Perda de arroz é muito grande. Mesmo!
Autoria: João Paulo Antoniazzi de Moraes e Kurt Löwenhaupt*.
Tem este artigo a intenção de esclarecer melhor a opinião pública, especialmente as pessoas menos ligadas à atividade rural, a respeito da real dimensão das perdas nas lavouras de arroz de nosso município, devido às enchentes e enxurradas ocorridas no período agrícola 2009/2010. As seguidas enchentes junto à Ponte do Fandango e na várzea contígua se tornaram até ponto turístico no final de 2009 e início de 2010.
Na verdade, a população urbana, focada basicamente nos problemas da cidade e ligados à sua atividade, sejam dentistas, engenheiros, advogados, comerciários, comerciantes, militares, taxistas, enfermeiros, estudantes, bancários, pedreiros, funcionários públicos, médicos, donas-de-casa etc., ignora a real extensão do drama dos arrozeiros cachoeirenses.
A par de atualmente constatar manchetes ufanistas sobre superssafra a nível estadual, não se apercebe de verificar no conteúdo do texto e em letras pequenas, mesmo por que não é sua praia, que enquanto o soja e o milho batem recordes de produção, o arroz terá uma redução na produção de 10% no estado!
E mais: a quase totalidade desses 10% de perdas do Estado está concentrada na Depressão Central, com destaque para Agudo, Dona Francisca, Restinga Seca e nossa Cachoeira do Sul. Dos 30.886 hectares perdidos no Estado, 23.437 hectares foram na Depressão Central, e 8.914 hectares especificamente em Cachoeira do Sul! É aqui, em Cachoeira do Sul, o epicentro, por assim dizer, das perdas estaduais!
Depois de tantas reportagens a respeito de perdas, protestos, barreiras, etc., ao longo destes anos todos, foi neste ano de 2010 que, de fato, a maioria dos empreendedores rurais cachoeirenses ligados ao arroz teve as maiores perdas de suas vidas!
E essas reportagens desses anos passados, às vezes exageradas, levaram os cachoeirenses urbanos a nem acreditar em mais uma tragédia anunciada. Cidadãos cachoeirenses, é de fato aqui em nosso Município e em Agudo, Dona Francisca e Restinga Seca que se concentra a maioria das perdas estaduais da lavoura de arroz! Os 10% de fato perdidos, no estado, estão aqui!
E afora equívocos hediondos a respeito de preço da saca de arroz, objeto de polêmica na imprensa há poucos dias, é de se ressaltar que somente se o preço estivesse o dobro poderia compensar as perdas, mas isto nem lógica tem, pois nas demais regiões do estado a colheita foi normal, e o mercado é regulado também pelo poder de compra do consumidor e ainda, e o que é pior, pela internação de arroz do Mercosul. Aliás, em plena safra, verificam-se importações a rodo, desequilibrando totalmente o preço interno.
De outra parte, este artigo se propõe a criar outra polêmica: a da produtividade!
Digamos que um produtor com uma lavoura de 10 hectares colha a cada ano 70.000 kg de arroz, ou seja, 1.400 sacos de 50 kg. Média por hectare: 7.000 kg, ou 140 sacos. Elementar!
Este produtor, na safra 2010, ao perder dois hectares com as sucessivas e mal explicadas enchentes (isto já é outra polêmica), e colhendo 45.000 kg nos oito hectares remanescentes, ou seja, 900 sacos, teria obviamente, para qualquer um de nós, uma média de 4.500 kg por hectare nos dez hectares semeados, ou seja, 90 sacos por hectare. Obviamente para qualquer um de nós, no entanto, o Irga, para elaborar a média de produtividade obtida por este mesmo arrozeiro, não considera as áreas perdidas, mas somente as áreas colhidas, e obtém a média de 5.625 kg ou 112,5 sacos por hectare.
Neste sentido o Irga, para elaborar a média da produtividade obtida pelos arrozeiros flagelados da nossa região, NÃO CONSIDERA AS ÁREAS PERDIDAS, SOMENTE AS ÁREAS COLHIDAS!
Pelos cálculos do Irga, a média de colheita por hectare constante no levantamento de 14 de maio de 10 é de 5.565 kg (vide site da instituição) enquanto na verdade e de fato, é de 4.325 kg por hectare, considerando todas as áreas semeadas perante as áreas colhidas e perdidas no cálculo, como antes reportado no exemplo dos dez hectares!
Tal critério equivocado foi questionado perante o Irga em reunião realizada em nosso município em março passado, sendo então explicado que seria critério da área técnica. Em outra oportunidade, o Diretor da área esclareceu que sempre foi calculado desta maneira, e assim ficou…
Já no início da luta das lideranças locais estas divergências nos números levados para Brasília emperraram algumas negociações, aliás, até hoje pendentes…
Será que não vamos conseguir convergir para os mesmos números algum dia?
* Liquidantes da Cooperativa Agrícola Cachoeirense Ltda (Coriscal)