Perdas e ganhos

Produtores catarinenses sofreram com a
estiagem, excesso
de chuvas e o granizo
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Em seu oitavo levantamento da safra brasileira de grãos, divulgado em maio, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) estima um recuo de 6,4% na produção de arroz catarinense. Segundo a Conab, a colheita deverá ser encerrada com um volume de 1,009 milhão de toneladas, ou mais de 68 mil toneladas a menos do que foi colhido no período 2011/12. A área cultivada se manteve em 150,1 mil hectares e a companhia prevê uma redução produtiva de 6,4% por área, de 7.180 quilos por hectare para 6.723 quilos.

Embora, na prática, a quebra possa ser um pouco maior, com este desempenho o estado mantém o ritmo estável de sua produção registrado ao longo das últimas safras. A diferença em relação aos anos anteriores, no entanto, está na expectativa de produtividade, que pode sofrer uma retração também acima de 6% e, consequentemente, impactar na qualidade do grão. “Boa parte das lavouras que foram semeadas fora do período recomendado sofreu com o frio, com a falta de água para irrigação e o ataque de brusone”, analisa o presidente do Sindicato Rural de Jaguaruna (SC) e membro da Câmara Setorial do Arroz no Mapa representando a Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Santa Catarina (Faesc), Rui Geraldino Fernandes.

Fernandes cita o exemplo das lavouras localizadas na região de Itajaí, norte do estado, que foram bastante afetadas pelas oscilações de temperatura e chuvas acima da média registradas nos meses de janeiro e fevereiro. “As precipitações seguidas de forte mormaço favorecem o surgimento de doenças fúngicas, como a brusone. Na média estadual, as perdas pela doença podem ser estimadas em 10%, mas esta média mascara a realidade, já que em algumas lavouras os danos podem chegar a 40%”, estima o dirigente.

Na região sul a situação foi semelhante, conforme o engenheiro agrônomo da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri) responsável pelo Projeto Arroz na região, Renê Kleveston: “Os produtores do sul catarinense sofreram com estiagem, excesso de chuvas e o granizo durante os meses de reprodução e desenvolvimento da planta. A queda geral, que inclui os municípios da região carbonífera, Vale do Araranguá e da Associação de Municípios da Região de Laguna (Amurel), poderá ser de aproximadamente 20%”, aponta.

Para o gerente de negócios da Cooperativa Agropecuária de Tubarão, Aclis Fortunato, o clima também está sendo o grande vilão desta safra: “Faltou chuva em setembro e outubro, época em que a cultura mais precisava. Em janeiro e fevereiro, as precipitações ficaram acima da média, causando temperaturas mais baixas durante a fase de florescimento da planta. Tudo isso contribuiu para o surgimento de focos de brusone. Com isso, acredito que teremos uma queda na qualidade do grão este ano”, diz.

RECUO
Fortunato prevê que o recuo na produção possa chegar a 100 mil toneladas. “Temos um parque industrial com capacidade para beneficiar 1,4 milhão de toneladas, logo vamos ter que trazer arroz do RS”, calcula. Mas para o representante da Faesc, a perda pode ser maior. “Considerando que em uma safra normal a produção seja de 1,05 milhão de toneladas, este ano, com uma quebra de 100 mil toneladas, acredito que o volume total a ser colhido deverá ser de 950 mil toneladas”, prevê Rui Geraldino Fernandes.

O fato, de acordo com Fernandes, é que as medidas de controle à brusone vão impactar na formação do custo de produção para a próxima safra. “Já foi alto este ano em função da necessidade de três aplicações de fungicida. A boa notícia é que, com os preços na faixa dos R$ 32,00 e R$ 33,00 e com o escalonamento das dívidas, a situação dos produtores está melhor do que em anos anteriores. Creio que este momento marca o início de uma recuperação do setor”, avalia.

FIQUE DE OLHO
O economista da Epagri de Forquilhinha, Joelcy Lanzarini, acredita que a queda prevista na produção de arroz do Rio Grande do Sul, também por questões climáticas, contribuirá para manter o preço elevado na saca de 50 quilos do grão em casca até o final do ano, podendo chegar aos R$ 40,00. “Com menos produto no mercado, o preço se eleva. É a lei da oferta e da procura”, completa.

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