Percevejo-do-colmo em arroz: manejo integrado como solução efetiva

O percevejo-do-colmo, tibraca limbativentris, é considerado o principal inseto-praga das lavouras de arroz irrigado no Brasil. Em surtos elevados e não adoção de controle, o inseto pode reduzir a produção em até 80%. Embora essa praga tenha apresentado ligeira redução quanto a sua ocorrência generalizada em arrozais do Rio Grande do Sul, tem se observado surtos elevados de modo regionalizado nas últimas safras.

Em 2020/21, há relatos de abundantes surtos em lavouras de Alegrete e Uruguaiana que desencadearam até cinco aplicações de inseticidas.

Tradicionalmente, a ocorrência do percevejo-do-colmo é maior na região da fronteira oeste, pois se beneficia das condições criadas pelas lavouras implantadas sobre um relevo mais ondulado, de grandes áreas ocupadas por taipas próximas.

Importante aliado do Manejo Integrado de Pragas (MIP), o controle químico do percevejo, por vezes, tem sido praticado inadequadamente. Em muitas situações, os inseticidas são aplicados sem aferição da população, promovendo sua utilização preventiva em áreas não infestadas, em épocas e dosagens impróprias. No conjunto desses aspectos, pelo menos os seguintes princípios do MIP são desconsiderados: economicidade, eficiência técnica dos inseticidas e seletividade aos inimigos naturais.

Diante disso, pretende-se abordar, aqui, um conjunto de táticas de MIP apropriadas para o manejo do percevejo-do-colmo e redução sistemática dos surtos nos arrozais. O objetivo é fornecer subsídios efetivos que permitam a adoção de práticas mais condizentes com o MIP em apoio à sustentabilidade da orizicultura nacional.

Monitoramento
O percevejo-do-colmo concentra-se na bordadura dos arrozais (“efeito de borda”) (1) e, mesmo com o desenvolvimento das gerações, não apresenta grande movimentação após a colonização da área. Com isso, o monitoramento deve ser realizado a partir dos pontos de entrada dos percevejos adultos colonizadores, com início a partir dos primeiros estádios do perfilhamento. Medidas de controle são indicadas quando constatada a presença de dois ou mais insetos/m2.

Controle químico
Na fase vegetativa da cultura, entre 30 e 45 dias, encontra-se o período crítico de incidência da praga. Porém, atualmente, é frequente a aplicação aérea de inseticidas em mistura com fungicidas a partir do “emborrachamento” das plantas (~70 dias), quando o percevejo já causou danos econômicos. Assim, alerta-se que a supressão populacional pode ser alcançada se realizada por meio da aplicação de inseticidas na metade da fase de perfilhamento. Nesse período, a lavoura está “aberta”, sendo maior a probabilidade de o inseticida atingir o terço inferior da planta e os percevejos que se adentram entre os colmos nessa posição (1).

Pulverizações no turno da tarde apresentam maior eficiência de controle, pois nesse período os insetos, principalmente os adultos, encontram-se em maior movimentação nas partes superiores das plantas, portanto, mais expostos ao inseticida. Ademais, há potencial para aplicações de inseticidas na bordadura, local onde os percevejos preferencialmente se estabelecem.

Controle biológico
Embora não exista um programa de controle biológico aplicado para o percevejo, é possível preservar e até incrementar o controle biológico natural. Ovos do percevejo-do-colmo são intensamente parasitados por microvespas da espécie telenomus podisi, sendo comum verificar, no campo, taxas de parasitismo de 40 a 80%. Esses parasitoides, porém, são sensíveis à alguns inseticidas. Com isso, é importante a utilização de inseticidas seletivos ou de táticas de aplicação seletiva.

Apesar de o controle do percevejo-do-colmo ser feito por inseticidas de amplo espectro (neonicotinoides e piretroides), formulações à base de acetamiprido têm se mostrado mais seletivas aos parasitoides de ovos comparados a outros neonicotinoides. Aplicações seletivas para inseticidas não seletivos podem ser alcançadas por meio de pulverizações na bordadura para o controle do percevejo, mantendo refúgio aos inimigos naturais no restante da área.

Controle cultural
Pode-se realizar o controle cultural e outras táticas na entressafra. O manejo do percevejo-do-colmo deve começar já no período que sucede a colheita do arroz. A eliminação dos restos culturais com rolo-faca mostrou-se fundamental na supressão populacional da praga, reduzindo mais de 90% de adultos (2) e ninfas (3) da área.

A limpeza de taipas, valas e estradas aos arredores das lavouras para remoção da vegetação ou de qualquer elemento que possa servir de abrigo para os percevejos na entressafra é prática que também contribui na eliminação dos percevejos diapausantes, que são colonizadores da safra subsequente.
Resultados demonstraram que a roçada, sozinha ou associada com inseticidas químicos, da vegetação adjacente às áreas de arroz, realizada entre junho e julho, quando os insetos se encontram estabilizados no sítio de hibernação, reduziu entre 70 e 90% da população dos adultos nos refúgios hibernais.

Juliano de Bastos Pazini, Eng. Agr. Dr.
Pedro Takao Yamamoto, Eng. Agr. Dr.
Departamento de Entomologia e Acarologia, Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, Universidade de São Paulo.

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