Pequenos produtores, grandes desafios

 Pequenos produtores, grandes desafios

Dona Francisca: o arroz como motor do desenvolvimento

Referências em rendimento, Agudo e Dona Francisca buscam o teto de produção.

 Percorrer no verão a ERS 348, que liga Agudo a Dona Francisca, na Depressão Central gaúcha, é uma experiência visual incrível com lavouras de arroz em diferentes estágios de maturação, que vão da tonalidade verde-escuro a amarelo, e espelhos d´água emoldurados por cerros e matas nativas. Ajardinadas e floridas, as residências dos descendentes de imigrantes alemães e italianos que ali se estabeleceram há quase dois séculos guardam as plantações.

Desta região, há décadas, famílias inteiras buscaram a Campanha e a Fronteira Oeste, onde se tornaram exemplos de empreendedorismo. Legítimos filhos e netos dos pioneiros da lavoura de arroz irrigada e mecanizada do Brasil.

Os dois municípios, há meio século, são referenciais em alta produtividade e na alta concentração de produtores, quase todos com lavouras pequenas, até 120 hectares. A Depressão Central, aliás, concentra quase um terço de todos os produtores de arroz do Rio Grande do Sul. Dali partiu o movimento Te Mexe, Arrozeiro e surgiram inúmeras técnicas hoje preconizadas pela pesquisa para altas produtividades.

O PASSADO
Há 25-30 anos era comum encontrar um arrozeiro com 15-20 hectares cultivados que repetia área todos os anos e colhia de 7 a 8 toneladas de grão limpo e seco por hectare, enquanto a média gaúcha não passava de 5,3 toneladas.
E não se queixava. Um saco de arroz comprava um de semente, 10 compravam 200 litros de óleo diesel.

O “colono” ainda mantinha os filhos na faculdade em Santa Maria ou Porto Alegre, tinha um bom padrão de vida e um carro na garagem, ao menos de modelo popular, e máquinas e implementos necessários à plantação. Essa realidade mudou, ainda que os tetos tenham subido. O número de rizicultores no Rio Grande do Sul vem caindo, e com mais intensidade nesta região, embora a área se mantenha quase a mesma. Isso aponta para a saída de arrozeiros da atividade.

Diferentemente do passado, o pequeno produtor com boa renda praticamente não existe mais em Dona Francisca e Agudo. “Hoje é inviável manter uma lavoura inferior a 40-50 hectares e média abaixo de 8 a 9 mil quilos. O custo aumentou muito, o preço caiu, e só se consegue ganhar algo na escala de produção”, reconhece Jaime Alexandre Peserico, que planta nos dois municípios, integra projetos de alta tecnologia, tem média superior a 10 toneladas e faz rotação com soja.

Essa realidade é confirmada pelo agricultor Jair Buske, da Picada do Rio, em Agudo. “Hoje, para sobreviver, o agricultor precisa ter alta produtividade e isso não quer dizer plantar, jogar mais adubo e esperar colher, é preciso associar todo um conjunto de práticas agrícolas e manejo do solo e da cultura que permitam superar os limitantes de produção. Isso exige trabalho, investimento, informação e capacidade de gerar renda”, avisa. Por isso, os produtores da microrregião estão se reinventando, buscando práticas mais eficientes para produzir mais e melhor e sobrevivem ao momento.

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