Poder de decisão
Lideranças gaúchas
pedem manutenção
de área no RS, que tem
67% da safra nacional.
O Rio Grande do Sul é o maior estado produtor de arroz, com 67% do volume colhido no Brasil, sete vezes o tamanho da safra do segundo estado do ranking, que é Santa Catarina. A produção gaúcha determina o comportamento do mercado em todo o Mercosul e estabelece o perfil do quadro de oferta e demanda nacional.
Segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a lavoura rio-grandense ocupou 1,066 milhão de hectares na temporada passada e alcançou a produção total de 7,93 milhões de toneladas do cereal, 2,5% maior do que o ciclo anterior. Isso graças à produtividade de 7.438 quilos por hectare. O Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga) identificou uma safra maior: 8,07 milhões de toneladas, produtividade média de 7.497 quilos por hectare e área de 1,08 milhão de hectares.
A safra foi considerada excelente, com ótima qualidade de grãos, mesmo com perdas pontuais causadas pela brusone, uma doença fúngica, e ampliação da presença de arroz daninho resistente a herbicida. Os preços de comercialização, até o início de agosto, mantiveram a rentabilidade do setor, com custo de produção pouco superior a R$ 29,00/50 quilos e preço médio acima de R$ 32,00, batendo em R$ 34,50 líquidos no final de julho nas regiões próximas ao Porto de Rio Grande.
Uma característica importante foi a adoção em larga escala dos cultivos de soja e milho em áreas de arroz, utilizados na rotação de culturas para limpar as lavouras do banco de sementes de arroz vermelho e, também, gerar alternativa de renda aos rizicultores. Por este sistema, o Rio Grande do Sul, que tem 3 milhões de hectares de várzeas sistematizadas para a orizicultura, usou 283 mil hectares com soja e outros 10 mil hectares com milho irrigado.
Para o presidente do Irga, Cláudio Pereira, em 2013 o diferencial foi o preço do arroz, que na colheita já estava 15% mais alto do que no ano anterior. Ele atribui à rotação de culturas esse comportamento, além da safra do cereal ajustada ao tamanho do mercado. “A soja colhida na várzea reduziu a oferta de arroz após a safra e deu fôlego para o rizicultor só ir ao mercado dois ou três meses mais tarde, com liberação gradual de seus estoques”, reconhece. E aconselha: “É importante não deixar para vender o arroz no segundo semestre e buscar fracionar a venda, afim de evitar riscos e manter um fluxo de atendimento da demanda interna”, alerta.
Para Francisco Schardong, presidente da Câmara Setorial Nacional do Arroz, aumentar a área nesse momento é “tiro no pé”. “O arrozeiro lutou tanto por preços compensadores, agora não pode cair num erro histórico de produzir mais do que o mercado suporta, pois daí os preços despencam e voltamos a enfrentar uma crise de comercialização e a depender da boa vontade do governo”, sentencia. O presidente do Irga, Cláudio Pereira, recomenda cautela aos produtores no planejamento da próxima safra. “É preciso cuidar para não aumentar a superfície semeada a ponto de gerar pressão de oferta ao mercado e retirar a rentabilidade do cereal na entressafra ou em 2014”, lembra Pereira.
Apesar do estoque da Conab estar abaixo de 1 milhão de toneladas, o menor da década, um crescimento significativo da área plantada pode trazer implicações negativas aos preços.
FIQUE DE OLHO
O presidente eleito da Federarroz, Henrique Dornelles, defende o uso da soja na várzea pelos arrozeiros, como forma de estabelecer novos parâmetros à comercialização. “Comercializando a soja na safra, ou venda antecipada, o arrozeiro garante recursos para fazer frente aos primeiros compromissos e pode vender o arroz um pouco mais tarde, sem que a maior parte da oferta se concentre nos meses imediatamente subsequentes à colheita”, revela. Segundo ele, os preços do arroz ainda estão nas mãos do rizicultor, e uma forma de não perder este controle é comercializá-lo gradativamente e manter, ou aumentar o mínimo possível, a área cultivada. “Devemos manter a oferta ajustada ao tamanho do mercado”, frisa.
Alívio imediato
Entrou em vigor em agosto a redução de alíquota de Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) de 17% para 12% nas compras de insumos para a indústria do Rio Grande do Sul. A medida do governador Tarso Genro favorece os grupos setoriais da política industrial gaúcha, entre elas o setor orizícola. A diminuição resulta de um trabalho do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES) e a Secretaria da Fazenda. O decreto desonera a produção sem prejuízo da arrecadação de ICMS, a medida em que transfere o recolhimento para a fase de comercialização (diferimento).
Além do arroz, setores estratégicos da economia foram contemplados. A ação fortalece a indústria, estimula negócios entre empresas gaúchas, gera competitividade para atender à demanda interna e o desenvolvimento de setores importantes do estado.
Para o presidente do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga), Cláudio Pereira, também é relevante a ampliação do benefício fiscal para vendas de arroz a outros estados, tornando-o mais competitivo nos embarques para o Sudeste, Norte e Nordeste, frente ao cereal importado ou de outras regiões.
O benefício fiscal passa de 3,5% para até 7% de crédito presumido sobre o valor das compras da indústria ao arroz gaúcho, desde que a empresa não utilize mais de 10% de cereal importado. Segundo Pereira, este alívio fiscal reforça o compromisso do Estado em fortalecer o setor. “A indústria, que sofre com a guerra fiscal, ganha competitividade. E isso se agrega a ações como a capacitação em vendas ao mercado externo”, finaliza Pereira.