Perspectivas para o manejo de insetos-praga na cultura do arroz irrigado no Rio Grande do Sul
Buscar-se abordar o sistema predominante utilizado ao longo dos anos para o controle de espécies de insetos que atacam sementes, raízes, plântulas (pragas de solo), colmos em formação, folhas (pragas da fase vegetativa), colmos já formados, panículas e grãos de arroz (pragas da fase reprodutiva), de ocorrência crônica ou esporádica, com maior ou menor potencial para causar danos econômicos à cultura. Um conjunto de práticas fitotécnicas e fitossanitárias são indicadas para o manejo integrado de insetos-praga do arroz irrigado (MIP – Arroz), porém, historicamente, o método de controle predominante tem sido a aplicação de inseticidas químicos, no tratamento de sementes, diretamente na água de irrigação e/ou em pulverização foliar.
Apesar do controle químico ser um importante componente do MIP – Arroz, com elevado potencial para redução dos danos de insetos à cultura, em muitos casos, é praticado inadequadamente. Em várias situações, os inseticidas são aplicados em épocas não indicadas (misturados com herbicidas ou fungicidas), em doses superiores às necessárias e/ou em áreas não infestadas dos arrozais. Outro aspecto a considerar é que mudanças tecnológicas frequentemente introduzidas nas lavouras de arroz podem facilitar ou reduzir a incidência de insetos-pragas, podendo isso ser demonstrado com base em duas espécies crônicas, das mais prejudiciais à cultura: Oryzophagus oryzae (gorgulho-aquático); Tibraca limbativentris (percevejo-do-colmo).
No caso do gorgulho-aquático, [cujas larvas (bicheira-da-raiz) cortam o sistema radicular, sendo para o controle, a cada safra, adotado, basicamente, o tratamento de sementes, em cerca de 800 mil hectares, cerca de 75% da área cultivada, usando alguns inseticidas cujo uso já foi proibido em outros países] uma redução drástica do nível de infestação tem sido atribuída à redução da espessura da lâmina da água de irrigação, decorrente do aplainamento do solo, à expansão do cultivo em áreas declivosas (“coxilhas”), ao acúmulo no solo de resíduos de inseticidas aplicados às sementes, à rotação/sucessão de culturas que eliminam populações autóctones na entressafra e à irrigação por aspersão.
A bicheira-da-raiz, porém, se mantém mais agressiva ao arroz pré-germinado, podendo reduzir em até 20% a produtividade, principalmente, após a restrição do uso de inseticidas granulados. Para o manejo do gorgulho-aquático são inovações o aproveitamento do residual de inseticidas no solo, em até duas safras após o tratamento de sementes, a recuperação de plantas danificadas pela adubação nitrogenada e a incorporação de resistência genética ao inseto em novas cultivares.
No caso do percevejo-do-colmo [capaz de causar perdas produtividade de cerca de 80%, sendo para o controle, predominantemente, aplicados, via aérea, inseticidas misturados a fungicidas, a partir do “emborrachamento” das plantas, quando o inseto já causou danos], a redução das infestações pode ser obtida via pulverizações de inseticidas, seletivos a inimigos naturais (entomopatógenos; parasitoides; predadores), às margens das lavouras, na fase intermediaria de perfilhamento, quando a primeira geração do percevejo está agregada em plantas com poucos perfilhos (“lavoura aberta”), facilitando o atingimento pelas caldas.
A incidência desse inseto aumenta com o cultivo de arroz na mesma área em safras sucessivas, cultivo sobre taipas e cultivo sob irrigação por aspersão. Há elevado potencial para controle biológico do percevejo-do-colmo, via fungos entomopatogênicos altamente virulentos e com base nas condições micrometeorológicas entre as plantas de arroz irrigado.
O aperfeiçoamento do manejo de espécies de insetos fitófagos tradicionais do arroz irrigado, predominantemente, coleópteros, noctuídeos e pentatomídeos, é possível de ser obtido pela adoção de muitas das recomendações técnicas até então disponibilizadas pelo “pool” de instituições de pesquisa e ensino que apoiam a orizicultura Sul Brasileira.
Essas recomendações técnicas ainda que subutilizadas, podem servir ao desenvolvimento de métodos modernos para a detecção e controle de insetos-praga em áreas orizícolas, baseados em conceitos de otimização, eficácia e automação, apoiando a racionalização do uso de inseticidas químicos. Tal estratégia induziria a um menor risco de surgimento de biótipos de insetos-praga resistentes a tais produtos, garantiria a manutenção e/ou aumento de índices de produtividade e rentabilidade, e a um menor risco de contaminação ambiental e dos alimentos produzidos (“segurança do alimento ou alimento seguro”).
É necessário ainda ampliar o uso de processos e insumos biológicos para diminuir a dependência de inseticidas químicos, em conformidade com desafios da bioeconomia, em prol da sustentabilidades dos agroecossistemas orizícolas.
Sobre novas espécies de insetos que possam surgir nos arrozais do Sul do Brasil, como recentemente é o caso de uma cigarrinha, possivelmente um delfacídeo, devem ser tomados os devidos cuidados quanto à avaliação de níveis de dano, diretos e indiretos, de modo a determinar o real potencial para se tornar uma praga. Evidencia-se que esse processo está sendo devidamente adotado por instituições regionais de pesquisa e ensino.
Percevejo: potencial de gerar até 80% de perdas na produtividade
Gorgulho: danos às raizes da planta