Perspectivas do mercado internacional do arroz

 Perspectivas do mercado internacional do arroz

Patrício Méndez del Villar é analista do mercado internacional do arroz

Autoria: Dr. Patricio Méndez del Villar.

Em 2009, os preços internacionais se mantiveram relativamente estáveis durante quase todo o ano marcado por ligeiras flutuações. Não obstante, no último trimestre os preços sofreram uma alta volatilidade em razão da situação alarmista na Índia e nas Filipinas, onde se anunciavam importações massivas para compensar uma redução significativa da produção (entre 15 e 18% na Ìndia). Alguns operadores do mercado não deixaram de mencionar que nos dirigíamos para uma nova crise mundial de alimentos, com preços comparáveis aos que havíamos visto em 2008.

Estas previsões foram, na verdade, amplamente superestimadas. A maioría dos países exportadores e importadores trataram de não cair na encruzilhada de 2008, evitando anúncios midiáticos de limitações preventivas de exportações ou de compras massivas. As Filipinas foram a única exceção por razões de política interna (eleições gerais em maio de 2010). As licitações lançadas pelo governo filipino para comprar quase 3 milhões de toneladas, ou seja 10% do mercado mundial, em um lapso de tempo relativamente curto, provocaram um pequeno terremoto que se extendeu até mercados distantes na América do Sul, sem conexão aparente.

Em poucas semanas, os preços mundiais se incrementaram em 25%. O retorno aos níveis anteriores (outubro de 2009), e a estabilização dos preços observada durante o primeiro trimestre de 2010, indica que o mercado internacional era, e ainda é, perfeitamente capaz de afrontar demandas adicionais graças aos estoques e à produção mundial, que são suficientes. Por certo, ao final de 2009, Tailandia e Vietnam revisaram seus objetivos de exportação para 2010. Isto tem permitido aliviar as tensões que podíam ser provocadas por causa do prolongamento das limitações de exportação da Índia.

Preços mundiais mais estáveis em 2010 em razão de uma demanda limitada

A estabilidade dos preços mundiais que se tem observado durante o primeiro trimestre de 2010 indica que as condições que levaram à crise mundial de alimentos de 2008 não se haviam repetido para serem capazes de provocar nova tormenta nos mercados internacionais, e isso, apesar das compras massivas das Filipinas e das limitações de exportação ainda vigentes na Índia. Enquanto as perspectivas são de que os grandes pólos importadores, como os principais países petroleiros do Oriente Médio devem manter uma demanda estável, espera-se que as importações africanas possam reduzir um pouco graças ao incremento de produção em 2009/10.

O câmbio no Mercosul, as perspectivas de uma redução da safra brasileira, em razão das inundações que afetaram o Sul do país, podem recuperar um pouco os preços durante o segundo semestre do ano. Pelo lado dos exportadores asiáticos, as disponibilidades exportáveis devem ser incrementadas, especialmente na Tailândia, Vietnã, Paquistão e China.

A elevação dos preços mundiais ao final de 2009 e as antecipações alarmistas de alguns operadores, indicam que o mercado guarda na memória os efeitos da crise de 2008. Portanto, ainda subsiste um clima de desconfiança e de insegurança frente aos principais abastecedores do comércio mundial. Isso indica tambiém que apesar dos estoques e disponibilidade de exportação suficientes, os mercados internacionais e regionais ainda não têm uma capacidade de regulação suficiente para reforçar, de maneira duradoura, a segurança alimentar mundial.

Patricio Méndez del Villar
patricio.mendez@cirad.fr

Pesquisador no Centro Francês de Cooperação Internacional em Pesquisa Agronômica para o Desenvolvimento – CIRAD, França

 

(tradução de Cleiton Santos)

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