido pelo acordo do Mercosul e os próprios brasileiros estão atrás do produto. Além disso, as maiores empresas e alguns dos maiores produtores de arroz do Paraguai são brasileiros. “O custo de produção e de arrendamento afastou muita gente do Brasil. A lavoura se tornou inviável. Alguns encontraram no Paraguai as melhores condições para produzir”, resume Mário Bergallo, há mais de 10 anos cultivando no país vizinho. Para ele, os custos brasileiros são criados pelo próprio País por políticas tributárias equivocadas e um nível de exigência insuportável pelo agricultor.

No ano passado, pela primeira vez na história, o Paraguai conseguiu exportar 30 mil toneladas de arroz para o Iraque. “Foi um grande negócio, que testou nossa logística e nos fez expandir nossa presença no mundo todo”, diz Bergallo. A operação foi complexa. O arroz foi embarcado em chatas que fizeram o percurso pelo Rio Paraná até a Argentina, onde embarcaram o navio para fazer a travessia oceânica. Em 2018, o país vizinho exportou para 32 destinos, mas o Brasil correspondeu a mais de 70% de suas vendas.

Os brasileiros que plantam no vizinho país destacam o menor custo de arrendamento, energia elétrica, mão de obra e, em especial, dos tributos. Eles enfatizam que o governo paraguaio pouco ajuda, mas não atrapalha, diferentemente do que ocorre historicamente no Brasil, e que o desenvolvimento levado pelo setor arrozeiro a regiões mais pobres do país tem sido fator de melhoria da qualidade de vida também das comunidades, como acontece na Metade Sul Gaúcha e em Santa Catarina.

Disputa por espaço
Com redução de área cultivada constante nos últimos anos, os arrozeiros uruguaios e argentinos observam de perto a contrariedade do Brasil com as importações de arroz do Paraguai. A Argentina era líder no mercado brasileiro e gradativamente perdeu espaço para os rizicultores paraguaios. “As condições de produção e os custos são incomparáveis, é muito difícil competir”, reconhece Daniel Filigoi, dirigente da Associação Correntina de Produtores de Arroz (Acpa).

Alfredo Lago, presidente da Associação dos Cultivadores de Arroz do Uruguai (ACA), que também é brasileiro, não esconde sua preocupação. O Uruguai tem concentrado seus esforços para exportar a uma quantidade enorme de clientes, o Brasil entre eles. A relação entre os preços internacionais e os custos internos tem causado uma perda da rentabilidade e até prejuízos nas últimas safras, o que fez reduzir significativamente a área cultivada.
Ele entende que quando um dos membros do grupo consegue operar com valores muito abaixo dos demais há um desequilíbrio no bloco comercial. Ainda assim, os dois líderes são contrários ao estabelecimento de barreiras comerciais e favoráveis ao livre comércio.

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