Preço da soja repete 2024
Considerando os diferentes acontecimentos mundo afora, era de se esperar preços mais interessantes para a soja brasileira neste início de maio. Mas não é isso que ocorre. Pelo contrário, os mesmos praticamente repetem os valores de um ano antes.
Dentre os motivos para a esperada alta no Rio Grande do Sul — ainda que moderada — estão: uma nova frustração de safra, estimada em cerca de 50% em 2024/25 (sem contar a baixa qualidade dos grãos colhidos); um câmbio com o real significativamente mais desvalorizado — entre 1º de janeiro e 5 de maio de 2024, a média foi de R$ 5 por dólar, enquanto em 2025 essa média subiu para R$ 5,83, o que representa uma desvalorização de 16,6% no período; e uma nova guerra comercial iniciada pelos Estados Unidos, que impacta diretamente a China e suas importações de soja norte-americana, elevando os prêmios nos portos brasileiros. Em 6 de maio deste ano, por exemplo, o prêmio médio em Paranaguá era de US$ 0,35/bushel para maio de 2025, após atingir US$ 0,79 em meados de abril — um contraste significativo em relação aos US$ 0,10 negativos registrados um ano antes.
Mesmo assim, vimos que o preço médio da soja gaúcha fechou a primeira semana de maio em torno de apenas R$ 120/saco, enquanto importantes praças locais ficaram em R$ 118,00 ao produtor, no interior.
Nesta mesma época, um ano antes, a média gaúcha foi de R$ 119/saco, com as principais praças pagando igualmente R$ 119,. Ou seja, em valores nominais, o preço da soja praticamente não registrou aumento neste período de 12 meses. Pior, se considerarmos a inflação do período (5,48% nos 12 meses encerrados em março de 25) há uma perda real superior a 5% no preço da soja.
No restante do país, os preços médios nas principais praças pesquisadas, um ano antes, estavam entre R$ 112 e R$ 120/saco. Na primeira semana de maio de 2025 os mesmos giravam entre R$ 105 e R$ 117/saco.
Ou seja, perdas nominais e reais, com apenas algumas praças conseguindo empatar os valores nominais. O que estaria ocorrendo? Algumas explicações podem ser avançadas. Em primeiro lugar, a safra brasileira, mesmo com a forte quebra gaúcha, deve se configurar recorde, com aumento de 9,8% sobre o ano anterior (segundo a Abiove, a produção de soja 2024/25 deverá alcançar 169,6 milhões de toneladas, contra 154,4 milhões um ano antes). Em segundo lugar, as cotações em Chicago recuaram bastante no período.
A média de abril de 2024, para o primeiro mês cotado, foi de US$ 11,64/bushel, contra US$ 10,28 no mesmo mês de 2025. Ou seja, um recuo de 11,7%. Em terceiro lugar, a China já comprava muita soja do Brasil (cerca de 75% de nossas exportações da oleaginosa vão para o país asiático), não havendo muito espaço para compras adicionais, mesmo diante da guerra tarifária imposta por Trump (os chineses não deixarão de comprar soja dos EUA, mesmo que o volume diminua).
Além disso, a qualquer momento, um acordo entre EUA e China poderá ocorrer nesta área comercial. Enfim, os descontos médios, das empresas compradoras de soja no Rio Grande do Sul (despesas de comercialização e margem de ganho), entre o valor bruto e aquele oferecido ao produtor, que chegaram a 6,9% em abril de 2024, passaram a 8,4% em abril 2025. Pelo sim ou pelo não, o fato é que os preços nacionais da soja em geral, e gaúchos em particular, nesta safra estão longe de pagar os custos de produção totais e, particularmente, os prejuízos provocados por mais uma seca no RS, gerando enormes problemas financeiros (mais uma vez) aos sojicultores. Aliás, os atuais preços, mesmo para quem obteve safra normal, considerando o custo de produção total, estão longe de serem interessantes quando comparados há um ano.
Argemiro Luís Brum
Professor titular do PPGDR (mestrado e doutorado) da UNIJUI, doutor em Economia Internacional pela EHESS de Paris (França), coordenador da Central Internacional de Análises Econômicas e de Estudos de Mercado Agropecuário (CEEMA/PPGDR/UNIJUI).